Eduarda Cardoso da Silva, Fabiana Moro Maidana, Júlio Otávio Jardim Barcellos
O tradicional desmame convencional, amplamente utilizado nos rebanhos bovinos de corte no Brasil, está historicamente ligado aos baixos índices reprodutivos do rebanho de cria, pois as baixas condições nutricionais, comuns no pré-parto, e a grande demanda energética da vaca durante a lactação dificultam a sua mantença e o ganho de peso e de escore de condição corporal, que são imprescindíveis para o retorno à ciclicidade e à repetição de prenhez na próxima estação reprodutiva.
Alguns manejos de desmame alternativos, como o desmame precoce e o hiperprecoce, foram estudados e empregados nos rebanhos de cria com o objetivo de melhorar os índices reprodutivos; no entanto, representam um grande desafio no desenvolvimento de recria dos animais desmamados. Pensando no equilíbrio entre os bons índices de reprodução e recria, comentaremos aqui um pouco sobre cada um dos principais tipos de desmame utilizados na bovinocultura de corte.
Desmame convencional
O desmame convencional é feito quando os bezerros têm entre 180 e 240 dias de vida e por volta de 180 kg de peso vivo. Esse tipo de manejo permite aos produtores desmamar bezerros pesados, porém o grande desenvolvimento dessa idade pode ocasionar competição por alimento entre a vaca e o bezerro, reforçando a necessidade de desmame em determinadas situações de disponibilidade de forragem na propriedade. Porém vale ressaltar que o desmame convencional tem como vantagem a condição fisiológica dos bezerros em já conseguirem utilizar apenas as forrageiras (desde que sejam de boa qualidade) como fonte nutricional, sem demandar, portanto, de suplementação concentrada no período pós-desmame.
Desmame precoce
Consiste na separação dos bezerros de suas mães, entre 60 e 90 dias de idade e com, no mínimo, 80 kg de peso vivo. Pode ser utilizado quando existem limitações alimentares durante o período de parição e acasalamento. Esse desmame tem como principal função assegurar uma boa prenhez das matrizes na estação de monta subsequente ao desmame. Por essa razão, o benefício do desmame precoce na melhoria da taxa de prenhez somente é obtido quando ocorre ainda dentro da temporada de acasalamento. Além de diminuir as exigências nutricionais das matrizes e aumentar seu peso, a condição corporal e a probabilidade de prenhez, uma outra finalidade do desmame precoce é antecipar a engorda de vacas que pariram sua última cria (vacas de descarte).
Desmame hiperprecoce
Este desmame não é comumente utilizado no Brasil, tem sua origem na Argentina, onde é bastante adotado. É feito quando os bezerros têm entre 30 e 40 dias e as matrizes estão muito debilitadas nutricionalmente, com riscos de perdas e com mínimas chances de repetir a prenhez se seguirem com a cria ao pé.
Para optar por um dos desmames citados anteriormente, é preciso considerar também como está a disponibilidade de alimentos a serem utilizados para a alimentação dos bezerros no pós-desmame. Como os animais jovens ainda têm baixa capacidade ingestiva de alimentos, devido ao menor desenvolvimento do seu trato digestivo em relação ao seu peso vivo, mesmo que o pasto disponível seja de alta qualidade, faz-se necessário o fornecimento de alimento concentrado, para que consigam consumir toda a quantidade de nutrientes demandada nesta fase. Esse alimento concentrado deve ser de alto valor nutricional, com ingredientes de alto teor proteico e energético, como farelo de soja e grão de milho, respectivamente. Além de, preferencialmente, incluir-se alguma fonte proteica de origem láctea na dieta; caso contrário, os bezerros terão maior resistência para ir ao cocho consumir o concentrado. Aliás, este é um ponto muito importante: garantir o aprendizado dos animais em consumir alimento no cocho, pois a suplementação concentrada será fundamental para o seu crescimento corpóreo na ausência do leite materno.
Quando devo escolher cada um?
Como em todas as atividades pecuárias, o rebanho de cria precisa ser sustentável e rentável para o produtor, e essa rentabilidade está estritamente ligada à capacidade de ganho de peso do bezerro desmamado por vaca, por ano, na propriedade. O peso ao desmame é um fator de grande impacto neste índice e pode aumentar a lucratividade na fase de cria, contribuir para o desenvolvimento na recria e para o tempo necessário para o abate e a puberdade dos animais.
