Implantação da lavoura encaminha a produtividade
A qualidade na instalação da lavoura esteve em discussão num dos painéis do IX Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2022, realizado em Foz do Iguaçu/PR no mês passado. O evento reuniu algumas das principais autoridades em soja do Brasil. De acordo com os palestrantes do evento, a combinação entre qualidade de sementes e plantabilidade é a base da produtividade da lavoura.
O painel foi aberto pelo pesquisador José de Barros França Neto, da Embrapa Soja, que falou sobre a importância da utilização de sementes de alta qualidade. França Neto expôs resultados de pesquisa que indicam aumento de produtividade de 10% em plantios com sementes de alto vigor.
O pesquisador também apresentou dados da Associação Brasileira de Semente de Soja (Abrass) e da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasen) que indicam que 65% das sementes de soja utilizadas, no Brasil, são oficiais e certificadas. Já as demais 35% são sementes salvas, produzidas pelo próprio sojicultor, ou são sementes ilegais. Ele também mostrou resultados da avaliação feita em 2.532 amostras de sementes coletadas em diferentes regiões produtoras ao longo de quatro safras. Destas, 45% apresentaram nível de vigor alto ou muito alto, enquanto 55% foram classificadas com nível de vigor médio ou baixo.
Mais 7 milhões de toneladas
“Temos um vasto campo para melhorar nossas sementes. É possível ter ganhos de 10% a 15% na produtividade. De graça, o Brasil pode aumentar sua produção em 7 milhões de toneladas. Isso com sustentabilidade, pois não vamos fazer nada de mais”, disse França.
A combinação entre qualidade de sementes e plantabilidade é a base para a boa performance de uma lavoura. Apenas o alto vigor pode responder por 10% a mais na produção
Embrapa Soja
Assim como a qualidade de semente é um ponto importante, garantindo melhor germinação e emergência, com menos tempo e com estande adequado de plantas, a plantabilidade também é um fator decisivo. “A prioridade da lavoura é a semente. O máximo potencial produtivo está quando ela está armazenada. Dali para a frente, cada manejo e cada operação reduzem esse potencial. O trabalho do produtor é gerenciar para reduzir as perdas”, destacou Marcos Leal, consultor e um dos painelistas.
Perdas mensuradas
Um exemplo numérico da importância dos cuidados com a plantabilidade foi mostrado por França Neto. O pesquisador calculou as perdas geradas por uma planta de soja por metro quadrado. De acordo com ele, cada falha por metro quadrado causa perda de 180 a 240 quilos de soja por hectare. Considerando o preço da saca de soja em R$ 190, são R$ 70.300 que o produtor deixa de ganhar em 100 hectares. Ou R$ 703.000 a cada 1.000 hectares.
Regulagem da plantadeira
O consultor Marcos Leal mostrou a importância da regulagem da semeadora em diferentes condições de palhada no solo, conforme a lavoura anterior. No caso da semeadura pós-algodão ou em sistemas de integração lavoura-pecuária, com palhada de braquiária, os cuidados devem ser ainda maiores para evitar sementes fora do sulco ou plântulas com crescimento retardado devido à obstrução da palha.
Representante da John Deere no painel, João Paulo de Freitas destacou quatro fatores que são os pilares agronômicos para o sucesso da semeadura.
- Janela de semeadura;
- Distribuição uniforme das sementes;
- Emergência uniforme das plântulas;
- População correta de plantas.
Freitas também elencou tecnologias existentes nos maquinários e que auxiliam o produtor a ter maior eficiência em cada um desses pontos. No caso do melhor aproveitamento da janela de semeadura, mostrou que os fatores que interferem na capacidade operacional são a largura do implemento, a velocidade e a eficiência operacional. “A eficiência operacional é o ponto que se pode melhorar mais facilmente. Mas, para isso, o primeiro passo é medir e identificar onde ocorrem perdas de tempo e onde é possível ser mais eficiente”, afirmou Freitas.

Equipe capacitada
Embora a tecnologia auxilie o produtor, os painelistas destacaram que é preciso fazer o uso correto dos recursos disponíveis e ficar atento às regulagens e às manutenções dos equipamentos. “O mais importante é construir uma equipe. Podemos comprar a máquina que quisermos e sementes de qualidade, mas precisamos de uma equipe capacitada para fazer a semeadura bem feita”, ressaltou Leal. O painel sobre qualidade na instalação da lavoura foi moderado pelo pesquisador Fernando Henning, da Embrapa Soja.