
Politicamente tenho procurado me envolver o menos possível com a política brasileira. A verdade é que tenho muito mais pendor para o ensino, para a ciência, para a tecnologia e para as inovações. Esses foram os ramos que mais me atraíram em minha vida profissional. A política eu tenho procurado exercê-la só para atender as emergências que surgem ao longo de nossa existência. Não posso dizer que saí decepcionado do campo político brasileiro. Nem poderia pensar nisso, pois quando fui convocado, procurei exercê-la com a maior discrição. Só me manifestei em momentos oportunos da convocação e procurei compensar a ausência política com uma intensidade de trabalho no campo profissional suficiente para realizar as difíceis tarefas que me propus, junto às ciências agrárias.
Em 1976/77, fundamos, em Brasília, mais sob a inspiração de Aureliano Chaves, o PFL. Fui um dos 36 que assinaram a carta de princípios da nossa entidade, sempre com a preocupação de que ela deveria ter nítidas linhas de definições básicas sem, no entanto, exigir privilégios ou benefícios pessoais. Entendia que o partido político no Brasil deveria ser uma verdadeira carta de princípios onde o cidadão através do seu voto e da sua participação pudessem de fato ajudar o país a se levantar e desenvolver.
Esta é a razão pela qual hoje, cerca de 50 anos depois, estamos vendo o país envolvido em um recorde de mais de 40 partidos, nenhum deles procurando exercer sua doutrina que inspire a cada cidadão que a ele se filia pensar para o bem do país onde vive. É triste verificar que a profusão de partidos hoje existentes só estejam sendo exercidos por cidadãos que não têm a sua pátria como alvo de seus esforços e de suas lutas. Este, no entanto, é um assunto que a minha geração não realizou o que se pretendia: ter uma democracia participativa onde a Nação fosse colocada em primeiro lugar e os interesses e a vaidade teriam de ser secundários na ação de cada brasileiro.
Como constituinte, em 1988, tentamos colaborar com todas as forças partidárias para que a Constituição Brasileira pudesse, de fato, orientar e dirigir o país para encontrar suas verdadeiras e lúcidas obras que melhorassem a vida de cada brasileiro. Muito nos esforçamos, porque uma Constituinte não pode ser feita com o objetivo principal de apagar feitos de um regime militar que se propôs realizar a revolução que o povo brasileiro desejava.
Um país rico de recursos naturais e capaz de ter um sistema produtivo adequado na área da alimentação teria de buscar, como buscou, as soluções pela ciência, tecnologia e inovações. E assim poder nos ajudar a transformar um país importador de até um terço de volume de alimentos que consumia, sofrendo os azares de preços altos de inflação constante e de economia combalida, pois não tinha este país tropical chamado Brasil as mínimas condições para se tornar autossuficiente até na alimentação, e sofria as terríveis causas do desabastecimento e da especulação do bem mais precioso que cada cidadão necessita ter: a sua alimentação.
Para realizar este feito o Brasil se dispôs a convocar sua juventude acadêmica propondo-lhe soluções racionais na gestão e na produção do conhecimento. Inclusive somando num esforço integrado as melhores cabeças que o país possuía e trabalhar no plano estratégico de desenvolvimento de áreas tropicais até então não utilizadas. O treinamento prioritário dessa juventude nos melhores centros internacionais de pesquisas lhes permitiu tomar conhecimento da ciência mundial para a produção de alimentos no seu mais alto grau.
Em cinco anos foram treinados nos melhores centros internacionais e retornaram ao país com capacidade para produzir aqui as inovações necessárias, a recuperação física, química e biológica dos solos inférteis, como no caso do Cerrado. A ciência foi utilizada no seu mais alto grau e trouxe como resultado um aumento espantoso de produtividade das áreas antes vazias, dando-lhes a característica de alta competitividade em quase todos os ramos da produção.
Produzir alimentos mais naturais, sadios, nutritivos e incapazes de atormentar a fisiologia dos animais e dos homens que o consomem foi, sem dúvida, o grande salto que o mundo esperava. Além de melhor qualidade, os preços da nova tecnologia tropical, claramente demonstraram a sua eficiência na disputa de mercado. A oferta constante, nas áreas tropicais permitem até três safras por ano com uso da tecnologia já disponível. Completa-se assim o trinômio qualidade, preço e constância de oferta que levaram o produtor brasileiro em pouco mais de cinco anos realizar o grande desejo do autoabastecimento e ainda se transformar no maior produtor de alimentos que o mundo conhece hoje.
Este quadro político está levando o Brasil de hoje à angústia da incerteza. Caminhamos resolutamente na direção de conquistar o troféu de produção mundial trabalhando incessantemente para realizar as transformações necessárias que as regiões tropicais precisavam para serem batidas. A juventude brasileira está tendo a oportunidade de participar efetivamente deste segundo lance que temos de oferecer ao país.
Se soubermos levar o país para expectativa de um novo celeiro mundial, temos agora que convencer os consumidores do mundo moderno que surge. Se a primeira tarefa de aumentar a produção já foi conquistada temos agora de estabelecer como regra alimentos saudáveis, que garantam a sustentabilidade necessária para que não voltemos a viver apenas um novo ciclo. Esse será o ciclo da prosperidade que deverá atingir todos os cantos, garantindo ao consumidor a oferta de alimentos cada vez mais nutritivos e melhores para a sua saúde.
O tempo que nos separa das eleições terá de ser suficiente para que os nossos agricultores, já vencedores no campo da produção, também o seja definitivamente no campo político, onde a nossa posição não poderá ser ameaçada por nenhuma das correntes ideológicas que eleições passadas tanto nos assustaram. Para mim, essas próximas eleições vão ser a oportunidade do nosso país tomar o rumo que precisa.