A escassez na oferta de soja argentina tem elevado a demanda pela oleaginosa brasileira no mercado doméstico. Com isso, compradores nacionais têm disputado com estrangeiros, o que acaba por aquecer tanto os preços internos quanto os prêmios externos, conforme relata o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
Produção brasileira
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que haja uma queda de 4,5% na produção brasileira de soja da safra 2023/24 em relação ao ano anterior. Assim o total produzido esperado é de 147,68 milhões de toneladas. Tal número, contudo, pode diminuir ainda mais em decorrência das enchentes que devastaram o estado do Rio Grande do Sul, visto que os impactos sobre a produção gaúcha ainda não foram dimensionados pela companhia.
Greve na Argentina
Uma das razões que tem atrapalhado as vendas dos sojicultores argentinos são as atuais greves por que passa o país. Sindicalistas – historicamente ligados à extrema-esquerda – têm buscado paralisar o comércio na Argentina para, segundo um cartaz de convocação, pressionar o governo eleito há alguns meses a voltar atrás em suas medidas econômicas, por meio das quais o presidente Javier Milei tem conseguido fazer com que o governo alcance o superávit em todos os meses de 2024 (abril foi o quarto mês consecutivo de superávit), feito celebrado pelo Ministro da Economia argentino, Luis Caputo, em sua conta no X (antigo Twitter).
De setembro de 2012 em diante, todos os meses vinham sendo fechados no vermelho pelo governo da Argentina, sendo que a última vez em que um primeiro trimestre inteiro fora encerrado com superávit ocorreu há 16 anos, em 2008, de acordo com a Gazeta do Povo.
Vale notar ainda que a inflação argentina declarada despencou em 2024, chegando a 8,8% em abril sob Milei, ao passo que o acumulado dos 12 meses que precederam a sua posse (em dezembro de 2023), quando o país ainda era governado pela extrema-esquerda aliada do presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, foi de 160,9%.
Mercado argentino da soja em 2024
Somado a isso, há de se considerar também que o sojicultor argentino chegou a receber cerca de US$ 270 por tonelada de soja vendida no começo deste ano, o que é considerado um valor extremamente baixo face aos US$ 350 que eram pagos no mercado de futuros durante o plantio realizado no final de 2023. Tais preços, somados às chuvas na Argentina, fizeram com que esse fosse o período de vendas mais lentas no mercado argentino de soja dos últimos dez anos, tendo ocorrido a comercialização de apenas 31% de uma colheita que era estimada em 49,7 milhões de toneladas.
Apesar de todo esse cenário, porém, uma modesta reação parece despontar com os futuros da soja para julho sendo comercializados a US$ 315 no mercado de Rosário/ARG, segundo a agência Reuters.