ILP: fazenda desmama 450 bezerros com o mesmo rebanho

O Grupo CV Nelore Mocho, tradicional na produção de touros melhoradores no interior paulista, completou dez anos de ILP (Integração Lavoura e Pecuária) e na matéria de capa da Revista AG PEC, edição 264, comenta sobre os ganhos que este sistema pode proporcionar ao longo do ano safra.

“Mesmo tendo uma pecuária bem intensiva, estava difícil obter melhores resultados. Por isso, procuramos a Embrapa e resolvemos investir na integração. Nesta fase de implantação, o mais complicado foi dimensionar o projeto, uma vez que cada propriedade tem características diferentes”, lembra Ricardo Viacava, mais conhecido por “Cadão” entre os criadores, diretor do grupo de fazendas.

Segundo Cadão, no momento da transformação, não havia disponibilidade de pessoal para arrendar a fazenda à lavoura. Foi necessário comprar equipamento, trator grande, plantadeira, adubadeira, enfim todos os maquinários exigidos no sistema – totalmente diferente dos existentes em uma fazenda pecuária. Necessitou-se, inclusive, trocar a porteira da propriedade para receber veículos maiores.

Ademais, eles construíram estrutura de barracão para abrigar os maquinários, além de oferecer treinamento e capacitação técnica para os colaboradores. O Grupo também buscou amparo nas empresas da Rede ILPF (Embrapa, Cocamar e Unoeste), que deram suporte técnico na escolha das melhores cultivares de pastagens e grãos para montar o projeto.

Resultados produtivos da ILP

De acordo com o diretor da CV Nelore Mocho, a partir do sistema de ILP, com pastos de inverno e de melhor qualidade, o gado começou a desmamar mais pesado e a ganhar mais peso, principalmente entre a desmama e um ano de idade, passando a crescer, em média, 80 kg na fase de recria a campo em todos os anos.

“Com a melhoria do desempenho entre a desmama e a recria até um ano de idade, foi possível fazer o desafio das bezerras superprecoces, começando a inseminá-las entrando na estação de monta com idade entre dez e 14 meses. Isso trouxe um impacto muito significativo no melhoramento genético. A taxa de desfrute da fazenda também melhorou muito. Foi 4,5% maior. Falamos de cerca de 450 bezerros a mais por estação, com o mesmo rebanho”, explica Cadão.

Além disso, o desempenho dos touros também melhorou. Quando chegavam à idade de serem preparados para o leilão, já estavam com peso adequado, o que reduziu o tempo de confinamento para a preparação do leilão.

Mesma rentabilidade da cana e eucalipto

“A ILP trouxe muitos benefícios, dentre eles o aumento do faturamento da propriedade e a maior diversificação de renda, que dependia quase exclusivamente da pecuária. Atualmente, os grãos representam mais de 50% do faturamento, mantendo praticamente o mesmo rebanho. Melhoramos a taxa de lotação e diminuímos”, diz o pecuarista.

Hoje, a propriedade registra uma produção de soja média de 40 sacas/ha. “Se compararmos com uma produção de grãos dedicada, está bem abaixo da média nacional. Mesmo assim, ela consegue ser rentável, pois essa agricultura ‘subsidia’ a pecuária e traz muitos benefícios indiretos ao sistema. Conseguimos resultados muito expressivos do ponto de vista global. Na média das últimas duas safras, tivemos uma margem de R$ 1.300,00 por hectare, o que é competitivo com outras atividades agrícolas e florestais como cana-de-açúcar e eucalipto”, calcula Viacava.

Grãos da ILP pagam pivô de irrigação

Com os ajustes feitos ao longo dos anos pelo grupo, com mudança da proporção de áreas que entram lavoura e outras lavouras com baixo risco, como sorgo consorciado com capim, elas conseguiram melhorar os resultados financeiros da fazenda. “Com o sistema de irrigação, adquirido graças ao uso da ILP, que nos deu caixa para o investimento, temos a possibilidade de produzir silagem e alimento, além de produzir soja debaixo do pivô”, comemora o diretor do Grupo, que tem propriedades em Paulínia, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio – todas no interior de São Paulo.

Cadão resume a integração como “sustentabilidade ambiental”, porque melhora o meio ambiente por meio da fixação de carbono no solo. É atrativa economicamente e financeiramente, pois aumenta a renda da propriedade, e cumpre seu papel social, gerando mais empregos com maior remuneração aos funcionários.

Esta notícia foi extraída da matéria de capa da Revista AG PEC, de Março de 2023, o conteúdo impresso especializado em pecuária da multiplataforma A Granja Total Agro. Nesta edição, você descobre todos os benefícios da ILP, como escolher as melhores cultivares para o sistema, como deve ser a gestão, sementes mais recomendadas, questões de adubação, quando vale mais a pena comprar ou alugar maquinário e como faturar mais com a venda de créditos de carbono gerados pela integração com a lavoura.