As belas lavouras de trigo despertam otimismo por todos os ângulos em que são observadas, seja em 2022 ou para os anos seguintes. A cotação está remuneradora ao triticultor, apesar dos custos de produção; há bons preços internacionais em razão do fatídico confronto na Ucrânia – fato que até pode abrir oportunidades de exportações ao Brasil. Também já ganha dimensão o cultivo do tradicional cereal de inverno em lavouras de ambientes tropicais do Centro-Oeste. Tecnologia para esses lugares quentes já existe. Assim como produtores bem animados
Leandro Mariani Mittmann
leandro@agranja.com
O ambiente está quente para os lados do trigo. O cereal que é o rei das culturas de inverno na agricultura brasileira, mas que, no ranking de relevância econômica, está bem aquém das posições de soja, milho e cana, por exemplo, vivencia momentos promissores. Circunstâncias como a guerra Rússia x Ucrânia, dois gigantes players de produção e de exportação, colaboram para as cotações por aqui estarem bem aceitáveis aos produtores, apesar dos custos de produção. E o confronto bélico ainda abre caminho à ampliação de embarques verde-amarelos. Além disso, o cereal, com uma boa dose de conhecimento & tecnologia já desenvolvidos pela Embrapa, tem se dado bem no clima tropical do Centro-Oeste e do Nordeste.
A Conab estima, em seu relatório mensal de safras de maio, baseado em levantamento de campo de abril, que haverá uma expansão de 3% na área em 2022, para 2,821 milhões de hectares, “que já foi uma temporada com grande destinação de área para a triticultura em âmbito nacional”. E a colheita prevista é de 8,130 milhões de toneladas, incremento de 5,9%, com produtividade 2,8% superior – 2.881 quilos/hectare. E estoque de passagem estimado em 1,208 milhão de toneladas.
Segundo o relatório, a partir da segunda quinzena de abril, a retomada da valorização cambial e o incremento da cotação argentina e da paridade de importação refletiram em valorização do trigo nacional, ainda que não o suficiente para recuperar perdas da primeira quinzena em razão da valorização do real e porque os produtores se voltaram mais à comercialização da safra de verão. “Com isso, no Paraná, o trigo pão PH 78 foi cotado a R$ 93,53 a saca, apresentando desvalorização mensal de 4,92% e, no Rio Grande do Sul, a R$ 94,36 a saca, com desvalorização mensal de 2,2%”, destaca.
O balanço da Conab é positivo. “Existe uma combinação atual considerada atrativa para os produtores do cereal, com bons preços pagos pelo produto, aumento da demanda no âmbito internacional (com os recentes problemas políticos entre dois dos maiores produtores mundiais do trigo: Rússia e Ucrânia) e uma janela de plantio mais favorável do que na temporada passada, sendo alguns dos fatores que corroboram para essa estimativa de aumento na área plantada”, sintetiza o relatório.
Tendência altista
“A tendência é altista para os preços do trigo nos mercados externo e interno, com a ausência da Ucrânia no comércio global e restrições de exportações em diversos players globais, como a Índia”, destaca o analista Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio no relatório Grãos & Insumos: Cenários para o Agronegócio Global e Brasileiro em 2022/2023, de maio. Afinal, Rússia e Ucrânia respondem juntas por 25% a 30% do comércio global do cereal e, naturalmente, têm enfrentado dificuldades logísticas para manter as ofertas para exportações em razão da guerra. Conforme o analista, na Bolsa de Chicago, os futuros com vencimentos em 2022 oscilam entre US$ 12,00 e US$ 12,50 ao bushel, enquanto para 2023 variam US$ 11,00 a US$ 12,40.
Conforme a consultoria, no mercado internacional, as cotações do trigo, assim como de soja, milho e algodão, “seguem sustentadas em patamares elevados”, devido ao prolongamento da guerra e às dificuldades logísticas impostas pelas novas ondas de Covid. E, internamente, a “tendência é altista” para o trigo, assim como para soja e algodão, visto a valorização do dólar associada às cotações globais “firmes”. “No mercado interno, a entressafra doméstica, o custo elevado das importações e o forte ritmo de exportações do grão conferem sustentação aos preços, com viés altista até a entrada da próxima safra”, destaca o relatório. A consultoria é mais otimista que a Conab e estima a área de trigo desse ano em 3,3 milhões de hectares, 20% acima de 2021, a maior desde a temporada 1987/1988. E a projeção recorde de 11 milhões de toneladas.
