Coluna Glauber em Campo, escrita pelo produtor rural, presidente da Câmara Setorial da Soja e da Associação de Reflorestadores do MT, e diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira.
A cada ano estamos batendo recordes de produção. O Brasil tem um crescimento médio na produção de grãos na ordem de 9,4 milhões de toneladas ao ano, segundo o presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Paulo Bertolini. Porém, a nossa capacidade armazenadora é de 60% da nossa produção, ou seja, chega próximo dos 200 milhões de toneladas, enquanto a nossa produção chega a 315 milhões. Sendo assim, como o incremento médio tem sido de 5 milhões de toneladas de armazenagem/ano, aproximadamente, o déficit cresce – de forma acelerada – também em 5 milhões de déficit ao ano.
Em virtude de toda essa falta de armazenagem, vemos produtores colocarem milho a céu aberto. Aliado a isso, o tempo de espera de descarga nos armazéns é muito grande e, com isso, para não parar a colheita, o produtor colhe e joga no chão para depois carregar; dessa maneira, a perda é alta. Apesar de termos o silo-bolsa, esse tipo de armazenagem é limitada. Ou seja, o Brasil tem uma enorme oportunidade para exportar milho; temos um potencial enorme de crescimento, mas, hoje, o gargalo da armazenagem nos limita.
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Além de faltar armazéns, esse fator é agravado pela armazenagem nas propriedades ser de apenas 15%. Assim, o produtor tem uma enorme pressão de venda de seu produto, mesmo quando ele está muito em baixa. Afinal, como falta armazenagem, ou você vende para o cerealista ou ele simplesmente não recebe seu grão. Dessa forma, o produtor tem recebido em média R$ 5 a menos por saca de milho. O déficit da armazenagem está espalhado por todo o país.
“Infelizmente, nossa capacidade de crescimento tem sido nosso carrasco, pois produzimos mais, porém sem armazéns os preços são pressionados para baixo“
Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, em que a Ucrânia passa por dificuldades de produção e exportação, o mundo que compra milho olha para o Brasil. Afinal, somos um fornecedor que tem diversos portos, não temos guerra e, acima de tudo, duas safras. Sem falar que temos milhões de hectares de pastagens que podem ser ocupadas com soja e milho. A Ucrânia é um exportador importante, vinha antes da guerra exportando mais de 25 milhões de toneladas de milho, mas agora as previsões já reduziram para 15 milhões. E para o futuro não se sabe o que virá a acontecer. Com essa incerteza toda, o Brasil consolida-se como um exportador confiável e de qualidade. Entretanto, precisamos de armazéns.
O governo federal lançou um plano safra que deve contemplar um incremento de 6 a 7 milhões de toneladas em armazenagem, maior parte dela voltada para a armazenagem nas fazendas. No entanto, infelizmente, ainda o déficit continuará alto e crescente, pois, se houver demanda, poderemos produzir 15 milhões a mais na próxima safra. Contudo, infelizmente, nossa capacidade de crescimento tem sido nosso carrasco, pois produzimos mais, porém sem armazéns os preços são pressionados para baixo.
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Segundo Paulo Bertolini, da Abramilho e da Abimaq, em apresentação que fez no fórum do projeto Mais Milho, os estudos indicam que, para acompanhar o crescimento da agricultura, o volume anual de recursos que deveria ser alocado em investimentos para armazenagem deveria ser de, pelo menos, R$ 15 bilhões. Mesmo assim, seria preciso 20 anos para equalizarmos a armazenagem. Isso considerando que cresceríamos na média os 9 milhões de toneladas por ano, como tem acontecido nos últimos anos.
Outro grande dificultador tem sido a dificuldade de o produtor acessar esses recursos. O processo é bastante burocrático, pois envolve projeto estrutural, de engenharia e elétrica. Quando o produtor consegue se organizar com a papelada, o recurso já se esgotou. Precisaria ter uma forma mais simplificada, afinal financiar uma máquina é muito mais simples. Precisamos considerar que já melhorou, mas ainda é preciso que haja um empenho nas agências operadoras do crédito em priorizar a armazenagem.
A oportunidade para produzirmos mais e mais está aí. Devemos, em breve, nos consolidar como o maior exportador de milho, assim como somos na soja, porém precisamos que todos os agentes busquem que o produtor não seja penalizado pela falta de infraestrutura. É possível diminuir o gargalo, porém é necessário vontade de todos. Não dá para continuar pensando “não se preocupe, pois o produtor vai produzir mesmo sem armazém para guardar”.