Allysson Paolinelli
Por mais que os investimentos mundiais estimulados pelos países desenvolvidos, na área da saúde, estejam ocorrendo, o mundo amarga agora a catástrofe da miséria e da fome. Além do quadro sanitário da onda viral que atingiu a superfície da Terra, nada mais inoportuno do que uma guerra, como a que estamos acompanhando, da Rússia contra um de seus ex-aliados: a Ucrânia. Não há nenhuma razoável justificativa para o verdadeiro massacre comparando-se às forças bélicas e econômicas dos dois contendores. A guerra já ultrapassou os seus próprios limites e envergonha o mundo cuja diplomacia ainda nada pôde fazer de objetivo para pôr fim a essa injustificável situação para a qual caminhamos.
Na década de 1950, o professor Norman Borlaug conseguiu grandes avanços na produtividade dos alimentos mais consumidos à época, evitando a morte pela fome e pela miséria de, pelo menos, um bilhão de pessoas famintas na face da terra. Os seus trabalhos com a tropicalização do trigo no México e o avanço na produtividade do milho ainda que na América e, posteriormente, os trabalhos de melhoria da produtividade do arroz no sudeste asiático foram fundamentais para que o mundo prorrogasse a catástrofe da fome e da miséria, o que valeu ao professor Norman o Prêmio Nobel da Paz.
As advertências de Thomas Robert Malthus, prevendo o crescimento da população humana, no planeta, no equivalente a uma equação geométrica na demanda por alimentos e o esgotamento das terras férteis do hemisfério temperado que, por 4 mil anos, sustentaram o abastecimento, levaram o estatista e seus seguidores a anunciarem a teoria Malthusiana: o mundo passará fome muito mais cedo do que se pensa.
Especialmente os países tropicais cuja fertilidade de suas terras era muito baixa, dependeram diretamente do abastecimento dos alimentos provindos das regiões temperadas do globo. Na década de 60 do último século, a teoria Malthusiana confirmou-se. O mundo entrava numa nova fase de pobreza, miséria e fome.
Desta vez, foi o Brasil o país que acreditou na possibilidade de recuperação de seus solos inférteis em vários dos seus biomas e, especialmente, no Cerrado brasileiro
cuja área se expande no planalto central em 2 milhões e cento e setenta mil quilômetros quadrados. Foi a primeira vez que se investiu, de fato, em tecnologia para que as regiões tropicais deixassem de ser um problema para o abastecimento mundial.
Em menos de 30 anos, desenvolveu-se, aqui no Brasil, a primeira agricultura tropical competitiva e altamente sustentável. O Brasil mostrou que suas terras milenarmente degradadas poderiam ser recuperadas, apresentando vantagens comparativas, pois, no clima tropical, aprendemos a cultivar nossas terras por 12 meses consecutivos no ano. Com a recuperação da fertilidade dos solos antes não muito acreditados, conseguiu-se produzir aqui alimentos muito mais saudáveis, de melhor qualidade e de preços competitivos. Em uma oferta constante de safras sucessivas, a área tropical começa a ganhar os mercados carentes.
Hoje, o Brasil deixou de ser um grande importador de alimentos para se transformar num dos maiores exportadores que, segundo os órgãos competentes, já alimenta cerca de 200 países e mais de 1 bilhão de pessoas que são dependentes na alimentação.
Como a estúpida crise de guerra gera destruição de empregos e rendas, temos de confiar que o produtor brasileiro terá o papel muito importante daqui por diante. Somos hoje o grande berço ecológico que o mundo tem, representado pelos nossos seis biomas que ainda preservam 63% de suas vegetações nativas, mantendo, como é altamente desejável, o maior berço biológico com que a humanidade pode contar hoje. O mais importante de tudo é que só nas áreas já antropizadas o Brasil tem reservas para produzir mais de três vezes o que atualmente já produzimos; isso conforta os estudiosos do abastecimento mundial. Sabemos – estatisticamente – que, em 30 anos, o mundo alcançará a cifra de 10 bilhões de habitantes, mas com muito mais renda familiar que os habitantes de hoje. E, com isso, haverá muito mais capacidade de ofertar a demanda que, aliás, será crescente. Respeite, portanto, este produtor brasileiro que tem a missão de evitar a catástrofe já anunciada.
Engenheiro-agrônomo, produtor,
presidente-executivo da Abramilho e
ex-ministro da Agricultura