Coluna Glauber em Campo, escrita pelo produtor rural, presidente da Câmara Setorial da Soja e da Associação de Reflorestadores do MT, e diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira.
Impressionante ver o quanto o milho brasileiro se transformou, atualmente, na cultura mais importante. Há poucos anos só se falava na soja. O milho, um patinho feio, era protagonista de viagens de lideranças a Brasília para mendigar prêmios para a exportação, uma vez que sobrava milho e isso fazia com que os preços fossem insignificantes. Uma saca de milho valia menos que um Big Mac, mas, há uns seis anos, essa realidade mudou. O que se chamava de safrinha agora é segunda safra – e muito maior que a primeira. O milho que precisava de prêmios do Governo para ser exportado, agora é disputado por nações.
O milho é o grão mais produzido no mundo. É mais de 1,2 bilhão de toneladas. E o Brasil passa a produzir 10% desse volume. Há pouco tempo na quinta posição entre os exportadores, perdendo para a Argentina e a Ucrânia, já ocupa a segunda posição, pode superar os Estados Unidos e se tornar o maior exportador do grão nos próximos anos. Isso se deve ao Brasil ser um dos poucos países que possui áreas para a expansão da sua agricultura. São milhões de hectares de pastagens que devem ser convertidas.
A segunda safra de milho, no Brasil, vem ganhando área e produtividade. Há poucos anos, colhiam-se 3,6 toneladas/hectare. Agora um número como 6 toneladas por hectare é considerado como baixa produtividade. O campeão nacional de 2022, Cristian Dalbem, produziu, em 2 mil hectares, 13.200 kg/ha, ou seja, 220 sacas de milho por hectare. Isso demonstra o potencial que temos no Brasil para dobrar nossa produção nos próximos anos. Afinal, temos área e ganhos de produtividade pela frente; é isso que faz com que o mundo fique de olho no produtor brasileiro e em sua produção crescente.
Nesta safra 2022/23, a expectativa é de recorde de produção. A Conab estima mais de 120 milhões de toneladas. Com a “safrinha”, deixa o diminutivo de lado e se prepara para bater o seu recorde de produção, a depender do desempenho da segunda safra, mas que corresponde a 72% da produção nacional. O dado foi apresentado na abertura da sétima temporada do projeto Mais Milho, momento em que se reuniram especialistas e autoridades do agronegócio brasileiro para debaterem sobre oportunidades e desafios do plantio do cereal em 2023.
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Todo ano o grande desafio é plantar a segunda safra dentro do calendário ideal. Nessa safra, as chuvas em janeiro e em início de fevereiro vieram com força total, atrapalhando um pouco a semeadura, que tem seu período ideal dentro do mês de fevereiro. Porém, tudo depende da chuva que virá nos meses de abril e maio. Se for um ano em que a chuva se alongue, a produtividade está garantida, mesmo que o produtor tenha que estender seu plantio até meados de março. Mas, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o plantio de fevereiro ficou dentro da média histórica.
Esse atraso no plantio, considerando o ano anterior, não foi apenas no Mato Grosso. Ocorreu também no Paraná – segundo maior produtor de milho, onde a área plantada até a primeira quinzena de fevereiro foi menor que a do ano anterior. Mas, felizmente, os produtores têm, no Brasil, uma capacidade de plantio muito grande. No sul do país, a preocupação não é somente com a chuva, mas também com a geada que pode vir antes e causar prejuízos. Resumindo, a expectativa é positiva, mas dependemos do amigo São Pedro para maiores produções.
Um dos grandes desafios, nessa safra, é a cigarrinha, que vem deixando a cadeia do milho apavorada, visto ser uma praga de difícil controle. A cigarrinha não é um inseto novo a atacar nossas lavouras. Os primeiros relatos sobre essa praga datam de 1930. No entanto, foi com a grande expansão da segunda safra que a praga se tornou mais frequente e passou a apresentar maior resistência às aplicações de inseticidas. A partir da expansão da segunda safra, o inseto passou a sobreviver ao longo de todo o ano, o que aumentou a população. Novas variedades de milho com maior potencial produtivo passaram a apresentar maior sensibilidade ao complexo do enfezamento.
Apesar dos desafios com o controle de pragas e da infraestrutura, o Brasil continua ganhando destaque no setor do milho. E, uma vez que os desafios de 2023 forem superados, sua produção pode chegar a 94,9 milhões de toneladas na segunda safra, segundo a Conab. Os EUA têm mantido sua produção próxima a 350 milhões de toneladas, Entretanto, devido a uma safra passada com dificuldades climáticas e falta de chuva, a produção recuou em quase 40 milhões de toneladas; as exportações previstas para este ano são de 48 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Outro impulsionador das exportações é a entrada da China como compradora de milho brasileiro. Em apenas três meses, o país asiático já embarcou cerca de 2,1 milhões de toneladas do cereal, tornando-se o principal destino neste início de ano, segundo dados do Ministério de Indústria e Comércio Exterior do Brasil. Com isso, a expectativa é que a China – já em 2023 – seja o maior importador de milho do Brasil.
Como podemos ver, uma grande oportunidade está posta ao milho brasileiro. Agora é rezar para que nada atrapalhe o crescimento da produção desse grão que vem movimentando o país.