Em 1965, o Brasil iniciava o Programa de Controle de Febre Aftosa, com a primeira campanha de vacinação contra a doença, no Rio Grande do Sul. O número de focos era grande, e a estratégia inicial foi vacinar para controlá-los.
Pouco mais de uma década depois, as autoridades chegaram à conclusão de que somente vacinar não resolveria o problema. Pois, em 1976, foi registrado o assustador número de 10 mil focos da doença no País. De lá para cá, muitas estratégias foram utilizadas. E, mais de 50 anos depois, o País inteiro foi considerado área livre de febre aftosa (em 2018).
Sem vacinação
Alguns estados já conseguiram se libertar também da vacinação contra a enfermidade. Juntos, representam em torno de 40 milhões de cabeças de bovinos e bubalinos sem o imunizante. Atualmente, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes de Mato Grosso e Amazonas são considerados livres da doença sem vacinação.
Outros estados procuram avançar nesse sentido. Para isso, trabalham dentro das orientações do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa do Ministério da Agricultura (Pnefa).
O bloco IV representa o maior desafio devido à grande população de animais a serem liberados da vacina. São 150 milhões de cabeças em dez estados mais o Distrito Federal. Entre eles estão os grandes produtores: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais.
Responsabilidade de todos
O Pnefa 2017-2026, lançado em 2017 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dividiu o País em cinco blocos e criou um calendário para a erradicação da doença. Objetivo é obter a suspensão gradual da vacinação e o reconhecimento da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) até 2026.
Para que o plano tivesse sucesso, foram envolvidos em todo o processo, além do Mapa, o Serviço Veterinário Oficial dos estados e o setor privado – com produtores e indústrias representados por suas entidades. “Cada bloco tem seu grupo gestor, responsável por dar encaminhamentos às medidas exigidas pelo ministério”, explica a chefe da Divisão de Febre Aftosa do Ministério (Difa), Ana Carla Martins Vidor.
E não são poucas as medidas: uma lista de 102 ações que precisam ser cumpridas e passam por rigorosa auditoria do Mapa. Isso antes que seja tomada a decisão de pedir a suspensão da vacinação à OIE. Das 102 ações, 42 são de atuação direta dos estados e 60, nacionais.
Matriz de responsabilidades
Por isso, o plano, além de estabelecer cronogramas, metas e atividades, apresenta uma rigorosa matriz de responsabilidades. “A cada semestre, vamos monitorando as ações dentro de cada estado, que possui suas equipes gestoras para o programa. Esse grupo é integrado pelos setores público e privado. As instituições discutem tudo, desde o tratamento das ações, os planos de ação e a responsabilidade compartilhada”, explica Ana Carla.
Conforme a chefe do Difa, também existem equipes gestoras nos blocos com um representante do setor privado e um do público. Elas apresentam, duas vezes por ano, o andamento e a evolução das medidas por bloco.
E, no topo da pirâmide, a equipe gestora nacional é liderada pelo Mapa. E composta também por outras entidades nacionais, como Abraleite, Sindan, Abrafrigo, Abiec e Conselho Federal de Medicina Veterinária. É sob a decisão desse colegiado que sai a autorização para pedir a suspensão da vacinação junto à OIE.
Conscientização
Em todos os estados engajados no plano, ecoa a fala sobre a importância da responsabilidade compartilhada. “O produtor é o primeiro fiscal, já que está em contato com os animais diariamente. É ele quem pode notificar qualquer suspeita ou sintoma”, afirma o presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul) e diretor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gedeão Pereira.
A CNA vem atuando na conscientização dos produtores através de congressos e reuniões. “Apoiamos também as ações das federações de Agricultura e do Senar nos estados para a capacitação do produtor quanto a emergências sanitárias”, afirma a coordenadora de Produção Animal da CNA, Lilian Figueiredo.
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