Anna Paula Nunes é produtora rural na Fazenda Jangada Brava, em Boa Esperança do Sul/SP, na região de Araraquara. Há 15 anos, assumiu a gestão da propriedade. Foi então que passou a cultivar grãos em parte da área anteriormente ocupada pela cana-de-açúcar e por pomares de laranja.
A Jangada Brava está na família há 70 anos, e Anna representa a quarta geração. Conheça o trabalho desenvolvido pela proprietária na entrevista a Denise Sauaressig.
Anna, conta um pouco da história produtiva da fazenda. Quais eram os cultivos até você assumir a produção?
Essa fazenda já teve um pouco de tudo. Por muitos anos, com meu bisavô, era café. Depois, passou por outras coisas. Já tivemos até algodão, cultura que nem é própria da região.
A região sempre foi de muita cana e laranja e foi o que tivemos aqui por vários anos. Entretanto, há cerca de 15 anos, quando eu assumi, esta região teve uma crise grande da laranja, que foi com o greening. Na época, a doença devastou os pomares da região.
Pelo fato de a fazenda ter só cana e laranja, imediatamente comecei a falar: “A gente não pode mais ficar só nessas duas culturas. Tem que diversificar. Porque aí acontece isso que aconteceu com o greening e você fica perdido.”
Quando perdemos os pomares, meu pai quis passar tudo para cana. Eu conversei com ele e falei para destinarmos uma área ao milho. Depois de algumas conversas, plantamos milho em cima de área que não estava preparada para grãos. E fizemos da maneira mais tradicional possível, com o que a tínhamos.
Sem maquinário, foi realmente um horror, a produção foi péssima. Mas isso fez com que eu, em vez de desanimar, falasse: “Vou atrás, eu quero plantar milho direito”.
Aí comecei a buscar novas técnicas. Naquela época estava iniciando a cultura do milho transgênico, e eu comecei a estudar melhor a parte de adubação. Para nós, era muita novidade.
No ano seguinte, já melhorei bastante. Comprei uma plantadeira pequena, mas foi melhorando a cada ano. Para mim era um desafio, eu queria colher cada vez mais milho. Eu gosto sempre de falar que o milho foi um divisor de águas para mim.
Teve algum marco nesta história?
Fiz uma viagem aos Estados Unidos com a Andreia Cordeiro, que é minha irmã de coração. Fomos com missão de conhecer as lavouras americanas. E aquilo foi um divisor de águas, porque abriu a minha cabeça. Voltei dessa viagem com ideias novas, com uma vontade de novas tecnologias, de crescer realmente nesse sentido.
Então, eu falo que, depois dessa experiência maravilhosa, comecei a me dedicar 100% ao grão e a crescer nesse sentido. Cuidei mais do solo, com análises, acertando o que meu solo precisava.
Eu já fazia plantio direto. Comecei com safrinha, coisa que eu não tinha tentado ainda. A safrinha aqui é bem difícil. Entretanto, teve anos que consegui pelo menos. O meu foco na safrinha não era ganhar dinheiro, mas trabalhar o solo.
Chove muito pouco aqui. Mas, com a safrinha, você cuida mais do solo. Então eu o faço pensando lá na frente, na safra principal. Fui investindo tanto em tecnologia, em produtos, em sementes, em adubação, em maquinário.
Eu não imaginava que em tão pouco iria chegar onde cheguei em tecnologia. Isso foi muito bom e me mostrou que realmente, esse investimento em tecnologia vale muito a pena.
E depois do milho consolidado, qual foi o desafio?
O meu milho foi superbem. Então, resolvi começar com a soja, há uns cinco anos. Aqui não tinha soja, eram pouquíssimas áreas da oleaginosa. Iniciei pensando na rotação, na verdade. Disse que plantaria soja mais para rotacionar o solo, porque o meu negócio é o milho.
No entanto, não é mais. Hoje sou apaixonada por soja. Mudei de ideia. Mas continuo plantando milho. O resultado que estou conseguindo, graças a Deus, é muito bom.
