Coluna Marie Bartz, escrita pela bióloga, Centro de Agricultura Regenerativa e Biológica e centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, em Portugal, e Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp), Marie Bartz.
E nesta edição de agosto falaremos sobre a Fundação ABC, nosso oitavo homenageado pela Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp) através da Medalha de Honra Herbert Bartz pela significativa contribuição em pesquisa e desenvolvimento, além de atuar na capacitação. Para me auxiliar a relatar a história e o que significou esta entidade para o processo de adoção do sistema plantio direto, teremos nosso pioneiro “dinossauro” Franke Djikstra, e trechos descritos a seguir estão em sua obra “O solo ensinou – Plantio Direto, um caminho para o futuro”.
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As primeiras sementes para criar a Fundação ABC foram lançadas no início dos anos 1980, quando a carência de respostas na agricultura e a urgência de resultados para desenvolver a sustentabilidade na atividade agrícola fizeram com que os produtores das Cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal (Grupo ABC) se reunissem na então chamada Comissão Agrícola Central. Dijkstra nos conta:
“O elo criado entre pesquisa, extensão e produtor foi, sem dúvidas, a melhor forma para a tecnologia chegar até todos os interessados. Assim, foi criado um informativo conjunto com da Embrapa e da Cooperativa Central de Laticínios do Paraná Ltda. (CCLPL), para divulgação do sistema de plantio direto. Muitos outros órgãos seguiram o exemplo, e as informações divulgadas saíram do nível regional para ganhar o mundo. Na época, o departamento jurídico da CCLPL, por meio do Sr. Dick Carlos de Geus, transformou a Comissão Agrícola Central em Fundação ABC.
A Fundação ABC foi a primeira fundação para pesquisa e desenvolvimento privado no Brasil, de produtores para produtores
A Fundação ABC teve um papel preponderante para a consolidarmos o plantio direto e o transformarmos em um sistema de produção. Em 1983 foi formalizado o convênio com a CCLPL, o qual teve como coordenador o Sr. Maury Sade que, na sequência, foi transferido para a Fundação ABC, afirmando o elo entre a pesquisa básica oficial e o produtor. A criação da Fundação ABC aconteceu em 23 de outubro de 1984, uma instituição de pesquisa, de caráter particular sem fins lucrativos, com amparo tecnológico para os produtores.
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Após o 1° Encontro Nacional de Plantio Direto, arrecadamos verbas para a compra de uma casa para a instalação da sede. Não demorou para as Cooperativas ABC construírem uma nova sede ampla, com laboratório próprio e campos demonstrativos. Buscar as informações do campo, de forma desvinculada de interesses comerciais, foi algo revolucionário para nós. E conforme com o então presidente da Embrapa, tínhamos um laboratório prático de 80 mil hectares para gerar muitas informações de acordo com as características regionais.
A Fundação ABC foi a primeira fundação para pesquisa e desenvolvimento privado no Brasil, de produtores para produtores. E logo na sequência surgiam outras parecidas. Na atualidade a Fundação ABC atende uma área com mais de 430 mil hectares que podem ser considerados como um grande laboratório, onde, nos campos experimentais, são registradas ocorrências diferenciadas com o objetivo de melhor orientar os produtores das diferentes regiões. Este trabalho abrange desde a ocorrência de pragas até a avaliação de materiais genéticos. A informação gerada é uma ferramenta do produtor a custo compensatório. Com o foco regionalizado, o principal resultado das pesquisas refletiu no aumento de nossa produtividade.
Porém, sempre movida e apoiada pelos maiores interessados, o produtor e o nosso corpo técnico. Por isso reafirmo: a pesquisa é a espinha dorsal no desenvolvimento da agropecuária. Uma das figuras marcantes foi o agrônomo Hans Peeten que, além de um dos idealizadores da Fundação ABC, sempre com muita determinação e paixão e equipado com sua camionete, realizava centenas de testes nas propriedades e campo experimental. Este trabalho de Peeten nos orientou neste novo rumo tomado. Foi nesta época também que, após plantar cevada que deixada muito mais palhada que o trigo, a soja na sequência tivesse maior produtividade, nos levando a mudar o nome do sistema para plantio direto na palha.”
Atualmente a Fundação ABC possui um corpo de mais de 200 pesquisadores que trabalham em encontrar soluções sustentáveis para os problemas dos produtores mantenedores e contribuintes da Fundação, buscando e desenvolvendo novas tecnologias que possam ajudar a melhorar a produtividade no campo. São no total nove áreas de pesquisa e realizam ensaios de acordo com as demandas que vêm dos comitês agrícolas das cooperativas mantenedoras. Para isso, a Fundação possui 258 hectares, em cinco campos demonstrativos e experimentais, localizados no Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além de áreas cedidas dentro das propriedades dos próprios contribuintes e mantenedores.