Coluna A Hora H escrita pelo Engenheiro-agrônomo, produtor, presidente-executivo da Abramilho e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli.
Cumprimento inicialmente meu amigo Roberto Rodrigues, o nosso anfitrião, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, e através dele nosso caro amigo Jacyr Costa Filho, brilhante coordenador do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, em nome dos quais agradeço a todos os presentes. Meus amigos e companheiros de vida, muito obrigada pela homenagem que me prestam. Estou comovido. Acompanhei de perto o tremendo esforço feito para que o Brasil fosse laureado com o Prêmio Nobel, que não chegou. Com a Ciência do nosso lado, continuamos a acreditar que podemos transformar o mundo em que vivemos. Vivi fato semelhante quando Norman Borlaug me indicou para o World Food Prize, em 2002. O Conselho de sua Fundação levou quatro anos para entender o significado da criação do agro tropical. Só fui laureado em 2006, e por minha sugestão indicaram ao mesmo tempo dois cientistas: um embrapiano, outro norte-americano. Mostrava também que nunca fizemos nada sozinhos.
Iniciei muito cedo e, antes mesmo de receber o diploma de agrônomo, fui incumbido da missão de lutar pela sobrevivência da Esal, hoje Universidade Federal de Lavras/MG. Confesso ter sido uma das mais árduas batalhas vencidas, graças à participação de colegas e da sociedade, que perceberam o tesouro que estava sendo jogado fora. Deus nos ajudou. Foram dez anos de luta, mas o sacrifício valeu a pena. Hoje, os milhares de estudantes da Ufla nos enchem de esperança. Eles contribuem para um mundo melhor.
Nunca reivindiquei cargos ou posições. Sempre fui convocado e fazia questão de saber de quem me convocava, se estava certo da minha competência e capacidade de trabalho. Isso me possibilitou sempre valorizar a competência, seriedade e a capacidade técnica e de trabalho. Por esta razão, sempre tive minhas tarefas facilitadas, pois acima de tudo coloquei a pátria e os desígnios de Deus.
Aprendi com a minha mãe a só usar o que eu possuía, mesmo que sacrifícios existissem. Respeitar o do alheio e o que não era meu, pois Deus sempre supriria as nossas pessoais necessidades. Daí sempre vivi humildemente para o trabalho que me ensinaram e espero ter falhado o mínimo possível. Muito obrigado, minha mãe. Você foi a base da minha existência. Sempre respeitei com orgulho os ensinamentos do meu pai. Suas lições e preceitos. Agora posso avaliar como fui feliz em ouvi-lo. A minha família, minha esposa e cinco filhos, 14netos e já três bisnetos. Vocês constituem a minha única riqueza e felicidade. Meus amigos e verdadeiros irmãos de fé, confiança e trabalho, devo muito a vocês. Que nosso Deus lhes dê a paga que nunca pude fazer. Obrigado, devo meu trabalho a vocês.
Companheiros, este foi o Brasil onde nasci e me criei. Dele me orgulho tanto. Não gostaria que ideias diferentes influenciadas por pitonisas enganosas venham provocar mudanças ideológicas ou políticas que nos tire desta direção. O Brasil está pronto para fazer o futuro chegar novamente. Somos o único país capaz de, em poucos anos, mais do que dobrar a produção de alimentos, sem desmatar uma única árvore, sem destruir um único bioma.
Por isso, é tão urgente depositar um novo olhar, reler o papel do agro tropical muito além da sua tradução convencional em bilhões de dólares ou milhões de toneladas. Temos as respostas rápidas e seguras que o mundo precisa para enfrentar os temas mais críticos, as mais profundas e complexas crises globais da atualidade:
- No combate à fome, a redução do preço dos alimentos, via choque de oferta. Já fizemos uma vez. Não é aventura.
- No enfrentamento da agenda climática, um extraordinário arsenal tecnológico e a visão de que a inclusão social transforma desmatadores em agentes do impacto mínimo da produção de alimentos sobre a natureza.
- Na contenção dos fluxos migratórios forçados, pela geração de renda, emprego e qualidade de vida, em bases sustentáveis, aqui mesmo, na região tropical, de onde ninguém deveria ser forçado a sair se pudesse aqui viver com dignidade.
Leia também: Dia do Plantio Direto – 50 anos revolucionando a agricultura
Essa causa central é a mesma dos jovens, os verdadeiros donos do futuro, com os quais o diálogo passa muito menos pela informação e muito mais pela comunhão de valores. E os valores vêm junto com as entregas reais que fazemos à sociedade. É a causa do planeta: a natureza é nosso ambiente de trabalho, conservá-lo é uma obrigação. É a causa humanitária, das pessoas, objeto maior do processo civilizatório que nos une a todos. É a causa dos investidores, que buscam a segurança da governança ESG. Parece um sonho, é verdade. Mas, no Brasil, estamos acostumados a realizar sonhos.
A participação dos jovens nas reformas é o elemento chave deste sonho. Sem eles vamos reproduzir o modelo gastador, socialmente injusto, administrativamente desorganizado e economicamente ineficiente que impedem o Brasil de ser um país desenvolvido. A primeira reforma tem que ser a política. Partido tem que ter carta de princípios, respeitá-la, ser alvo da fiscalização pelo eleitor. O partido político não pode se transformar em grupos de assalto ao erário publico. A honestidade terá de ser a sua base e o amor à pátria acima de tudo.
A reforma administrativa é urgentíssima. A boa gestão eficiente dos recursos humanos já produziria recursos para atender os mais necessitados. Pasmem, sequer fixamos um teto efetivo para os salários de setor público. A honestidade de um governo começa por aí. Aqui que precisa ser revisto o papel da Embrapa. Antes, uma empresa com missão definida, autonomia técnica e financeira, hoje, prisioneira de relatórios, de uma burocracia interminável, e tendo pela frente os mais inquietantes desafios globais para resolver, sem recursos financeiros pra executar.
Uma reforma tributária só faz sentido pautada pelas duas primeiras. Os países desenvolvidos descobriram isto há cem anos. Não se tributa em vão. Nenhuma nação séria, com moeda forte, faz planejamento econômico como se conserta relógio suíço com bigorna e marreta. Definir o quanto o Estado custa é preliminar. O avanço tributarista em cima de quem produz é inaceitável. Ousam imaginar tributar alimentos em meio à crise que vivemos. Os governantes precisam ser obrigados a comprovar a eficiência no uso do que arrecadam. Juntas, natureza e ciência têm todas as respostas.
Preservar a floresta úmida é essencial. Mas, sem considerar a geração de emprego e renda pela bioeconomia tropical, continuarão excluídas da pauta civilizatória 29 milhões de pessoas, só na Amazônia brasileira. Devemos sim, preservar, regenerar, mas podemos também converter a Amazônia no maior celeiro de produtos naturais do planeta. O grande desafio é transferir a força revolucionária do saber do ambiente científico para a realidade, para o “chão de fábrica”, lá onde atuam os produtores rurais.
Discurso de Alysson Paolinelli ao ser homenageado na Fiesp. Continua na próxima edição