Organização sanitária inverte ciclo de abordagem curativa para preventiva, reduz custos
e maximiza potencial produtivo do rebanho
O manejo sanitário é um conjunto de técnicas que visa à prevenção, à eliminação ou à diminuição da ocorrência de determinadas doenças, proporcionando boas condições de saúde aos animais para expressar ao máximo seu potencial. Os procedimentos estratégicos relacionados à sanidade têm cada
vez mais importância na propriedade rural para minimizar a abordagem curativa, que gera mais gastos e maior chance de prejuízos econômicos pela perda de animais, especialmente em um cenário de valorização dos preços de bovinos de corte e aumento das exportações de carne bovina. Além dos cuidados sanitários, usar novas tecnologias para melhorar o ambiente e o manejo de criação dos animais tem se mostrado vantajoso para o aumento da produtividade e para a melhoria da qualidade da carne, bem como para diminuição de custos e aumento de rentabilidade. Nesse caso, o melhor e mais baixo investimento está na adoção de boas práticas de manejo desde o nascimento até o abate. Ao realizar rotinas de manejo adequadas, que atendam às necessidades básicas comportamentais de um bovino, podem-se prevenir gastos futuros com possíveis enfermidades causadas por manejos inadequados. Além disso, práticas estressantes podem dificultar ainda mais o manejo, provocando maior tendência de fuga e dificultando todas as atividades do dia a dia (alimentação, cuidados sanitários e práticas zootécnicas). Os manejos sanitários estão entre os mais frequentes na rotina de uma propriedade, principalmente o controle parasitário e as vacinações do rebanho. Por isso, atentar-se às boas práticas durante essas atividades só tende a gerar ganhos, tanto para o produtor como para os seus colaboradores. O calendário sanitário é uma ferramenta que permite o acompanhamento e o planejamento das principais atividades de rotina na produção de gado de corte e deverá ser estipulado de acordo com a finalidade da atividade. Assim, a fazenda de cria tem um calendário e um modelo de controle diferente da propriedade de engorda e terminação, onde é fundamental priorizar os procedimentos sanitários no ingresso dos animais, evitando a introdução de doenças infectocontagiosas e parasitárias, bem como de diferentes cepas de ectoparasitas resistentes a drogas. Vacinas eletivas e obrigatórias compõem os calendários sanitários, e, a seguir, serão citadas as principais enfermidades para as quais essas vacinas são indicadas: A vacina contra a febre aftosa é obrigatória na maior parte do País, porém a vacinação está suspensa em alguns estados pelo reconhecimento de Zona Livre da enfermidade pela OIE. Entre esses estados, estão: Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e parte do Amazonas e do Mato Grosso. A primeira etapa da vacinação, nos estados em que ainda há obrigatoriedade, ocorre em maio, quando devem ser imunizados os bovinos de todas as idades. A segunda etapa de vacinação ocorre em novembro e é destinada aos animais com menos 24 meses de vida. A vacinação contra brucelose é obrigatória em todo o País, realizada em dose única somente em fêmeas de três a oito meses de idade, sob orientação de um médico-veterinário responsável. O estado de Santa Catarina autoriza apenas a utilização da vacina com amostra RB51, e as fêmeas podem ser vacinadas em qualquer idade. A vacinação com a amostra B19 é proibida nesse estado. Para clostridioses; IBR e BVD, leptospirose, recomenda-se a aplicação da primeira dose entre os três e seis meses de idade e indica-se a vacinação anual de todo o rebanho. Realizar a vacinação estratégica de todo o rebanho em regiões em que há recomendação pelo Serviço Veterinário Oficial, pela presença de colônias de morcegos hematófagos ou focos confirmados. Vale salientar que sempre deverá ser realizada a dose de reforço após 30 dias da primeira aplicação. Para locais com casos de ceratoconjuntivite, recomenda-se a aplicação da vacina antes do surgimento dos casos clínicos, a partir dos quatro meses de vida. A segunda dose dos animais primovacinados deve ser feita 21 dias após a primeira.
Protocolos sanitários para confinamentos
Para confinamentos, o protocolo sanitário pode ser dividido em duas fases. A primeira ocorrerá na entrada do confinamento, quando os animais serão vacinados contra doenças respiratórias
(IBR, BVD, agentes bacterianos), doenças clostridiais (carbúnculo sintomático,
botulismo, enterotoxemia) e raiva. Além disso, é necessário realizar o controle de parasitas com endectocida/vermífugo de amplo espectro de ação. A segunda fase ocorre 30 dias da entrada no confinamento, isso permite que a dose de reforço, exigida por algumas vacinas, possa ser
realizada.
