Coluna Na Varanda, escrita por Francisco Vila, economista e consultor internacional
A melhor forma de evoluir é aprender com as experiências dos outros. Porém, na nova realidade, em constante mudança e cada vez com maior interdependência dentro e entre as cadeias produtivas, ajustes contínuos tornaram-se obrigatórios. Vale lembrar que a participação da criação de valor da fazenda representa apenas um quarto do preço dos alimentos no supermercado.
Mas, mesmo na fazenda, temos evoluções tecnológicas, comerciais e financeiras que exigem a ampliação do tradicional olhar do dono. Tudo começou com o crescente foco na genética animal no final do século passado; depois passou para novos conceitos para aumentar a produtividade do pasto e, ultimamente, maior atenção é dada a tudo que tem a ver com o solo.
Dessa forma, o produtor rural moderno precisa coordenar e depois sincronizar um número crescente de aspectos que geram o chamado lucro sistêmico. A geração dos nossos pais, que produziu carne com animais abatidos entre 35 e 45 meses, somente gastou dinheiro e energia com sal e vacina. Hoje, o espectro da produção bovina abrange entre 20 e 30 componentes em torno dos pilares principais da produção. Já que toda essa evolução ocorreu em apenas 30 anos, e considerando que o dono da fazenda hoje vive 20 anos a mais do que a geração anterior, temos aqui um cenário que ultrapassa a complexidade da maioria das empresas industriais ou de serviços.
“Em cada um desses segmentos de contatos, vale a pena buscar pessoas dispostas a compartilhar suas experiências e a facilitar o acesso a novos contatos. Trata-se de conexões valiosas que, normalmente, não são cobradas“
Perante esse panorama, surge a necessidade de construir mecanismos para a tomada de decisões no campo e que atendam tanto a complexidade como a velocidade das mudanças. Combinando as redes de amigos e vizinhos com os contatos nas entidades de classe e o acesso ao conhecimento via internet e redes sociais, resta a preocupação com a gestão racional de um universo ilimitado de informações.
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Assim, entra o que podemos chamar de “mentoria espiral”. Entre a nossa realidade concreta, na fazenda, e o infinito universo de dados, informações e conhecimentos, nós precisamos construir mecanismos de filtro que transformem as dezenas de opções de soluções em mapas concretos para o nosso processo de decisão. Esses filtros são fontes de orientação que envolvem várias redes de comunicação. Primeiro, temos os vizinhos que compartilham conosco o clima, a infraestrutura e as redes comerciais. Depois, podemos contar com o conhecimento que nosso veterinário adquiriu ao longo dos anos em fazendas semelhantes em nossa região. O próximo passo envolve os colegas do sindicato ou da cooperativa. Além das conversas sobre novas tecnologias, o acesso a pessoas ligadas à compra e à venda de insumos e animais aumenta a segurança na tomada de decisões. E, no final, podemos aprender com os jovens técnicos do Senar e Sebrae sobre o quase infinito número de aplicativos que servem para gerenciar processos e pessoas.
Em cada um desses segmentos de contatos, vale a pena buscar pessoas dispostas a compartilhar suas experiências e a facilitar o acesso a novos contatos. Trata-se de conexões valiosas que, normalmente, não são cobradas. Os consultores profissionais trabalham num ambiente de assessoria, treinamento e, como é mais moderno, de coaching. Ou seja, eles são remunerados por esses serviços. As trocas de informações com vizinhos e as outras fontes identificadas costumam ocorrer de forma gratuita. Essa transferência de conhecimentos é praticada desde os tempos antigos da Grécia e representa a cultura da Mentoria. Devemos, então, procurar pessoas de referência nas diversas entidades para estabelecer um diálogo contínuo. Em trocas de experiências valiosas gratuitas, oferecemos o compartilhamento de nossos aprendizados, incluindo erros, gols marcados e contatos com pessoas de confiança. Dessa forma, construímos uma plataforma de mentoria no campo, uma autêntica estratégia de ganho-ganho.