O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Júlio Barcellos, detalhou ao programa A Granja na TV de quinta-feira, 17, na Ulbra TV, as razões da subida do preço do gado numa época em que, historicamente, ocorre o contrário.
“Estamos entrando numa primavera com melhores notícias em virtude desta recuperação do preço do boi, do fato bastante inusitado, porque não esperávamos isso. Todas as projeções oriundas da entressafra demonstravam que a partir de setembro teríamos uma grande oferta de gado, e isso poderia impactar negativamente os preços. Não foi o que aconteceu”, avaliou.
Entre as explicações, estão os embarques de carne bovina em alta.
“As exportações este ano certamente baterão todos os recordes em volume. Mas os preços continuam em patamares semelhantes aos anos de 2020 e 2021”, avaliou.
“Então, de 2021 para cá nós tivemos um crescimento no preço pago pela tonelada, um freio no final de 2023 quando a China reduziu drasticamente os preços pagos. Isso impactou todo o mercado internacional, inclusive de outras commodities, como as carnes de frango e suína, a própria soja e o milho estão menos valorizados internacionalmente”.
Economia aquecida
“Junto com estes dois fenômenos há uma atividade econômica que começa a ser retomada no Brasil, um trimestre com crescimento do poder aquisitivo, muitas ajudas sociais extemporâneas que não estavam previstas e isso repercute no consumo de carne, principalmente carne bovina, e aumenta a demanda”, complementou.
“Adventos climáticos”
O especialista revelou ter feito dezembro passado uma projeção de preços para o gado para todo ano 2024, e que até agosto se concretizou uma “correlação de mais de 95%”.
Mas os “adventos climáticos” afetaram toda a cadeia produtiva, inclusive de suprimentos.
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“Estes adventos acabaram influenciando de forma muito marcada a oferta de gado na entressafra, e por isso o preço da entressafra teve a majoração dentro do esperado”, descreveu.
“Mas quando entramos setembro, em algumas regiões continuou chovendo muito, houve um atraso nos preparos de solos para o plantio da soja e, em decorrência do atraso, na colheita deste ano, as pastagens de inverno ficaram muito prejudicadas, com menor lotação de gado, menos gado alojado para entrar em setembro para os abates”, prosseguiu.
“Então, uma oferta que tínhamos uma certa previsibilidade foi totalmente alterada, e esta alteração acabou repercutindo no final de setembro em aumento de preços, em torno de 3%. Entramos outubro com uma majoração maior, de 6% a 7%, porque não há gado para o abate”, concluiu.
Confira a entrevista completa assim como o programa na íntegra e mais informações sobre o agro na edição de A Granja na TV de quinta-feira, dia 17 de outubro (Canal 48.1 TV Digital e 521 da NET Porto Alegre)