Boas práticas de vacinação
Depois de conhecer os principais calendários sanitários, saber quando são aplicados e com qual frequência devem ser realizados, é importante que se conheça a forma mais adequada de aplicá-los, preconizando boas práticas de manejo que atendam às necessidades dos animais, gerando otimização de tempo e um adequado manejo operacional que envolve conferir estoque de medicamentos, limpeza do material, condução e contenção adequada dos animais nas instalações. Para o uso correto das vacinas, é necessário mantê-las sob refrigeração em tempo integral (em geladeiras ou em gelo), incluindo durante o seu uso na mangueira ou curral. As vacinas não podem ser congeladas, e o conteúdo deve ser homogeneizado anteriormente à aplicação. Além disso, é necessário usar a via de administração e dosagem correta recomendada pelo fabricante Para ocorrer um manejo racional durante a vacinação, deve-se sempre preconizar pessoas com experiência para a realização do trabalho. Não vacinar em
dias de chuva e sempre seguir o calendário de vacinação da propriedade, nele serão informadas quais vacinas devem ser aplicadas naquele dia e quais categorias devem recebê-las. A prática deve ser
realizada com calma, sem muito barulho nem movimentações bruscas. As instalações adequadas minimizam os riscos de ferimentos do rebanho, além de facilitarem o trabalho dos colaboradores.
Além disso, deve-se estar atento ao uso adequado das seringas e das agulhas. Cada tipo de aplicação exige uma agulha diferente, isso varia também conforme o local e a viscosidade da vacina: as mais
viscosas necessitam de agulhas com calibre maior. Agulhas tortas, sujas e enferrujadas devem ser descartadas. Caso sejam reutilizadas no mesmo manejo, as agulhas devem ser esterilizadas em água
fervente, trocada frequentemente, por, pelo menos, 20 minutos, para que se tenha uma adequada desinfecção. Controle de parasitoses As doenças parasitárias são importantes na bovinocultura, pois ocasionam prejuízos econômicos gerados pela baixa produtividade, retardo no desenvolvimento, maior condenação de carcaça, mortes etc. É importante lembrar que 5% dos parasitos encontram-se no hospedeiro e 95% destes, na pastagem, portanto medidas de controle devem ser baseadas em técnicas adequadas de manejo e uso correto dos antiparasitários. Existem diversas drogas anti-helmínticas disponíveis, com diferentes mecanismos de ação e eficácia.
Esses antiparasitários são divididos em convencionais
– C (levamisole, albendazole, febendazole) – e avançados
– A (avermectinas)
–, sendo que esses últimos agem tanto em parasitas internos como externos.
Para garantir um melhor resultado no controle das verminoses, algumas recomendações técnicas são preconizadas, como: pesar os animais, ajustando a dose de acordo com o peso, manter os animais na mangueira após dosificação para diminuir a eliminação de ovos viáveis no campo, dosar os animais antes de introduzi-los nas pastagens ou no rebanho, respeitar a dose e a via de aplicação recomendada pelo fabricante. O controle de ectoparasitas possui o objetivo de diminuir a carga desses parasitas que fazem seu ciclo de vida na parte externa do corpo do hospedeiro. Os carrapaticidas constituem uma das principais ferramentas no controle do carrapato, podendo ser utilizados por meio de
banhos de imersão ou aspersão, pulverização manual, produtos injetáveis ou pour-on. A escolha do melhor carrapaticida deve ser fundamentada em testes de sensibilidade, chamado biocarrapaticidograma, em virtude do usual problema de resistência a muitas formulações utilizadas. Por isso, atualmente, indica-se a utilização de acaricidas eficazes farmacologicamente, aplicados em períodos estratégicos, podendo
ser associados ao uso de práticas de manejo, como diferimento do campo, ou, em campos de alta infestação, quando possível, recomenda-se a utilização para agricultura, uso de pastoreio alternado
com diferentes espécies animais, roçadas, com a finalidade de diminuir a carga parasitária, manter as pastagens limpas e os níveis baixos de infestação.
Os programas de controle de carrapatos das propriedades podem obedecer à
seguinte lógica:
1) Propriedades com alto nível de infestação (seis banhos/ano): o primeiro banho carrapaticida deve ocorrer quando surge a primeira geração de carrapatos (outubro). O segundo e o terceiro banhos devem ser feitos com intervalos de três semanas, considerando a data do primeiro. Em fevereiro, ocorre a segunda geração, e, nos meses de abril e maio, a terceira. Para controlar essas gerações, indica-se outro conjunto de três banhos, iniciando na metade de fevereiro, com intervalos de três semanas entre eles;
2) Propriedades com nível de infestação médio (quatro banhos/ano): o primeiro banho deve ser feito em novembro (primeira geração), sendo o segundo banho realizado três semanas após o primeiro. Para o controle da segunda e da terceira geração, recomenda-se outro conjunto de dois banhos a partir da metade de fevereiro, com intervalos de três semanas entre eles;
3) Propriedades com baixo nível de
infestação (três banhos/ano): o primeiro
banho deverá ocorrer no início de janeiro; o segundo banho, no início de fevereiro; e o terceiro, no início de abril.