A dificuldade no setor de carnes, iniciada pelo embargo chinês ao produto brasileiro e agravada pela alta oferta e baixa demanda no mercado interno, obriga pecuaristas a redefinirem ações. Dentre elas, transferir o boi – já pronto – do confinamento ao pasto. É o que está fazendo o engenheiro agrônomo, Luiz Otavio Rodrigues da Cunha. Ele deu entrevista exclusiva ao Portal A Granja Total Agro sobre a situação.
Para evitar perdas, que podem chegar a R$ 1.500,00 por cabeça, a decisão foi de soltar o gado na Fazenda Progresso, de Sud Mennucci, interior paulista. Cunha conta que serão expostos a pasto 2.300 animais nos próximos 15 dias. Todos já terminados, pesando em média 594 quilos, após 140 dias de cocho.
A experiência é inusitada e não se sabe qual resultado será alcançado. A estimativa é de que cada boi ganhe cerca de 500 gramas por dia. Mas ainda não é possível prever se as perdas serão todas revertidas. “Acredito que teremos prejuízos, mas vamos tentar diminuí-los ao máximo.” Por isso, não há prazo certo para manter o boi a pasto – será de dois a três meses. “Vai depender de o preço da arroba voltar a subir. Neste momento, não é previsível”, diz o pecuarista.
Primeiro dia de liberação
Cunha explica que os animais precisam ser readaptados à nova dieta. “Prevemos uma perda de peso, mas depois eles voltam a ganhá-lo. No entanto, ainda não sabemos como isso vai acontecer e em que dimensões, porque é uma experiência nova.” Para ele, é uma tentativa de ganhar tempo. Assim o gado adquire menos peso, o que permite segurar a venda por uns três meses, na esperança de que o valor melhore.
Custos
Cada boi no confinamento consome cerca de R$ 2.150,00 a R$ 2.400,00 na fase de engorda, que leva de 110 a 120 dias. A carcaça deste gado que está sendo solto custou aproximadamente R$ 320,00 a arroba. “Ao calcularmos o preço de carcaça com o custo da engorda, chegamos a um valor de que o preço de venda hoje seria prejuízo certo e bastante alto”, conta Cunha.
“Será muito difícil escapar do prejuízo, mas se minimizá-lo, esta atitude terá valido a pena.”
Luiz Otavio Rodrigues da Cunha
Outra dificuldade encontrada pelos produtores é exatamente a falta de área de pastagens. Por isso, Cunha não conhece outros produtores que consigam soltar um número similar ao seu de animais.
Ele ressalta que a crise foi piorada pela união dos frigoríficos, que acabaram pressionando os preços. “E essa baixa sequer chegou ao consumidor”, lembra. Para ele, é necessário que os pecuaristas também se unam. “Precisamos equilibrar a oferta e a procura para permitir que se repita o que está acontecendo.”
Fotos e vídeos: Luiz Otavio Rodrigues da Cunha/Arquivo pessoal