Coluna Glauber em Campo, escrita pelo produtor rural, presidente da Câmara Setorial da Soja e da Associação de Reflorestadores do MT, e diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira.
Uma praga comum às lavouras brasileiras durante muitos anos passava despercebida, causando prejuízos pequenos e em poucos produtores. A depender do clima, ela se manifestava mais intensa ou até despercebida. Porém, nestes últimos anos, ela veio tomando força, causando prejuízos enormes, bilhões de reais em produção, além de custos elevados de controle. Uma praga que mobilizou entidades, empresas, governo e pesquisa e, mesmo assim, vem causando terror pela sua dificuldade de controle.
A presença da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é observada nas lavouras brasileiras do cereal desde os anos 1930. Contudo, ela vem tornando-se uma preocupação desde 2015. A praga é muito comum nas lavouras de milho no Brasil. Segundo o pesquisador Charles Martins de Oliveira, entomologista da Embrapa Cerrados, a citada cigarrinha não apresenta riscos caso não esteja infectada pela bactéria molicutes. Quando infectados, os insetos sugam a seiva das plantas de milho e inserem a bactéria causadora do enfezamento.
Entidades reuniram-se e fizeram recomendações básicas para o seu controle ou, ao menos, para a redução do ataque. São diversas medidas a serem tomadas, sendo que uma das mais importantes está em se evitar a existência da chamada ponte verde, ou seja, plantar milho em diferentes estágios do período de chuvas. E, principalmente, controlar a presença de plantas tigueras. Infelizmente, essa medida de controle foi muito negligenciada na última safra, e os resultados negativos podem ser sentidos agora nesta safra.
Medidas como padronização de época de plantio regional, uso de inseticidas adequados, rotação de ativos e plantio de variedades resistentes também seriam ferramentas importantes para o combate da praga. No entanto, o que se tem observado, no campo, é o aumento da resistência das cigarrinhas ao controle de inseticidas, o que tem obrigado os produtores a fazerem várias aplicações sem resultado positivo no controle ou na redução da praga. Especialistas revelam chegar a capturar mais de 400 cigarrinhas por armadilha em lavouras de Mato Grosso. Por conta disso, está sendo montado experimento para selecionar os inseticidas mais eficientes.
Outro agravante, segundo alguns pesquisadores, dentre eles o pesquisador Oliveira, não existem sementes que sejam 100% resistentes. Por isso, recomenda-se que o produtor faça o controle na lavoura quando o milho ainda estiver em sua fase inicial de desenvolvimento, ou seja, até a fase V4. Essas aplicações vão até o V8 com aplicações semanais. Vale ressaltar que, para o inseticida ter eficiência, é preciso seguir a primeira recomendação: que seja feito o controle das plantas tigueras e a redução da janela de plantio para evitar o corredor verde no qual o inseto migra de uma lavoura para outra. Só assim, com a redução do nível de infestação da praga, o produto tem melhor controle.
Os prejuízos podem chegar à perda total. Estranho ver isso em uma praga que, há duas safras, não era tida como um problema prioritário. Mas hoje, pelo nível de população que tem, observa-se que há uma pressão alta de cigarrinha; também vemos uma ocorrência grande de fumagina nas folhas, como ocorre na mosca branca. Além da fumagina, há o fator da cigarrinha como vetor dos molicutes que causam o enfezamento; este, por sua vez, causa prejuízos drásticos à cultura. E, dependendo da quantidade de população infectada no ambiente, podemos ter 10% de perda, 20%, 50%. Podemos ter perda total uma vez que a planta não vai se desenvolver sem formação de espiga e ela seca precocemente.
Os prejuízos podem chegar à perda total. Estranho ver isso em uma praga que, há duas safras, não era tida como um problema prioritário
Glauber Silveira
Um grupo de trabalho (GT) do milho foi criado. Dele, participam empresas de tecnologia, pesquisa (Embrapa) e outras entidades dos produtores como a Abramilho e o Governo. O GT do milho foca em pesquisa para minimizar danos da cigarrinha, como pesquisar híbridos mais resistentes e ações focadas no manejo apropriado. O GT irá trabalhar também com pesquisas, pesquisas de testes e inseticidas que possuem melhor performance para orientar o produtor.
Precisamos estar cientes de que não existe uma solução milagrosa para esse problema, mas que é preciso colocar o manejo da praga como um grande aliado. A cigarrinha é uma grande preocupação e não há solução única para atender todos os produtores, pois existe a questão regional, o clima e a limitação de híbridos e produtos no momento. Entendo que é preciso saber quais são os híbridos que possuem a melhor performance, quais os melhores produtos inseticidas e como iremos manejar isso.
Para piorar o quadro, um ano não é como o outro. Sendo assim, um híbrido que apresentou resistência nesta safra pode não desempenhar a mesma resistência na outra. Carecemos de novos inseticidas, e que estes sejam mais eficientes e tenham um maior residual. Dois produtos novos estão em registro, mas a depender da velocidade do registro no Brasil, alguns anos se vão e bilhões de prejuízos serão computados pelos produtores devido à ineficiência do estado.
Quero encerrar dizendo e reafirmando: é importante que o produtor tenha consciência do controle do milho tiguera. Caso não haja o controle, o produtor pode ter prejuízo nas suas próprias lavouras.