Liquidez na comercialização
Apenas o Rio Grande do Sul deverá expandir sua área em 20%, para 1,4 milhão de hectares. Os gaúchos estão animados, visto a liquidez na comercialização do cereal para moinhos que industrializam a farinha ao consumo humano, e também para ração de suínos, aves e gado de leite e corte. Além disso, há o direcionamento para a exportação, pois, no ano passado, o estado embarcou 2,6 milhões de toneladas. Os números e estimativas são da Câmara Setorial de Cereais de Inverno e da Câmara Setorial de Cereais, Fibras e Oleaginosas, vinculadas ao Ministério da Agricultura.
Em síntese, espera-se que o Brasil, em breve, diminua – ou mesmo dê fim – à dependência de importações para abastecer o mercado interno. No ano passado, as aquisições lá fora bateram em 6,5 milhões de toneladas, de 85% a 89% trazidas da Argentina. Já as exportações atingiram 3 milhões de toneladas. Mas o trigo que deixa o Brasil é o chamado hard para ração animal, enquanto o utilizado na panificação é o soft, mais produzido em lavouras argentinas, canadenses e russas. Apenas em março, a exportação foi 1.745% superior em volume ao mesmo mês de 2021 (800 mil toneladas ante 45,3 mil) e 1.995% em receitas (US$ 245,5 milhões, contra US$ 12,2 milhões em março/2021).
O trigo tropical promete
Também há números e, sobretudo, expectativas animadoras para a expansão do trigo para ambientes tropicais da agricultura brasileira. A estimativa é que a área 2022 expanda 10%, para 280 mil hectares (28 mil a mais que em 2021) em lavouras somadas de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Goiás e Distrito Federal. Também há boas expectativas em novas fronteiras, como Maranhão, Piauí, Ceará, Alagoas, Pernambuco, Espírito Santo, Tocantins e Roraima, onde estão em curso lavouras demonstrativas e estudos prospectivos com ótimos resultados.
As lavouras em clima tropical produziram, em 2021, 8% do trigo brasileiro (644 mil toneladas), e a Embrapa Territorial mapeou 2,7 milhões de hectares no Cerrado aptos ao cereal. E esse horizonte anima todos os envolvidos. “Em menos de dez anos, o Brasil estará produzindo todo o trigo de que necessita. E também terá ampliado a sua quantidade de trigo exportável”, aposta Jorge Lemainski, chefe geral da Embrapa Trigo, de Passo Fundo/RS. “Neste ambiente, levantamentos feitos pela Embrapa Gestão Territorial, em áreas acima de 800 metros de altitude, com 12% de declividade, incluídos parques nacionais, áreas públicas, estradas e cidades, têm 2,7 milhões de hectares mapeados que já são cultivados com grãos de verão; sem ampliar ou derrubar uma única árvore, é possível ocuparmos isso com triticultura, tanto irrigada como de sequeiro”, descreve.
Lemainski destaca o futuro promissor, visto que no Cerrado brasileiro são 204 milhões de hectares, dos quais mais de 60 milhões cultivados com pastagem e que podem ser usufruídos pela agricultura. “E tem mais de 24 milhões de hectares cultivados com grãos no Cerrado que também podem ser cultivados em parte também com a triticultura”, acrescenta. “Então, este é o potencial”. O executivo esclarece que a Embrapa desenvolveu cultivares especificamente para os sistemas irrigados, a BRS 264, a BRS 254 e a BRS 394, e a cultivar BRS 404 a cultivos de sequeiro com alta tolerância também ao calor e ao déficit hídrico. “Um material que responde muito bem com pouca água, por isso indicado para sequeiro”, afirma.
Desta forma, fica claro que há genética para dar sustentação ao crescimento do cereal no clima tropical. “Em relação a práticas de manejo, temos desde o manejo do solo para o cultivo do grão, e estamos buscando integrar o trigo ao sistema de produção pós-soja, pós-milho, no ambiente do Cerrado, como também as práticas de manejo integrado de pragas”, ressalta. “São tecnologias dominadas no ambiente tropical e subtropical. Como também há os aspectos que envolvem os cuidados na colheita e na pós-colheita. Então, são técnicas dominadas que estão disponíveis a serviço dos agricultores”, acrescenta.
