O mercado da soja inicia 2024 cercado de incertezas, trazendo novamente um ambiente desafiador para os produtores brasileiros. A avaliação foi feita pelo analista de SAFRAS & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, citando como ponto de origem das dúvidas o tamanho da nova safra brasileira, que em breve terá sua colheita iniciada.
“Os problemas climáticos, derivados de um fenômeno El Niño forte, que atingiram boa parte do Brasil a partir do mês de outubro de 2023, trouxeram impactos importantes para o desenvolvimento das lavouras em vários estados do país”, destaca o consultor.
As regiões Norte, Nordeste e maior parte da região Centro-Oeste sofreram com um clima pouco úmido e com temperaturas elevadas durante boa parte dos trabalhos de plantio e grande parte do desenvolvimento das lavouras, o que levou – e continua levando – a reduções no potencial produtivo da nova safra. “O que no início se desenhava como uma nova safra recorde, com potencial superior a 160 milhões de toneladas, agora se revela como um potencial produtivo reduzido, que não mais poderá alcançar um novo recorde. Iniciamos o ano com uma estimativa de produção de 151,3 milhões para a safra brasileira, bastante aquém dos 163 milhões estimados inicialmente”, projeta Roque.
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O analista lembra que não só de safra brasileira vive o mercado. Neste ano, um grande player volta a ganhar importância no mercado internacional. A Argentina, que em 2023 registrou uma quebra histórica em sua produção, volta a ter um potencial produtivo próximo de 50 milhões de toneladas, o que, se confirmado, resultará na recuperação de aproximadamente 30 milhões de toneladas frente à 2023.
“Tal produção poderá ser decisiva para o mercado no primeiro semestre, isso porque se a Argentina confirmar uma produção desse tamanho, a safra sul-americana deverá ser maior nesta temporada, mesmo com os problemas produtivos no Brasil”, aponta Roque. Segundo ele, essa possibilidade é o que mais pesa sobre os contratos futuros em Chicago nesse momento, e é o que pode continuar pressionando as cotações nos próximos meses.
“Além disso, o retorno da Argentina com maior volume para o mercado exportador poderá impactar nos embarques brasileiros de soja, farelo de soja e óleo de soja, refletindo também os prêmios de exportação, que são fator chave para a formação das cotações”, acrescenta o consultor.
Margens apertadas
Frente a isso, SAFRAS espera por um primeiro semestre ainda de margens apertadas para os produtores brasileiros, com preços sem força para se recuperar. Apenas o aumento das perdas no Brasil e/ou o registro de perdas importantes na Argentina poderão mudar esse quadro, salvo alguma surpresa.
“Já para o segundo semestre, as atenções se voltarão para a nova safra norte-americana, que começa a ser plantada a partir de abril/maio. Embora ainda seja cedo para definições relacionadas à área e produção, a tendência inicial é vermos a área de soja voltando a registrar algum crescimento, o que levaria também a um crescimento do potencial produtivo norte-americano. Mas, nada é certo neste momento”, afirma.
Para o Brasil, SAFRAS espera que o segundo semestre seja de preços menos pressionados, visto a menor disponibilidade de soja devido às perdas produtivas. “Mas o que ocorrer com a safra norte-americana será também fator decisivo para os últimos meses de 2024. Então, ao longo de todo o ano a atenção deve ser redobrada, principalmente em um mercado que deverá ter a volta de um grande player internacional”, conclui Roque.
Fonte: Agência SAFRAS