Muitos pecuaristas do Rio Grande do Sul ainda têm vacas em anestro profundo (falta de cio) em plena estação reprodutiva, em virtude da falta de chuva, que compromete as pastagens e, consequentemente, a reprodução.
Outros produtores que contam com sistemas mais integrados e avançados, têm as vacas em adiantado estágio de gestação, mas restrição forrageira em quantidade e qualidade está afetando a formação dos fetos e com consequências diretas na formação de células musculares e de gordura.
Os reflexos aparecerão quando estes terneiros que nascerão em 2023 forem novilhos e novilhas a serem abatidos ou postas em reprodução em 2025. “Nós estamos em 2023. É hora de termos aprendido, porque isto se repete e voltará a acontecer”, alerta o professor José Fernando Piva Lobato, conselheiro técnico da Conexão Delta G.
Segundo ele, as sequelas dessas crises alimentares, de pasto e água de qualidade, terão efeitos não somente no presente momento como também na qualidade do produto final.
Lobato detalha que os terneiros iniciam o pastejo, ainda que tênue, a partir dos 15 dias de idade. Aos 90 dias, pastam cerca de 50% do tempo das vacas. “Portanto, esta exígua oferta forrageira ‘torrada’, que nós temos, não só limita a produção de leite das vacas como também a ingestão de pasto pelos terneiros”, alerta o professor.
Ele ainda ressalta que as vacas prenhes, que estão entre o quinto e sexto mês, estão com feto na fase de formação de células primárias para as futuras massas musculares. São elas que vão determinar o rendimento da carcaça e o peso vivo dos futuros terneiros/novilhos.
O especialista explica que a partir do quinto ou sexto mês de gestação estão sendo formados os adipócitos, as células de gordura que serão necessárias lá em 2025, quando os animais serão encaminhados para engorda. Com prejuízo à formação destas células, os animais terão maior dificuldade para estarem prontos para o abate daqui 3 anos.
Solução emergencial para reduzir danos
A alternativa, do momento, para os produtores que não se precaveram para a seca, na visão do professor, é o desmame precoce para reduzir a exigência nutricional das vacas. “Se você não teve condições de fazer reservas forrageiras você pode pôr no seu orçamento a compra de feno e ração para terneiros assim desmamados”, sugere.
Lobato alerta que as áreas destinadas aos rebanhos de cria ou de recria de fêmeas estão menores devido à ocupação, na primavera, verão, até meados do outono, pela lavoura de milho ou de soja, especialmente. “Então nós precisamos ter reservas forrageiras também para manter vacas nesse período de 120 dias a 150 dias, aproximadamente, porque elas estão em fase reprodutiva”, conclui.