Nesta edição, contaremos sobre nosso saudoso Manoel Henrique Pereira, conhecido como Nonô Pereira. Nonô é o nosso terceiro homenageado que marcou os 50 anos de adoção do sistema plantio direto (SPD) na América Latina; ele foi condecorado com a Medalha de Honra Herbert Bartz, concedida pela Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp). Juntando-se a mim para contar um pouco sobre esse nosso gigante do SPD está Manoel Henrique Pereira Junior, agricultor e filho desse nosso marcante pioneiro.
Manoel Junior conta que Nonô teve seu primeiro contato com o plantio direto através de Américo Meinicke, seu amigo e agrônomo que, em 1974, lhe mostrou uma reportagem da revista americana Business Week e que, com o também produtor Franke Dijkstra, encontraram, anos depois, Herbert Bartz. O trio, considerado como os lendários incansáveis mosqueteiros do plantio direto na palha, estava formado, ficando conhecidos por não medir esforços para difundir o SPD desde a década de 1970.
A saga de Nonô com o plantio direto iniciou-se em 1976, na sua Fazenda Agripastos, em Palmeira, no Paraná, região dos Campos Gerais. Lá, estabeleceu 20 hectares de soja sob plantio direto, utilizando uma plantadeira Rotacaster importada da Bélgica. Depois dessa experiência, Nonô nunca mais parou, já sabendo que era a solução para cuidar, proteger e conservar os frágeis e rasos solos arenosos da região contra a erosão. O meu convívio mais próximo com Nonô e com os demais pioneiros do PD aconteceu a partir de 1999, quando comecei a acompanhar Papi (Herbert Bartz) nos eventos e reuniões sobre SPD.
Nonô era conhecido por sua postura ponderada e respeitadora, sempre bastante educado e muito bom articulador. Mas entre eles, os pioneiros e membros da Febrapdp, havia outro Nonô. E não era somente ele, mas os demais também: o modo “jovens marotos brincalhões” era ativado nos momentos de descontração. Em várias vezes, o presenciei em brincadeiras com Papi e Franke nas esperas para as refeições à mesa, sinalizadas com olhares e piscadelas. Inúmeras eram a histórias que me contavam, as artimanhas marotas que aprontavam juntos. Como a vez em que urinaram numa garrafa de vinho e a lacraram perfeitamente; sem querer, pois se esqueceram de avisar os demais da organização, ela acabou sendo entregue a um dos convidados do evento. Ou quando Nonô colocou vinagre no vinho de Papi e lhe perguntou o que achava do vinho, e Papi lhe respondeu que era muito bom.
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Mas, brincadeiras à parte, eu tenho um carinho muito grande por Nonô e por sua trajetória. A força dele em prol do SPD no Brasil e no mundo foi determinante para fazer a diferença e mudar os caminhos da agricultura – para muito melhor, é claro! Nonô nos deixou em 8 de setembro de 2015, mas seu legado é imensurável. Além do impacto na região dos Campos Gerais, há o Museu do Plantio Direto que, até hoje, seu filho Manoel Junior mantém com muito destreza na Fazenda Agripastos, recebendo visitas para contar essa história.
Também influenciou a Universidade Estadual de Ponta Grossa (Uepg) a criar a primeira disciplina em um curso de Agronomia dedicada ao Plantio Direto na Palha no Brasil. Além das incontáveis palestras que ministrou no Brasil, em países vizinhos e mundo afora, sempre disposto a estender suas experiências e a tirar dúvidas de colegas produtores, pesquisadores e assistentes técnicos de diversas formações, recebendo, assim, carinhosamente o título de “Embaixador do Plantio Direto na Palha”.
Nonô foi fundador e também foi, por quatro vezes, presidente (1996, 1998, 2000 e 2008) da hoje Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto na Palha (a Febrapdp); foi fundador e duas vezes presidente (1998-2002) da Confederação Americana das Associações de Agricultores de Agricultura Sustentável (CAAPAS). Esse esforço de Nonô foi reconhecido pela academia, quando, em 2015, ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Uepg. Nonô nos faz falta; ele é e sempre será nosso eterno embaixador do Sistema Plantio Direto!