Tri-recordista mundial
O produtor goiano de Cristalina, Paulo Bonato, é um exemplo da realidade e das gigantescas possibilidades do trigo no Cerrado. Por três anos, ele foi recordista mundial em produtividade do cereal. Na safra 2021, com a cultivar da Embrapa BRS 264, em 51 hectares sob pivô, ele obteve 9.630 quilos/hectare, ou 160,5 sacas, mais que o triplo da média nacional. Também foi recordista em 2020: 8.544 quilos/hectare ou 142,4 sacas. O outro feito deu-se em 2017. No ano passado até foi registrada uma produtividade melhor na Nova Zelândia, mas em ciclo bem mais extenso. No caso de Bonato, trigo foi cultivado em 114 dias, ou 80,9 quilos/hectare/dia, enquanto o número de uma propriedade neozelandesa, de 17.398 quilos/hectare ou 289,96 sacas, exigiu 300 dias ou 58 quilos/hectare/dia.
E qual é a explicação para o recorde: “Conseguir extrair o máximo da cultura. Com o tempo, nos aprimoramos mais. Na condução da lavoura, pequenos detalhes agregam à produção, à cultura”, resume. A área destinada ao trigo a cada safra na propriedade de Bonato segue o seu esquema de rotação de culturas sob pivô. No ano passado, ele plantou 204 hectares e, em 2022, são 175 hectares irrigados, além de estar fazendo uma experiência de sequeiro em 83 hectares. O plantio é feito a partir de 20 de maio, e o ciclo fica entre 110 e 120 dias, enquanto, no sequeiro, a semeadura ocorre em março.
Bonato, que é associado à cooperativa Coopa-DF, instituição que tem outros associados triticultores, destaca que a região é promissora ao trigo, sobretudo pela qualidade do cereal. Afinal, um problema crítico que compromete gravemente a qualidade do trigo, a chuva na época da colheita que, inclusive, gera toxinas e impossibilita o grão ao consumo humano, não atinge o trigo local. Logo, quando as colheitadeiras entram, já é o período de seca no Centro-Oeste. “Na região, o trigo é de alta qualidade”, elogia. “O Brasil precisa ser autossuficiente. E depois pensar em exportação”.
Trigo também para suínos e aves
As cadeias produtivas do trigo nos estados da Região Sul trabalham para a expansão da área do trigo para consumo humano, mas também para ração de animais. Afinal, visto a escassez de milho para atender os segmentos pecuários, é possível aumentar a destinação de trigo para fabricar rações. E possibilidades não faltam. Hoje, a Região Sul cultiva 2,3 milhões de hectares com cereais de inverno, mas que podem ser ampliados para 8 milhões de hectares.
E, para incrementar de uma maneira robusta e consistente a produção de trigo e também de outros cereais de inverno nas lavouras gaúchas, foi lançado, em março, o Programa Duas Safras. A iniciativa reúne pela mesma causa várias entidades, instituições e unidades da Embrapa, num amplo empenho para produzir mais e melhor cereais de inverno. Além de criar condições para que os investimentos deem retorno econômico aos envolvidos, conforme a diferente região em que estão sediados. Atualmente, os cultivos desta época ocupam apenas 9% do tamanho da área destinada a cultivos de verão. Ou seja, é possível promover um boom de produção de trigo e outros cereais de inverno como cevada, aveia branca, centeio e triticale em lavouras no verão ocupadas por soja, milho e arroz.
E demanda para as produções de inverno não faltarão, pois a pecuária gaúcha tem mostrado um desempenho inferior em relação à média brasileira. Por exemplo: entre 1990 e 2019, a população do rebanho bovino teve queda de 0,5% ao ano, enquanto, no país, cresceu 1,3% ao ano. Em suínos, o Rio Grande do Sul teve média de expansão de 1,4%/ano, enquanto o Paraná foi de 2,3% e Santa Catarina de 2,9%. Em aves, o estado expandiu a população em 2,36%/ano, enquanto o Mato Grosso ampliou ao ritmo de 7,5%/ano. Uma das explicações para o freio puxado é a oferta de milho aquém do necessário, sem contar que não são raras as ocorrências de estiagens devastadoras, que derrubam a produção de milho.
O coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Guterres Jardim, conta que a proposta foi apresentada à entidade pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), preocupada pela escassez de milho causada pela estiagem no recente verão. A falta de milho compromete o alojamento de aves e suínos no estado e também em Santa Catarina. Por isso, as entidades uniram-se às unidades da Embrapa, incluindo a de Suínos e Aves, de Concórdia/SC, para pensar em como produzir mais matéria-prima de farelos.
“Temos muitas oportunidades no inverno e plantamos muito pouco nessa estação, comparado ao que se planta no verão”, sintetiza Jardim. Ele lembra que, no verão, são cultivados mais de 1 milhão de hectares de arroz, 6,3 milhões de hectares de soja, 700 a 800 mil hectares de milho. Portanto, mais de 8 milhões de hectares apenas das culturas principais; no inverno, explora-se, no máximo, 1,5 milhão. “Então, temos muito espaço para crescer no inverno sem comprometer a próxima safra de verão”, conclui o dirigente.
Assim, com o apoio dos envolvidos “para que não se venda uma ilusão”, define Jardim, a Farsul procurou parceiros para dar suporte logístico e de compra ao futuro aumento da produção. Também foram buscadas multinacionais que se beneficiarão dos grãos, para que se leve o conhecimento aos produtores das diferentes regiões em fóruns, a fim de esclarecer e incentivá-los a ampliar suas áreas, mas com segurança quanto à oportunidade econômica do inverno. O projeto é para dar resultados a médio e a longo prazo, mas Jardim entende que as circunstâncias globais já deixaram os agricultores esperançosos em bons resultados para 2022. “O produtor está muito motivado para essa safra de trigo. Mesmo descapitalizado com a seca do verão, ele vai investir para buscar uma recomposição de renda, mesmo que parcial, e vai aumentar a área de trigo”, entende.
Contratos a R$ 100/saca
Na C.Vale, cooperativa sediada em Palotina, Paraná, e com associados também em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os triticultores já fecharam contratos futuros da safra 2022 a valores superiores a R$ 100 a saca. Para Carlos Konig, gerente do Departamento Agronômico da C.Vale, um valor como este significa “chave mudando”, o que torna o grão “bastante viável” como segunda cultura, sobretudo onde o milho safrinha não é viável em razão do frio, como em regiões mais altas dos três estados. Portanto, a cultura do trigo é a indicação para a época. “Com essa precificação, há uma tendência de aumento da cultura nessas regiões”, estima.
Já em 2021, em regiões que produziram bem em razão do clima, como Bagé e Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul, os triticultores obtiveram uma boa rentabilidade para médias de 80 a 100 sacas por hectare. “É uma produtividade muito acima da média brasileira, de 55, 58 sacas”, avalia Konig. No Paraná, muitas regiões enfrentaram estiagem de junho a agosto, e a produtividade decepcionou e, assim, como consequência, a renda dos triticultores. O trigo é uma cultura muito sensível ao clima, como geadas e chuvas. Muita água na colheita empurra o trigo que seria para panificação à ração animal. “Mas, se o produtor colher uma média produtiva com qualidade, a rentabilidade vai ser muito produtiva neste ano”, ressalta Konig.
A produtividade tem relação direta com a renda do produtor. Para isso, a C.Vale, em parceria com a empresa de genética Biotrigo e com a Suporte Corretora, criou um programa que adapta o trigo à realidade de cada propriedade. Segundo Konig, como não existe uma “receita de bolo” generalizada para a produção do cereal, pelo programa é realizado o diagnóstico de fertilidade do solo, muitas vezes usando a agricultura de precisão, para jamais reduzir o uso de fertilizante, mas, sim, racionalizar o uso do insumo e saber o elemento limitante para a produtividade. “Fazer o diagnóstico de solo e adequar o manejo à propriedade, população, espaçamento, adubação e restante do manejo (como fitossanitário)”, descreve.
Como exemplo, descreve, na fase da lavoura pós-perfilamento e emborrachamento, uma coleta que vai avaliar qual o índice de matéria seca que a planta conseguiu acumular. “Existe uma correlação muito forte se tem um acúmulo de matéria seca e se este trigo vai ser muito responsivo à adubação nitrogenada”, explica. Portanto, se não acumular muita matéria seca, talvez não seja viável fazer a adubação nitrogenada, pois a resposta será nula. E, assim, é possível ao produtor racionalizar o uso do fertilizante nitrogenado. “O projeto traz muito esse critério de diagnóstico de análise de realmente tratar cada área como única, e não como um padrão”, conta.
