Frederico Bernardez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais (Abrefen)
O agronegócio é um dos setores mais estratégicos para o país, com uma das maiores participações do PIB brasileiro, uma fatia de 27%. Em 2021 a indústria de alimentos, importante setor desse mercado, contribuiu com 63,7% do saldo da balança comercial, com cerca de US$ 39 bilhões. Os dados são da Associação Nacional da Indústria de Alimentos (ABIA), que também menciona o Brasil como o segundo lugar mundial em exportações de alimentos industrializados e produção de carne de aves.
Nesse sentido é impossível falar de agronegócio sem considerar que o movimento de crescimento do mercado do agro está diretamente ligado à disponibilização de insumos. Como os fertilizantes, necessários para garantir a viabilidade das culturas e, consequentemente, da produção direta e/ou indireta de alimentos. Portanto, é impossível não associar a alta da demanda por fertilizantes à crise e dependência do país de insumos importados e seu reflexo no preço final dos produtos.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, no primeiro semestre o Brasil importou aproximadamente 19 milhões de toneladas de fertilizantes, cerca de US$ 12 bilhões. Porém, o que mais preocupou os empresários foi o preço que mais que dobrou em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento foi da ordem de 180%. O impacto direto na cadeia da agropecuária causado por essa dependência externa e as bruscas oscilações do mercado será cada vez maior se o Brasil não olhar para dentro, para sua capacidade de encontrar alternativas viáveis para esse tipo de desafio.
Já pensando nessa necessidade interna, há alguns anos a indústria minerária vem investindo em pesquisa e desenvolvimento de processos para transformar recursos naturalmente disponíveis em insumos para a agricultura. Os Remineralizadores de Solo (REM) e Fertilizantes Naturais (FN), advindos da mineração, se mostraram eficientes na disponibilização de recursos para o desenvolvimento de solo e planta e, consequentemente, na melhoria do potencial produtivo nas culturas.
Desse expoente e necessário mercado, surgiram empresas que acreditaram no potencial de seus produtos e passaram a oferecer insumos de alta qualidade para o agronegócio brasileiro. E com um importante diferencial, a grande capacidade de entrega, visto que, segundo pesquisas desenvolvidas pela Embrapa em parceria com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), é possível afirmar que, em um raio de 300 quilômetros de todo polo agrícola do país, há a possibilidade de existir pelo menos uma mineração presente com a possibilidade de gerar um produto, o que viabiliza a logística dos produtores e torna o frete viável.
Em 2022 esse novo mercado ganhou um grande incentivo, a criação da Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais (Abrefen). A entidade é representativa deste que é um dos insumos mais estratégicos para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.
Além de representar os produtores brasileiros, a criação da Abrefen atende ao chamado internacional para a promoção de recursos que permitam o cultivo de forma sustentável e perene garantindo, assim, a disponibilização de alimentos para o mercado interno e externo. E dentre os objetivos da entidade estão o posicionamento dos remineralizadores de solo e fertilizantes naturais como importantes atores nessa transição e a interlocução saudável entre os diversos atores da sociedade civil e o Poder Público para encontrar mecanismos que permitam o desenvolvimento do setor e a criação de leis de incentivo e fiscalização.
Para a Abrefen é imperativo que os remineralizadores de solo e fertilizantes naturais sejam devidamente reconhecidos como peça importante para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Para tornar possível essa missão, foram aglutinadas pessoas com extenso conhecimento de mercado e pesquisadores que fazem parte da diretoria e conselho técnico. A Abrefen conta com nomes de peso como o pesquisador da Embrapa Éder de Souza Martins e a geóloga e professora Suzi Maria de Córdova Huff Theodoro
O que são remineralizadores de solo
Os remineralizadores de solo são basicamente produtos oriundos da moagem fina de rochas. Por sua composição rica em minerais primários, os remineralizadores contribuem para a nutrição de planta e solo, auxiliando na recuperação das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, potencializando a melhoria do sistema produtivo.
Com indicações de uso isolado ou como complemento a outros materiais (compostos orgânicos, fertilizantes organominerais, etc.), os REM oferecem inúmeros benefícios para as culturas e, também, ao meio ambiente. Dentre esses benefícios, o que vem sendo muito discutido ultimamente é a capacidade de sequestro de carbono no solo e a gradual formação de novas fases minerais estáveis que ampliam seu reservatório de nutrientes e a eficiência de uso da água na plantação. Além disto, há uma grande possibilidade dos insumos assumirem um papel de protagonismo quando se fala em sequestro de carbono em regiões tropicais.
Plano Nacional de Fertilizantes
O reconhecimento da importância dos remineralizadores e fertilizantes naturais para o agronegócio veio, em primeiro lugar, com a experiência de agricultores que apostaram no uso dos produtos em suas lavouras e colheram resultados expressivos que permitiram a continuidade do investimento da indústria.
E, para validar os já extensivos estudos da indústria e instituições de pesquisa, este ano o Governo brasileiro lançou o Plano Nacional de Fertilizantes indicando os REM e FN como insumos necessários para garantir a soberania nacional no setor de fertilizantes. Além disso, incluiu os REM no Plano Safra 2022/23 de fomento ao agronegócio, que facilita a aquisição dos produtos.
O Brasil é o país mais avançado no desenvolvimento de remineralizadores, e desde 2013 o insumo conta com legislação própria que garante a qualidade dos produtos devidamente regulamentados. A partir de 2019 os remineralizadores passaram a ser comercializados em grande escala e já são utilizados em todo o país.
Essa demanda é atendida por mais de 35 empresas produtoras de REM registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Esse registro é o que indica que o produto está adequado ao uso. Importante dizer que todo remineralizador é um pó de rocha, mas nem todo pó de rocha é um remineralizador, pois para isto é preciso a comprovação técnica e registro no Mapa.
Demanda de 5 milhões de toneladas
A capacidade instalada é estimada em 2,5 milhões de toneladas por ano. E há um indicativo de demanda de mais de 5 milhões de toneladas, com tendência de dobrar o consumo. Algumas indústrias já venderam todo o estoque de 2022 e estão investindo na ampliação e desenvolvimento de novos produtos.
Com a criação de políticas públicas de incentivo será possível aumentar a capacidade de produção de forma segura para atendimento à demanda, cuja tendência indica crescimento exponencial nos próximos anos. Isto tem impacto direto na mesa do brasileiro. O desenvolvimento deste setor trará maior segurança e estabilidade, além de maior competitividade para o mercado interno, para os produtores rurais e para o país.
O agronegócio brasileiro é o presente e o futuro das novas gerações. Para que o país se mantenha na liderança dessa corrida pela produção de alimentos e o faça de forma soberana é imprescindível investir em recursos nacionais que, além de viabilizarem o crescimento, também permita a todos enxergar um horizonte mais verde e amarelo.
Veja também:
1 comentário
Parabéns. Excelente matéria, com dados e informações importantes que indicam o protagonismo do Brasil. O uso dos remineralizadores poderá sustentar a agricultura tropical (familiar e empresarial) e garantir a soberania do País. E a ABREFEN tem um papel relevante. Assegurar a oferta dos REM para os agricultores.