Coluna Palavra de Produtor, escrita pelo engenheiro-agrônomo, produtor de soja, milho e gado em Nova Maringá/MT, especialista em administração de empresas, autor do livro Reflexões de um Alemão Cuiabano, Rui Alberto Wolfart.
A quebra da Bolsa de Nova York, em 24 de outubro de 1929, é o fato comumente citado como aquele que teria provocado a desestabilização econômica e financeira mundial.
Entretanto, passados 94 anos de “A Grande Depressão”, iniciada por um conjunto de fatores políticos e econômicos derivados tanto das consequências da Primeira Guerra Mundial, como e, principalmente, pelo crescente papel exercido pelos Estados Unidos na ordem global e por suas realidades internas díspares, é possível traçar um cenário paralelo ao que vive, no momento, o Brasil na agropecuária.
A produção agropecuária brasileira é gerada em milhões de estabelecimentos rurais, desde pequenos, mas com a predominância de médios e grandes na base dessa expressiva exportação do denominado agro.
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A pauta exportadora brasileira, em 2022, foi composta, em 50%, por produtos agrícolas, o que demonstra a indesejável concentração em produtos primários, apesar da marcha exitosa do setor, que se reinventou, atingindo elevados níveis de competitividade global, confrontado com o cambaleante setor industrial, sempre ávido por favores e protecionismo estatais, o que levou à sua ruína.
Pelos aportes extraordinários de conhecimento e de gestão, a produção no campo brasileiro tem crescido, mas tendo como pontos fracos a insuficiência da rede armazenadora e a ausência de políticas de apoio à renda. Destaca-se que, em 2022, houve o “aporte” de tão somente US$ 2,5 bilhões em “subsídios” destinados, basicamente, para seguros, bens industriais e equalização das taxas de juros cobradas nos financiamentos dos pequenos produtores, mísero 1% do que destinam individualmente em seus orçamentos públicos os Estados Unidos, União Europeia, China, Índia, etc.
O salto dado pela produção brasileira em poucos anos, menos pelo fator terra e mais pela produtividade agrícola, levou a que, em 2023, o país atingisse uma produção de 300 milhões de toneladas assentada no milho e na soja.
O Brasil, hoje como importante fornecedor mundial desses grãos, influencia fortemente bolsas, como a de Chicago, sendo os produtores atingidos e sentindo mais os impactos na renda, podendo levá-los ao colapso em plena abundância.
O Brasil rural está vendo se aproximar uma fração de Depressão Econômica, pelo lado da redução dos preços, provocada ironicamente pela abundância produtiva, mas exposto no confronto das economias agrícola mundiais às suas fraquezas estruturais derivadas da falta de efetivas políticas públicas. Hoje, se agudiza tal quadro pela conexão em tempo real de seus mercados, dentro da lógica da produção científica globalizada, como também severamente afetada pelos efeitos da pandemia da Covid e da guerra entre Rússia e Ucrânia. Logo, a conceituação de “A Grande Depressão” se presta parcialmente ao que hoje ocorre. A produção agrícola brasileira não suportará duas safras consecutivas de preços baixos, com seus elevados custos para produzir, indo à bancarrota e levando à destruição de centenas de milhares de empregos e empreendimentos dos pequenos aos maiores.
Na leitura das ações e dos programas emergenciais do New Deal, em 1934, destaca-se o Agricultural Adjustment Act-AAA, que tinha por objetivo apoiar a agricultura americana que, por sua capacidade crescente de produtividade, gerava uma constante deflação nos preços agrícolas, logo na remuneração dos agricultores. Isso os incapacitava de continuar produzindo, provocando mais um fator de desequilíbrio estrutural na produção e no nível de emprego e de renda de sua população.
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Para esse momento, é desejável que o Governo Federal estruture um plano de passagem para o setor agrícola, sustentando a estrutura produtiva, protegendo-a e, com isso, mantendo o país estável social, política e economicamente, pela importância da contribuição da atividade.
De maneira sintética, sugere-se ao Governo Federal o seguinte:
- Repactuar o endividamento agrícola existente, com alongamento de prazos e diminuição das taxas de juros, função de três anos de seca continuadas no Sul do Brasil e da queda real significativa dos preços agrícolas;
- Implantar amplo programa de investimentos em armazenagem;
- Implantar Linha de Crédito para suporte à comercialização, em caso de quedas dos preços no mercado, como ora acontece.