No primeiro ano de testagem com os cereais de inverno trigo e triticale, cultivados em sucessão à soja, pesquisadores estão otimistas. A avaliação e colheita dos itens produzidos em sistema sulco-camalhão em terras baixas foi realizada na Estação Experimental Terras Baixas (ETB) da Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS).
Segundo os pesquisadores, os insucessos devidos a doenças, baixa produtividade e qualidade de grãos estão ficando no passado. Mas ressaltam a necessidade de continuidade da pesquisa em próximas safras e a avaliação em outras regiões arrozeiras, atingindo outras espécies e cultivares.
O estudo faz parte do Projeto Duas Safras, uma parceria entre Farsul, Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e unidades da Embrapa no Sul do Brasil. A intenção da pesquisa é repetir as pesquisas e ampliar as ações ao longo dos próximos anos. Assim, poderão captar dados mais robustos e desenvolver novas tecnologias.
Drenagem
A pesquisa mostrou que tecnologias de drenagem em uso nas terras baixas mostram-se efetivas para superar a principal limitação à produção nesse ambiente. Ou seja, o estresse por excesso hídrico, decorrente do inverno úmido associado à drenagem deficiente do solos.
Esta ação específica visou avaliar o desempenho e adaptar as culturas às terras baixas. Para tanto, aproveitou-se a infraestrutura de sulcos e camalhões estabelecida para a soja, gerando uma segunda safra e fonte de renda no ano.
Observações e dados preliminares são bastante positivos. Mas o programa se estenderá por dois ou três anos. O Projeto Duas Safras também está sendo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sul (Bagé/RS), Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC) e Embrapa Trigo (Passo Fundo/RS).
Trabalho
Em Pelotas, a Embrapa Clima Temperado atua em três linhas de trabalho:
- cultivo de cereais de inverno em terras baixas com avaliação de manejo de animais sob pastoreio de forma alternada;
- avaliação do desempenho de trigo e o triticale em sistema sulco-camalhão;
- avaliação de triticale, trigo, aveia e azevém com o uso da tecnologia de camalhões de base larga.
O coordenador técnico da ETB, André Andres, fala que as unidades descentralizadas da Embrapa na região Sul se reuniram para buscar alternativas de produção de mais alimentos, especialmente, no período frio. “As terras baixas têm um grande desafio com o manejo das culturas de grãos que é retirar ou colocar água. Iniciamos os primeiros estudos este ano e esperamos, já no próximo inverno, levar mais informações para os produtores locais”, disse.
Experimento
A área experimental com trigo e triticale em sistema sulco-camalhão foi conduzida pela pesquisadora Walkyria Scivittaro. Neste primeiro ano, além da observação da adaptação das culturas ao sistema, estudou-se o manejo do nitrogênio para essas culturas.
O acompanhamento das lavouras mostrou resultados promissores. Houve bom desenvolvimento das plantas cultivadas nos camalhões e, também, nos sulcos de irrigação.
Perspectiva
A perspectiva é definir doses econômicas de nitrogênio para ambos os cereais cultivados em sucessão a soja em terras baixas. Além da determinação da produtividade de grãos e de biomassa vegetal da área, serão realizadas avaliações da qualidade de grão e da sanidade da lavoura.
Finalizada a etapa de avaliações, a área será colhida. Já o material produzido será utilizado para a alimentação animal. “Vai enriquecer muito a silagem, é uma forma de fazer uma economia cíclica. Produzimos aqui na nossa área experimental e utilizamos aqui mesmo esse material para o rebanho experimental”, conta a pesquisadora.
Durabilidade
As avaliações realizadas com as culturas de trigo e triticale em sistema sulco-camalhão permitem verificar, ainda, a durabilidade e eficiência de drenagem da infraestrutura após vários cultivos. Isto porque os cereais de inverno são o quarto cultivo desenvolvido na mesma área, que já abrigou duas safras de soja no período de primavera/verão (2019/2020 e 2020/2021) e uma de azevém, também no outono/inverno (2020).
Os resultados são bastante animadores, conta a pesquisadora. “Há o excelente desenvolvimento das plantas cultivadas sobre os camalhões, que são construídos para favorecer a drenagem da área nos períodos chuvosos. Além disso, é possível observar um bom escoamento da água ao longo dos sulcos e plantas bem desenvolvidas também nessa porção da lavoura”, diz.
A pesquisadora destaca que este trabalho visa dar mais opções de cultivo ao produtor das terras baixas, além de possibilitar ganhos técnicos, econômicos e ambientais. Para ela, a tecnologia sulco-camalhão já está consolidada, e associada à prática de suavização do solo está sendo potencializada, permitindo a diversificação da produção na propriedade.