A produtora de Abelardo Luz/SC, Bibiana Granemann, e o pai dela, Edinei, voltaram a plantar trigo no ano passado, depois de anos. E adotaram o programa já no começo. Nesse cenário, a produtividade foi de 92 sacas/hectare, enquanto a média do município é de 62. Um dos diferenciais da lavoura de 50 hectares foi o espaçamento de 25 centímetros em vez dos tradicionais 17 centímetros. “Compramos a ideia. Foi uma boa produção, foi muito proveitoso. Valeu a pena ter plantado. Um trabalho desses consegue incentivar o pessoal a entrar no trigo novamente”, conta a produtora, que deverá ampliar a área para 120 hectares neste ano.
A rentabilidade também foi boa, visto a compra antecipada de fertilizantes, antes do aumento mais significativo do insumo. “Adubação foi paga antes do aumento”, conta – ainda que a ureia tenha impactado um pouco mais. Já a diminuição do uso de fertilizantes não foi cogitada. “Se usar menos adubação, o verão (safra) vai sofrer. Se você esgota o teu solo, no ano seguinte, vai sofrer um pouco mais no verão”, justifica Bibiana.
A produtora entende que vale a pena “continuar correndo o risco” de investir no trigo. “Melhor que deixar a área ‘parada’, só com cobertura. Se continuar a tirar nenhuma renda daquela área, é prejuízo. Na administração, se você não tiver nenhuma renda, você está perdendo. Às vezes, correr esse risco é interessante”, interpreta. “Que bom que deu certo nesta última safra; espero muito que esta próxima safra seja boa também”. Ela ainda reclama por mais incentivo do Governo para o cereal. “Precisa de subsídio, visto que o consumo interno é grande. Fica mais fácil importar que produzir aqui. Preço mínimo também”.
Produtor não tem “margem para errar” na lavoura
Na Cotrijal, cooperativa sediada em Não-Me-Toque/RS, a cultura do trigo é de enorme importância no sistema de produção. “Com o cultivo desse cereal de inverno, temos a oportunidade de trazer renda às propriedades no período, além de aproveitar a estrutura das propriedades, diluir os custos fixos, não os atrelando apenas para a safra de verão. E também melhorar a qualidade do solo, o manejo de plantas invasoras, dentre outros”, descreve Alexandre Doneda, gerente de Produção Vegetal da cooperativa. Atualmente o cereal ocupa um de cada cinco hectares de verão cultivados pelos associados, e a produção, desde que atenda as características exigidas, é destinada a indústrias no estado.
Conforme ele, a safra do ano passado propiciou “bons resultados” aos triticultores, visto as condições de clima que favoreceram a cultura a expressar bom potencial produtivo, além dos bons investimentos tecnológicos aplicados pelos produtores e da assistência técnica da cooperativa. A produtividade média chegou a 65,6 sacas/hectare. “Outro fator muito importante foi o custo de produção x valor de comercialização da produção que, para a safra 2021, teve a situação de custo menor na implantação. E a comercialização ocorreu em bons patamares de preço, favorecendo a margem”, conta Doneda.
E, para a safra 2022, a expectativa é muito boa. “Teremos incremento na área cultivada em relação à última safra, fortalecido pelos bons preços atuais e, também, pelos benefícios ao sistema de produção. Além disso, outro fator que favorece o aumento de área é a quebra de safra do milho e soja 2021/22, levando a busca do produtor por otimizar os fatores de produção disponíveis”, avalia. “Essa safra que se aproxima está se formando com custos de produção mais altos que a passada. Por isso, é necessário muito planejamento e foco em fazer bem feito”.
Assim, o Departamento Técnico da cooperativa leva “informações assertivas” aos produtores. “Embora os custos estejam mais elevados, é preciso racionalizar o manejo e não racionar. De nada adianta cortar investimento naqueles fatores de produção que são indispensáveis para uma boa produtividade como é o caso dos fertilizantes, por exemplo”, afirma. “Para ter rentabilidade no trigo, é preciso ter também boa produtividade. É preciso ser assertivo no manejo, otimizando – o máximo possível – todos os recursos. Não há margem para errar”.