atividade no campo!
Mas, primeiro, é necessário definir um pouco melhor a tal da felicidade. Segundo a filosofia oriental, quanto menos alguém almeja obter, maior será sua chance de ser feliz. Interessante, porém não combina com nossa percepção ocidental, a qual atribui ao sucesso a melhor fonte para satisfação na vida. Por isso, somos bombardeados diariamente com histórias de vencedores que levam seus unicórnios bilionários à bolsa ou de ídolos da geração Millennials que acompanham o passo a passo dos novos viajantes espaciais. Foi o caso dos donos da Amazon, da Tesla ou do sempre excêntrico fundador da Virgin Atlantic, que compartilharam conosco os poucos minutos que ficaram fora de órbita. Um asiático feliz deve pensar: “ainda bem que recebi o vídeo e não precisarei me deslocar de casa para viver o mesmo momento”.
Estudos mais científicos defendem um conceito mais concreto da felicidade. E a colocam como resultado do equilíbrio entre diferentes fatores e ângulos, como nosso ambiente, nossa idade e o prazo da nossa caminhada pessoal e profissional. Essa construção ocorre de forma mais ou menos evidente. Todos temos sonhos – sempre mais emocionais do que concretos. Os mais disciplinados os transformam em objetivos que podem servir como ponto de partida para a formulação de metas. Agora, já estamos mais perto da nossa realidade de produtor rural.
Se aceitarmos a teoria do ‘Princípio de Peter’ (“todas as pessoas chegam, em algum momento, à sua “posição de incompetência”), temos uma base para a fórmula que podemos usar na construção do nosso equilíbrio. Isso porque, mesmo nas áreas onde atingimos bons resultados, seja na cria, na gestão financeira ou na compra e venda de animais, sempre encontramos alguém com números melhores.
Dificilmente, conseguiremos bater os recordes noticiados de 120 sacas/hectare daquela produtora do Rio Grande do Sul ou de 190 litros/dia de leite noticiado na imprensa. Assim, é crucial definirmos, de forma clara e sem entusiasmo, o que realmente podemos conquistar. Se produzimos a média nacional de 75 sacas ou 30 litros de leite por dia, devemos avaliar até quando e quanto podemos evoluir, com quais investimentos em dinheiro, em energia e de tempo. Ou seja, já estamos falar de números.
A pecuária já embarcou no uso de diversos modelos do chamado benchmarking. Trata-se da comparação de índices de performance entre fazendas em circunstâncias semelhantes e em relação à média nacional. Todavia, a felicidade não deve depender do vizinho, mas, sim, de nós mesmos. Temos de começar a praticar um benchmarking interno. Vamos avaliar o que temos, como evoluímos ao longo dos últimos anos e se atingimos, ao final de 2021, o que planejamos em dezembro de 2020.
Não é um exercício fácil, pois temos que excluir os impactos de eventos inesperados como a oscilação forte do preço da arroba, uma verdadeira montanha russa. Entra também o aumento exagerado no preço dos insumos, bem como o encolhimento da demanda interna de carne devido à inflação.
Além disso, poderíamos ter tido sorte ou fatalidades com saúde, investimentos errados e uma série de outros fatores inesperados. Vamos, então, sentar com os familiares, nomeadamente com os jovens que dominam melhor os aplicativos, para avaliar “onde”, “como” e em “quanto tempo” podemos melhorar nossos índices sem atingir nossa zona de alto risco (de falha). É sempre bom lembrar que as árvores não crescem até o céu. Consequentemente, temos de analisar, através de planos com números, a solidez de nossas raízes e a vontade de crescer dentro do nosso modelo existente e, também, no contexto do mercado. Quem sabe onde quer chegar (sem exagerar) e mede cada passo vai conseguir criar seu equilíbrio individual entre querer e poder e, assim, construir uma felicidade que é, afinal, o que todos queremos.