As primeiras horas de vida dos bezerros são definitivas para seu desenvolvimento. Por este motivo, o chamado manejo de nascimento faz-se tão necessário na pecuária de cria. Caso os recém-nascidos não recebam a nutrição adequada e não tenham os cuidados com o umbigo realizados de maneira correta, podem apresentar diarreia, pneumonia, cistites e poliartrites (inflamações nas articulações), interferindo no seu bem-estar animal e trazendo prejuízos à propriedade.
O ideal é que o manejo de nascimento seja programado desde o diagnóstico de gestação (DG). “Sabendo a época de prenhez das vacas, a equipe que faz o rodeio da vacada terá tempo para organizar e planejar os partos, preparando-se para atender tanto às necessidades das vacas como às dos bezerros logo após a concepção”, explica o médico-veterinário Reuel Gonçalves. Segundo ele, já a partir do oitavo mês, as vacas devem estar no pasto maternidade: um ambiente limpo, com área de sombreamento, água e alimento à vontade (incluindo disponibilidade de sal mineral). A estrutura deve ser analisada também para que não possua declive ou áreas de acúmulo de água, já que ocorre de a estação de nascimento iniciar na seca e terminar na época das chuvas.
Rondas periódicas
A rotina de vistoria é um fator de suma importância, tanto para o pré como para o pós-parto. A recomendação é que sejam realizadas duas vezes ao dia: uma pela manhã e outra à tarde, principalmente para que os animais passem pelo processo de cura de umbigo nas primeiras horas após o nascimento. Depois, as rondas podem ser espaçadas e passar para uma vez ao dia, nos primeiros 15 dias, e para uma vez a cada dois dias até o trigésimo dia. A regularidade serve para verificar sinais de diarreia, pneumonia ou tristeza parasitária, situações nas quais o tratamento deve ser iniciado rapidamente.
Outro ponto de atenção está no colostro, que é a primeira fonte de imunidade dos bezerros, já que não a recebem da mãe via placenta. Sua ingestão deve ocorrer logo após o nascimento por ser grande fonte de minerais, vitaminas e imunoglobulinas e de hormônios de crescimento. Reuel Gonçalves lembra que o colostro deve ser aquecido e fornecido pela manhã (dois litros) e à tarde (mais dois litros), com início, preferencialmente, antes de o animal completar seis horas de nascimento para que haja melhor absorção dos nutrientes do leite. “Também é importante manter um banco de colostro na fazenda para o caso de as vacas não produzirem leite, terem mastite ou qualquer outro problema eventual”, alerta.
Outro manejo que pode ser iniciado na maternidade é o tratamento com pasta à base de prebióticos e probióticos para auxiliar o bezerro na formação da flora intestinal, auxiliando-o na absorção dos nutrientes. Em algumas fazendas, também nessa fase, são feitas as tatuagens de identificação e o furo da orelha. O intuito é ganhar tempo de cicatrização antes que os animais recebam brinco no manejo de virada do mês. É nessa fase que também podem ser feitas as primeiras anotações zootécnicas, com registros como peso, nome da mãe, raça e sexo do bezerro. São informações que servirão para que seja feito o acompanhamento da fazenda e para comparar os resultados do animal, imprescindíveis para o pecuarista mensurar os seus ganhos.
Cura do umbigo
O umbigo tem a função de fazer a ligação entre a mãe e o feto durante a gestação e é por onde ocorrem as trocas gasosas, de nutrientes, além da eliminação dos dejetos do feto. Após o parto, restará apenas ao recém-nascido o coto umbilical, que pode se tornar grande porta de entrada para doenças e infecções, motivo pelo qual deve ser logo cicatrizado. O primeiro passo é utilizar um produto para secar o local e fazer com que o umbigo caia naturalmente. O mais frequentemente utilizado é o iodo 10%, mas para presentar resultados satisfatórios (“queima”), não basta somente ser colocado no local.
A recomendação técnica é de que o coto seja mergulhado na solução por cerca de 30 segundos em cada aplicação. Após a imersão, o iodo utilizado deve ser descartado para não servir de vetor de contaminação de um bezerro para outro. É recomendável também adotar algumas medidas preventivas para reprimir problemas com os parasitas, especialmente com as moscas, causas de bicheiras. Para isso, com auxílio de médicos-veterinários, podem-se utilizar medicamentos injetáveis como a doramectina 1,1% para prevenir a instalação de uma miíase. O mesmo profissional poderá ainda indicar o uso de repelente externo e de outros antibióticos para evitar infecções posteriores ao processo de secagem do umbigo.
Diarreia neonatal
Mesmo que a grande maioria dos protocolos de tratamento de diarreia utilizados envolva o uso de antibióticos, é estratégico saber que, nem sempre, ela é causada por agentes infecciosos ou bacterianos. Por isso, antes de determinar um plano de ação preventivo ou proativo para a enfermidade, deve-se buscar entendê-la. Ainda é preciso considerar a probabilidade de ocorrência de autoinfecção, o manejo nutricional adotado, a ambiência, os fatores causadores de estresse neonatais e quais os agentes que podem estar envolvidos na afecção frente ao grande número de agentes patogênicos causadores de diarreia. “É importante saber que, principalmente em momentos de surtos ou excessiva perda de animais, os exames diagnósticos podem representar uma ferramenta-chave na resolução dos problemas”, ressalta Gonçalves.
Para evitar a diarreia neonatal, a indicação é fazer uma vacinação preventiva na vaca aos 60 e aos 30 dias antes do parto contra Escherichia coli J5 e Rotavírus (G6 e G10). A medida ajudará a baixar os índices de ocorrência nos primeiros 35 dias de vida dos bezerros, além de promover um excelente desenvolvimento, garantindo um neonato mais sadio e, consequentemente, com melhor peso até a desmama.
Vacinação preventiva
Entre 60 e 90 dias após o nascimento, o produtor deve atentar à prevenção efetiva contra doenças que podem prejudicar ou causar a mortalidade em bovinos. Será então momento de vacinar contra a Clostridiose. Caso a região seja endêmica para a raiva, deve-se aplicar a vacina antirrábica, com reforço 30 dias depois da primeira dose e uso de pour-on de Fluazuron simples, não conjugado. Segundo o médico-veterinário, que ocupa o cargo de gerente de Serviços Técnicos da Biogénesis Bagó, entre três e oito meses, as bezerras devem receber vacina B19 contra a Brucelose, uma doença que, além de prejuízos econômicos na propriedade, é uma zoonose e possui controle oficial.
O manejo dos 90 e dos 120 pode ser uma boa oportunidade para desverminar os bezerros. Se o período coincidir com as chuvas, o desafio será combater os endo e ectoparasitas, com indicação de ministrar medicamento de longa duração. Caso seja época de seca, a missão será combater os parasitas internos. Já por volta dos sete a nove meses, preferencialmente antes da desmama, a orientação é que seja realizada uma terceira dose das vacinações contra Clostridiose (com oito cepas + cepa de E. coli J5 para prevenção de diarreias), vacina antirrábica e novamente a aplicação de vermífugo de longa ação.