É um investimento que a gente faz nos solos, nas tecnologias, mas que vem o resultado. O ano passado foi bem difícil, com seca. Entretanto, a minha média de soja foi de 63 sacos. O que, para o ano foi, uma média muito boa.
Já no ano retrasado, um ano muito bom de chuva, eu cheguei a colher 90 sacos de soja por hectare. Então, é uma coisa boa que a gente fez, que a gente está fazendo e que está dando resultado. Agora, sem chuva a gente nada consegue. Não adianta fazer a nossa parte.
Eu procurei assessoria agronômica. Eu não sou agrônoma, né? Então eu precisava dessa parte técnica. Fui ler, assistir a palestras. Quando tinha alguma coisa relacionada a grãos, eu estava lá. Acho que o segredo é o seguinte: eu comecei com análises de solo, que fazemos toda hora aqui. A partir da análise do solo, veio a correção.
A correção não só do calcário e do gesso, mas a correção com micros também. Alguns anos precisei plantar usando adubos verdes, pra matéria orgânica. Então eu fui tratando o meu solo. E eu acho que isso foi muito importante.
Também focamos na escolha certa da semente, do adubo, pelo tipo de terra que você tem, você conhecer qual é o seu solo. A partir daí, com a semente certa para o seu solo, o adubo de que você precisa. Falo sempre que a gente tem dois tipos de plantio, e eu acho que os dois são corretos, é uma questão de escolha.
Tem o plantio tradicional, que você investe menos e busca uma produção normal. O outro é o que eu quero e faço, que é este plantio de alta tecnologia, que você investe mais no plantio. Mas você também traz resultados diferentes.
Hoje você trabalha efetivamente com rotação, não apenas com sucessão. Por que você tem dois cultivos no verão e dois na segunda safra? Como você trabalha esse esquema produtivo ano a ano?
Tenho as áreas de verão, que separo soja e milho. Nas áreas em que foram plantadas soja, faço safrinha de sorgo. E nas partes de milho, safrinha de girassol. E, no ano seguinte, troco essas áreas novamente. Faço essa rotação contínua dessas culturas.
Já tentei fazer safrinha de milho, mas não consigo, não dá. E algumas áreas que eu estou trabalhando são novas e eu planto crotalária. Aí uso alguns adubos para começar o trabalho delas. Essas áreas de safrinha são as que eu digo que estão prontas.
Tem algumas áreas que plantei pela primeira vez braquiária esse ano. Ainda não consigo falar sobre os resultados. São umas áreas mais fracas que eu tenho. Plantei braquiária para ver o que vai acontecer. É uma experiência nova para mim.
E quais são os principais benefícios que você percebe com a rotação? Vamos pensar nos resultados da safra de soja e de milho, que são as principais culturas na sua lavoura.
Acho que só tem benefício para tudo. Começa pelo solo, que precisa de menos adubo. Então você acaba tendo essa vantagem de diminuir seu custo. E com a safrinha você não deixa o solo ficar sujo por mato, você consegue uma renda também.
Sempre falo que terra parada é prejuízo. Nós temos que trabalhar nela, ela está aí pra ser trabalhada. Até a matéria orgânica, solo, meio ambiente, acho que só tem benefícios.
Quais são seus planos para os próximos anos? Algum projeto novo para a fazenda?
Meu grande plano é de chegar a colher mais de 100 sacas de soja. Esse é o principal. Brinco sempre que enquanto não conseguir isso não vou sossegar.
O meu plano é continuar, aumentar cada vez mais minha área de grãos. A gente está tentando se estruturar melhor nessa área. Quero trabalhar bastante tanto para minha propriedade quanto para minha região crescer nesse sentido.
Não vou esquecer a cana, porque a cana é muito importante para nós aqui. Mas o importante é isso, trabalhar junto. Cana e grãos eu acho que fazem uma parceria muito grande e será muito bom para a região.
Fotos: Arquivo pessoal