Em 2012, um ano após chuvas intensas na região Serrana do estado do Rio de Janeiro que mataram centenas de pessoas, foi criado o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação.
A unidade é responsável pelo monitoramento e emissão de alertas a desastres relacionados a enxurradas, inundações e movimento de massa, assim como pelo monitoramento das condições de seca no país.
A explicação sofre essas funções é da pesquisadora do Cemaden Ana Paula Cunha, em entrevista ao programa A Granja na TV, veiculado pela Ulbra TV na segunda-feira, 9.
Ana Paula ressaltou que têm sido mais sucessivas as tragédias climáticas, sejam chuvas torrenciais ou períodos longos de seca.
“Temos tido, sim, o aumento da frequência de chuvas muito torrenciais, com volumes muito grandes de chuvas em períodos mais curtos, e, por outro lado, a recorrência de secas como observado agora em grande parte do país”, destacou.
Ela listou a seca região semiárida nordestina “plurianual muito intensa” de 2012 a 2017.
E neste período a crise hídrica na Região Sudeste, de 2014 e 2015, assim como a grande seca na região Amazônica e do Semiárido nordestino em 2016.
Também a grande seca no Pantanal em 2020, e ainda, no ano passado, a seca desde Acre, Amazonas até estado de São Paulo e Triângulo Mineiro.
E também a atual seca na região central do Brasil.
“Desde que começamos a fazer o monitoramento de seca no Cemaden, esta é a primeira seca que tem durado mais e tem uma cobertura muito maior em relação às anteriores”, relatou.
Efeitos na agricultura
E estas secas intensas e recorrentes promovem efeitos dramáticos aos ambientes de agricultura, mencionou a especialista.
Ana Paula reiterou que “a recorrência de secas em intervalos de prazo cada vez mais curtos contribui para a mudança de clima de longo prazo”.
“As mudanças de clima, geralmente fazemos uma análise com base em dados de pelo menos 30 anos. Então, quanto mais anos secos tivermos na série histórica, isso contribui para um novo padrão de clima. Foi o que fizemos mais recentemente de 1990 a 2020”, acrescentou.
“Com base nestes dados, nós, por exemplo, podemos ver que o Semiárido continua crescendo. Encontramos uma área árida no interior do Semiárido, além de que uma área de clima muito seco, que até então era comum no entorno do Semiárido do Nordeste, agora está presente tanto no norte do estado do Rio de Janeiro como também no sul do Pantanal”.
“E o que significa isso? A concretização destas mudanças de padrão de clima. Então, sim, grande parte principalmente da região central do país, estamos caminhando para um clima mais seco e mais quente. Estamos começando a vivenciar o que a gente falava de projeções de mudanças climáticas lá para a metade do século. A gente começou a ver estes cenários acontecendo”, esclareceu.
Secas no RS
No entanto, Ana Paula esclareceu que as estiagens que assolaram a agricultura gaúcha por três anos seguidos recentemente não têm relação às mudanças climáticas.
Mas sim ao fenômeno climático La Niña.
“O próprio relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostra que algumas regiões do globo já é possível fazer a atribuição da seca às mudanças climáticas. E em outras, não”, explicou.
“No Brasil, por exemplo, este levantamento do IPCC mostra que as secas na Região Central, Nordeste, sim podem estar relacionadas às mudanças climáticas. (mas) Associar um evento específico às mudanças climáticas é bastante complexo, bastante difícil. É preciso fazer várias análises para confirmar isso”, explicou.
“No entanto, a gente sabe que a recorrência, a intensidade e os intervalos curtos de um evento para o outro estão sim relacionados às mudanças climáticas”.
“O La Niña costuma causar secas na porção sul do país, especialmente Rio Grande do Sul. Então, esta seca que durou bastante e, alguns anos depois, veio a grande inundação, está relacionada ao La Niña. É difícil associar que aquele evento estava relacionado às mudanças climáticas. Mas o intervalo curto de um evento para o outro e a recorrência sim a gente pode atribuir às mudanças climáticas”, esclareceu.
Veja a entrevista completa no link abaixo. Assim como mais informações sobre o agro no programa A Granja na TV, da Ulbra TV, edição de segunda-feira, dia 9 de setembro (Canal 48.1 TV Digital e 521 da NET Porto Alegre)