Coluna Agricultura 4.0 escrita pela Professora, doutora em fitopatologia e diretora da Fatec Shunji Nishimura, Marisa Faulin.
Já faz alguns anos que ouvimos falar sobre irrigação luminosa, mas ela ainda é pouco conhecida e tem seu uso restrito. Porém, a cada ano, mais pivôs centrais aderem a essa tecnologia.
Mas, afinal, do que se trata e como funciona?
A irrigação luminosa nada mais é do que disponibilizar – de maneira artificial por meio de lâmpadas – a energia luminosa que a planta precisa no momento da irrigação. Isso é possível devido à fotossíntese que ocorre na clorofila presente nas áreas verdes das plantas. Por causa dela, tais plantas têm a habilidade de fabricar seu próprio alimento. De maneira bastante simplificada, essa habilidade é única e utiliza o gás carbônico (CO2) da atmosfera, mais água (H2O), e, na presença de uma fonte de energia luminosa, produz glicose que é um açúcar e, como subproduto, libera oxigênio e água.
Como vimos, para que ocorra a fotossíntese, é necessária uma fonte de energia luminosa. Antigamente essa fonte era suprida apenas pela luz solar, porém, com o avanço tecnológico, esse princípio agronômico pôde ser manejado conforme o interesse do produtor.
O que precisamos saber é que cada espécie de planta possui necessidades particulares, assim como acontece com os nutrientes, por exemplo, o fósforo, o potássio e o nitrogênio. Cada cultura demanda um tipo de cor de luz, uma intensidade e um determinado número de horas de exposição.
Existe um trabalho de 1964, dos autores Antônio Celso Magalhães e Eduardo Zink, que estudou o efeito da luz artificial no crescimento de orquídeas. Os próprios autores relatam que até aquele ano aparentemente o uso da luz artificial para tal finalidade ainda não havia sido considerado para orquídeas. O melhor resultado observado no trabalho – dentre os vários tipos de tratamento testados – foi a combinação de luz solar complementada por luz de filamento incandescente, proporcionando um total de 16 horas de energia luminosa disponível para as sementes de orquídeas.
Alguns pesquisadores dedicam-se a encontrar a melhor combinação de comprimento de onda, intensidade e lâmina d’água para cada espécie de planta, pois nem sempre a maior intensidade de luz e a maior lâmina d’água geram os melhores resultados. Em algumas espécies arbóreas, por exemplo, num estudo realizado por Leonardo Reis e outros autores, observou-se que a utilização da menor intensidade de luz e a maior lâmina de irrigação proporcionaram maior altura e diâmetro do coleto para as duas espécies estudadas.
Como curiosidade, o diâmetro do coleto (DC) corresponde ao desempenho pós-plantio, onde se pode correlacionar que, quando os valores de DC são altos, geralmente se tem um sistema radicular abundante, o que favorece o estabelecimento e o crescimento das plantas em condições de mato-competição.
Outro exemplo da relação da interação com luz artificial é um trabalho na cultura da soja feito por Dhakal e outros autores. Eles estudaram o uso da luz vermelha nas plântulas de soja e observaram o aumento da resistência dessas plantas contra o apodrecimento.
Um dos benefícios do uso dessa tecnologia é a capacidade de suprir a luminosidade nos períodos em que a luz solar não está presente, como durante o período noturno ou mesmo em dias nublados, para que seja atingida a quantidade de horas de luminosidade ideal da cultura. Outros benefícios também são relatados, como o aumento da produtividade.
Um exemplo ocorreu na cultura da soja, num estudo de caso, no qual, em 100 hectares de soja, foram feitas a irrigação por pivô central e a iluminação por LED no mesmo pivô durante a noite ou em tempo nublado no período desde a florada ao início do enchimento de grãos. Como resultado desse estudo de caso, verificou-se um aumento de 57% nas sacas por hectare. Entretanto, observe que houve irrigação e iluminação em conjunto para gerar esse resultado.
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Não podemos esquecer que já existem os pivôs inteligentes que, além da aplicação e gerenciamento de água tradicional, fornecem dados sobre a saúde das lavouras e o desempenho do equipamento. Isso só é possível pela utilização de uma plataforma de computação em nuvem e de Big Data e Data Science. Com a tecnologia presente nesse pivô, os dados gerados são traduzidos em ações e informações que auxiliam o produtor na tomada de decisão. Tudo isso é possível por toda a pesquisa que dá base para que a tecnologia possa suprir as demandas necessárias.
Como vimos, vários estudos já foram realizados e muito se tem disponível nas dissertações, teses e artigos científicos, no entanto ainda há muito a ser feito. Por isso, as pesquisas não param e as empresas também buscam cada dia mais se adequar ou lançar novos produtos com base em pesquisas. Dentre essas novas pesquisas, estão as culturas da cana-de-açúcar, algodão, trigo, milho, sorgo, soja, feijão, além de olerícolas.
Claro que nem todas as culturas terão suplemento luminoso junto com a irrigação, mas o uso de luz artificial fez ser possível produzir em locais fechados como prédios. Imaginem o que pode ser feito tecnologicamente e produzido com essa associação, ou em locais mais remotos onde se tem pouca luz solar, ou ainda em locais de difícil acesso. Mais uma vez o caminho é longo, mas já temos uma direção.