Os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia podem impactar o mercado do trigo, tanto no Brasil como no mundo. A Rússia é o maior exportador mundial de trigo. Já a Ucrânia ocupa a 4ª posição neste ranking.
Juntos, os dois países são responsáveis por cerca de 30% da exportação mundial do trigo. Ou seja, corresponde a 210 milhões de toneladas. É inevitável que a crise da Ucrânia afete diretamente os preços do trigo em nível mundial.
Embarques
Portanto, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) divulgou nota, onde afirma que, se o conflito armado se prolongar com a resistência da Ucrânia, a suspensão dos embarques nos portos ucranianos deve continuar. A entidade prevê, então, que importadores concentrarão suas demandas nos demais exportadores, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina.
Isto poderá manter os preços em níveis elevados. O mercado global de trigo, nos dois últimos anos, foi fortemente afetado por crises climáticas nos países líderes, além da pandemia da Covid. O que impactou o posicionamento de estoques de segurança e fretes marítimos, cujos valores sofreram aumento de até três vezes.
Alta
Por tudo isso, o mercado mundial de trigo precificou, de forma contundente, indicando que visualiza um alongamento da crise. Até o dia anterior a esta nota, 8 dias da invasão da Ucrânia, o cereal subira 35,7% nos Estados Unidos.
A Argentina, nosso maior fornecedor, acompanha esta tendência. A escalada altista ainda não se estabilizou e continua em forte ascensão.
Portanto, o setor apresenta grande dificuldade em precificar o cereal. Pois isto depende da duração e da abrangência da crise. Esta visão do mercado tem gerado oscilação nos preços.
Oscilação
“Na Argentina, nosso maior fornecedor, os preços também estão oscilando. Será necessário assim, maior definição do desmembramento da crise para posicionamento do mercado”, diz a nota.
Segundo análises da Abitrigo, o Brasil não terá problemas de abastecimento do cereal no curto prazo. Isso porque a Argentina já sinalizou ter trigo suficiente para atender às necessidades brasileiras. Além de que o volume vindo da Rússia é muito pequeno e não há registro de compras do trigo da Ucrânia.
O mesmo não ocorre em relação aos preços no mercado global e no mercado interno. Um fator que pode aliviar um pouco esse aumento é a queda no valor do dólar em relação ao real nos últimos dias. Entretanto, está longe de ser significativo. O que pode compensar, de certa forma, os aumentos recentes em Chicago.
Tendência
Mas a tendência é de que o patamar de preços fique bem elevado, nos próximos quatro ou cinco meses. A previsão é de se estabilizar ou começar a cair somente a partir do mês de julho/agosto, com a entrada da safra do hemisfério norte.
Outra questão que pode impactar o preço do trigo, segundo a entidade, é a incerteza em relação aos fertilizantes. Pois a Rússia é um dos maiores produtores do mundo e também fornecedor para o Brasil. Além disso, há a influência dos fundos de investimento, que aumentaram suas posições nas commodities, ampliando a volatilidade dos preços.
Dependência
O trigo no Brasil foi e continua sendo um problema sério, por conta da dependência, pois o país segue muito vulnerável. Para se ter uma ideia, 60% da demanda interna de trigo é atendida por importação externa, Desse total, 85% é originário de um único país, a Argentina.
O mercado de trigo enfrentou muitas questões nos últimos anos, como a pandemia, o frete e agora essa questão do conflito. O Brasil vive novo período de grandes desafios para o setor do trigo.
Mais do que isso, esse conflito é um momento de muita tensão e incerteza para o mundo. O que deve ser acompanhado com cautela e atenção por todos.