É pensando nesses índices e na sua otimização que o criador deve se basear para decidir o melhor momento para o desmame. O principal ponto a ser considerado é favorecer a vaca sem prejudicar o desenvolvimento do bezerro. Ou seja, garantir condições nutricionais e de balanceamento energético às matrizes e, ao mesmo tempo em que os bezerros sigam crescendo de forma igualitária ou superior que ocorreria ao pé da mãe. Dessa forma, equalizando os fatores eficiência produtiva, condições nutricionais das matrizes e desempenho da bezerrada, o produtor vai decidir entre as opções de desmame, sem arriscar colher resultados insatisfatórios futuramente.
Começando pelo desmame menos utilizado entre os pecuaristas, o desmame hiperprecoce deverá ser escolhido quando se tem condições alimentares adversas, com baixa oferta de forragem, períodos de escassez, como estiagens severas, e quando começa a ocorrer a competição por alimento entre a matriz e o bezerro mesmo no início da lactação. Já o desmame precoce deverá ser feito em rebanhos com restrições alimentares menos severas que os rebanhos sujeitos ao desmame hiperprecoce, mas que também não terão bons índices reprodutivos se os bezerros permanecerem ao pé da mãe. Vale salientar que quanto menores forem os valores de idade e peso dos animais ao desmame, maior será o custo com alimentos concentrados para esses animais. Ou seja, quanto menor o peso ao desmame, maior é a exigência em concentrados de alto valor biológico para garantir continuidade do crescimento dos animais; portanto, atente-se a isso ao optar entre os desmames precoce e hiperprecoce!
A escolha do desmame convencional depende, principalmente, da condição de escore corporal da vaca e da disponibilidade de boas forragens e/ou suplementação alimentar, a fim de que a lactação prolongada não prejudique a repetição de prenhez das matrizes nem cause severa perda de peso, que acabe prejudicando a próxima parição e lactação. Quando a vaca é alimentada adequadamente para atender às exigências nutricionais de sua lactação e ao retorno à ciclicidade reprodutiva, mesmo com bezerro ao pé, a adoção desse desmame é viável. Além disso, faz-se necessária a disponibilidade de áreas com forragens e água em quantidade e qualidade adequadas que garantam a rápida adaptação aos animais desmamados.
Momento do desmame
Um item de destaque a ser cuidado é a condição sanitária dos animais no pré e pós-desmame. O ideal é que o produtor siga protocolos sanitários, em antecedência ao desmame, que garantam alta imunidade dos animais, favorecendo, portanto, sua resistência a possíveis infestações parasitárias e infecciosas às quais ficam mais susceptíveis nesse período. Independentemente da forma, o desmame de bezerros provoca estresses nas crias e em suas genitoras. Para que não aconteça de forma abrupta, a separação entre matrizes e bezerros poderá ser feita entre potreiros em que há contato visual entre a mãe e o bezerro, pois, desse modo, o estresse dentro do período será menor. A localização desses piquetes também deve facilitar a checagem frequente da adaptação desses animais ao novo manejo. Além disso, alguns cuidados com a ambiência – como manter os animais em locais protegidos de ventos, providos de sombra, evitando-se estresses climáticos adicionais e movimentações excessivas de transporte e manejo nesse período – também se fazem importantes.
Recomendações úteis
Uma técnica já bastante utilizada pelos produtores visando acostumar os terneiros com alimentação concentrada ou volumosa de alta qualidade é a utilização dos chamados creep-feeding e creep-grazing, respectivamente, que consistem em estruturas de cocho e/ou cercados que impossibilitam o acesso das mães; portanto, apenas os bezerros têm acesso ao alimento diferenciado (concentrado ou pasto de maior qualidade). Essa técnica antecipa o aprendizado dos animais a buscarem alimento sólido, diminui a intensidade de amamentação e gera aumento no ganho de peso dos animais ao pé da mãe. É uma alternativa de manejo que se adéqua aos diferentes tipos de desmame, trazendo também a vantagem de maior facilidade de adaptação desses animais ao período de separação de suas mães.
Por toda a complexidade de impactos que o desmame pode gerar na propriedade, reforçamos que deve ser acompanhado de perto por profissionais especializados, que, juntamente com o olhar atento do produtor, evitarão perdas de rentabilidade e produção. Dessa forma, é importante que a equipe conheça bem os manejos utilizados na propriedade e como deve ser feita a administração do rebanho, pois, sendo feita de maneira correta, será possível controlar os processos com planejamento e, a partir deste, obter resultados satisfatórios no desmame da bezerrada.