Coluna Agricultura 4.0, escrita pelo professor da Fatec e Pesquisador do Laboratório de Monitoramento e Proteção de Plantas – LMPP, Carlos Otoboni.
Ao visitar a Agrishow neste ano, além de algumas evoluções tecnológicas apresentadas, uma coisa se destacou: o aumento de fabricantes e equipamentos para a aplicação de insumos no sulco de plantio.
Acredito que muitos dos agricultores têm dúvidas sobre qual forma usar para a aplicação de insumos na semeadura. Obviamente, estamos falando em tecnologia de aplicação, onde ambas as soluções apresentam suas vantagens e desvantagens de utilização.
A modalidade de aplicação via tratamento de sementes (TS), que é ainda dominante, apresenta como vantagens a facilidade de adoção pelos agricultores; baixo custo, visto que os insumos “pegam carona com a semente”; o próprio avanço tecnológico das formulações para o TS com o surgimento do tratamento de semente industrial (TSI). Nesse último caso, talvez resida o alicerce da manutenção desta técnica no campo, pois garante certa qualidade do tratamento e o uso de formulações apropriadas, dos diferentes produtos a serem administrados no plantio (inseticidas, fungicidas, bioprodutos, estimulantes, micronutrientes, etc.).
As desvantagens do TS podem ser as seguintes: se não feito adequadamente, trazer uma distribuição irregular dos insumos no tratamento; uso excessivo de insumos adicionados ao TS; misturas de insumos inapropriadas/antagônicas; riscos operacionais de tratamento e manuseio dos produtos do TS e da semente; morte da semente e a própria limitação de espaço da semente como agente transportador de insumos, que inviabiliza, muitas vezes, a concentração correta do produto na aplicação.
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Ainda quando se olha para o avanço do uso de bioprodutos, as intempéries a que essa semente pode passar no armazenamento-transporte-semeadura podem levar à morte de parte ou de totalidade do microrganismo, inviabilizando o bioproduto. Com efeito, em algumas mensurações de campo, já foram constatadas temperaturas de até 70ºC na caixa de sementes. Muitos bioinsumos, tais como os inoculantes, utilizam células vivas nas formulações e não estruturas de resistência, que podem ser inativadas por essa condição ambiental inadequada.
Nesse sentido, alguns agricultores, técnicos e indústrias viram, na aplicação no sulco de plantio, a solução para mitigar os problemas do TS. Ou seja, ao invés de usar a semente como veículo, aproveitar aquele momento mágico, de uma fração de segundos, em que semeadoras abrem e fecham o solo para a semeadura e, neste momento, fazer também a aplicação de insumos de forma mais apropriada e qualificada. Assim, deixar a semente fazer aquilo para o qual foi projetada, ou seja, germinar e estabelecer a planta no campo, sendo os insumos aplicados à parte com tecnologia.
Esta não é uma técnica muito recente, visto que, em conversa com um grande industrial da área, ele disse que o primeiro equipamento para a aplicação no sulco de plantio foi desenvolvido no Brasil no final de década de 1960, para ser usado na semeadura de soja no meio do cafezal como adubo verde para o cafeeiro.
A aplicação no sulco de plantio traz como vantagem o maior controle do insumo na aplicação
Dessa forma, a aplicação no sulco de plantio traz como vantagem o maior controle do insumo na aplicação, garantindo que este chegue ao solo na concentração e estabilidade garantidas pelos fabricantes dos produtos, mitigando, portanto, as desvantagens do TS. Talvez, a única desvantagem desse procedimento seja o custo da aquisição do equipamento, mas que pode ser minimizado na própria safra de aquisição devido aos ganhos na operação e aos resultados qualitativos da aplicação.
Evidente que esse “possível ganho” depende da qualidade do equipamento e isso é uma preocupação que se apresenta na avalanche de ofertas desses equipamentos no mercado. Como disse anteriormente, é uma questão de tecnologia de aplicação, existindo equipamentos no mercado de maior e menor qualidade e isso deve ser levado em consideração na aquisição do equipamento.
Bons equipamentos promovem uma aplicação de qualidade no sulco de plantio, bem direcionados ao alvo (sulco/semente), sem derivas, erros de deposição e entupimentos. Devem ser construídos com tanques que preservem as condições da calda, notadamente em relação às altas temperaturas do campo (revestimento térmico) e que tenham autonomia suficiente para não atrapalhar a operação de semeadura, gerando mais paradas e manobras, por exemplo. Alguns equipamentos mais sofisticados apresentam controladores eletrônicos de vazão, regulagem, pressão, pH, corte de seção, limpeza sistêmica do circuito e monitoramento da operação em tempo real. Dependendo da configuração, pode-se fazer o uso de múltiplos insumos sem a necessidade de misturas no tanque, possibilitando, assim, aplicação e produtos incompatíveis em misturas de calda.
Fica claro que há uma tendência de ampliação do uso da aplicação no sulco de plantio, tendo em vista o aumento da oferta de equipamentos pelos fabricantes e dos ganhos quantitativos e qualitativos da operação. Todavia, isso não deve excluir totalmente o TS; e as duas modalidades de aplicação são complementares, de forma a aumentar a precisão, qualidade e segurança no uso dos insumos dessa modalidade de aplicação.