Coluna Total Clima, escrita pela metereologista, consultora de clima para empresas agrícolas, palestrante e com experiência em comunicação multimídia, participante do programa A Hora do Grão, Cátia Valente.
O inverno começou oficialmente no dia 21 de junho no Hemisfério Sul e não veio sozinho. Está acompanhado do El Niño, que se encontra, neste momento, totalmente configurado e instalado, pronto para começar a mostrar a sua influência. Lembrando que o El Niño é o aquecimento superficial das águas do Oceano Pacífico Equatorial e que por ser um evento de escala global, interferindo no clima de várias regiões do planeta.
Aqui no Brasil, ao longo do inverno (junho a setembro), a temperatura é a variável meteorológica mais afetada em grande parte do país. Já quanto aos volumes de chuva, são as Regiões Sul e Nordeste as mais influenciadas pelo fenômeno. Mas vamos por partes. O El Niño está instalado, sim, mas a atmosfera ainda não “responde” a isso. Leva um tempinho para que esse aquecimento no Pacífico consiga se sobressair e passar a influenciar diretamente no clima.
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Essa condição vai começar a ocorrer a partir de julho, ganhando intensidade à medida que o inverno transcorre, e, ao que tudo indica, chegando ao auge ao longo da próxima primavera e com atuação ainda durante o verão 2023/24.
Previsão para os próximos meses
Para os próximos meses, ao longo do inverno, a expectativa é de que as frentes frias passem mais frequentemente pelo sul do Brasil, trazendo as chuvas e sendo acompanhadas das massas de ar polares que favorecem a queda das temperaturas. Porém, temos um El Niño que está ganhando intensidade e, por isso, daqui pra frente as chuvas serão mais frequentes e, possivelmente, mais volumosas.
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Como a umidade deve ser mais constante, a expectativa é de que não se tenha frio muito intenso nem persistente. Ou seja, aqueles dias de céu claro e frio, típicos do inverno, irão acontecer, mas com menor frequência do que ocorre em anos normais. Essa condição deve repercutir bastante nas lavouras de inverno, já que teremos uma maior concentração de umidade e menos frio.
Assim como a Região Sul, o Nordeste brasileiro é também bastante influenciado pelo El Niño, mas no sentido inverso. Ou seja, é a escassez de chuva que predomina em anos de atuação do fenômeno. Ao longo da estação, as chuvas irão diminuindo rapidamente; as temperaturas sobem com períodos cada vez mais quentes e secos, favorecendo um quadro de estiagem generalizada, especialmente no interior nordestino.
Centro-Oeste
Para a Região Centro-Oeste, a influência do El Niño se dá, particularmente, na variável temperatura e, por isso, a expectativa é de termômetros mais elevados do que o normal em toda a região, com destaque para o estado do Mato Grosso. Com isso, a ocorrência de episódios de friagem e geada diminuem bastante se compararmos aos anos de normalidade climática. Com relação à precipitação, o inverno é naturalmente o período mais seco do ano. E com essa condição de dias mais quentes e secos, chama atenção para o aumento do risco de queimadas.
No Norte do Brasil, os efeitos do El Niño serão mais sentidos na região Amazônica, onde a previsão é de chuvas abaixo da média e com as temperaturas mais elevadas. No setor norte é onde tem um pouco mais de chuva, mas ainda assim de forma pontual e sem maiores volumes do que o padrão climatológico. Na região Sudeste, também chama a atenção o quesito da temperatura elevada, que será o destaque por influência do El Niño.
Auge na primavera?
E depois? Se durante o inverno já iremos sentir a influência do fenômeno – e a tendência é de que o El Niño vá ganhando força -, é na primavera que devemos ter o seu auge? A grande possibilidade é de que sim, e que, além disso, ele poderá se estender durante o próximo verão. Sobre isso, vamos falar nas próximas edições. Lembre-se de que você pode, semanalmente, acompanhar mais informações sobre o tempo e o clima no programa a Hora do Grão, no canal d’AGranja Total Agro no YouTube. A gente se vê por lá!