Estabelecer uma relação de equilíbrio entre nutrientes é a maneira mais recomendada para deixar os ambientes agrícolas preparados para altas e sustentáveis produtividades. Mais do que a quantidade disponibilizada às plantas, interação adequada entre os elementos é o mais importante. E as práticas e ações para uma boa e sustentável fertilização de solo vão muito além, como a – precisa – aplicação à taxa variável até a importância da adubação para o país ampliar de maneira significativa a produção agrícola
Thais D’Avila
O produtor Nino Mosena, de São Gabriel do Oeste/MS, testemunhou de uma safra para outra a diferença de melhorar a nutrição do solo. Nas duas propriedades da família, a adubação a taxa variável não era utilizada até pouco tempo atrás, mesmo com as máquinas equipadas com a tecnologia. “A partir da safra 2021/2022 já observamos uma maior qualidade da produção. Uma lavoura mais homogênea em altura e volume. Não vimos parte do talhão com plantas mais murchas e outras mais robustas”, afirma Mosena, que está muito feliz com o resultado. Para potencializar o uso de nutrientes e defensivos, a empresa da família, a Vó Negrinha Agro, também trabalha com biológicos para ajudar no controle de nematoides e doenças do solo.
Na calagem, nesta safra será feita uma correção mais acentuada. Mosena, que é arquiteto de formação e especialista em agronegócio, tomou algumas decisões junto o pai para inovar também neste quesito. “Antes meu pai fazia a calagem a cada três ou quatro anos, à taxa fixa. Agora vamos fazer a calagem a partir da análise de solo e utilizando nossas máquinas para aplicação a taxa variável”.
A adoção das novas técnicas promoveu um ganho em dez sacas por hectare no milho, utilizando os produtos da Yara na adubação pós-emergência. “Mesmo não tendo a testemunha para a adubação de base, só o resultado visual que a gente teve, e a produção geral, em que subimos quase quatro sacas, já é revelador”, afirma. Ele diz que todo o manejo é mais cuidadoso, e que foi um somatório de atitudes que promoveram essa diferença. “Meu recado para o produtor é que hoje em dia não tem desculpa e nem espaço para a preguiça. Tem que olhar e dar um cuidado especial, já que a tecnologia está aí”, recomenda.
Segundo ele, tudo se reverte em resultado na produção final. “No cenário atual com alto custo de produção e queda nos preços de venda, quanto mais conseguir agregar na produção e reduzir custos, melhor”, acrescenta. Mosena pontua que se conseguiu melhorar o resultado sem gastar mais em adubos.
Macros e micros em equilíbrio
Ao se falar em nutrição e sanidade de planta, é fácil fazer uma relação entre a alimentação e a saúde humana. Uma pessoa bem alimentada é mais saudável e, provavelmente, terá mais resistência em caso de contato com alguma doença, ou se recuperará mais rápido. Para o professor da Universidade de Passo Fundo/RS e pesquisador na área de fisiologia no campo Geraldo Chavarria, o primeiro aspecto a ser enfatizado é o equilíbrio. “Não é só sobre a quantidade de nutrientes que a planta precisa, mas o equilíbrio e a relação correta entre eles”, destaca.
Para Chavarria, uma planta bem equilibrada nutricionalmente tem uma capacidade maior de tolerar estresses tanto bióticos – causados por organismos vivos, como fungos e insetos -, quanto abióticos, aqueles provocados por excesso de calor ou falta de chuva, por exemplo.
E conforme o professor, alguns elementos podem provocar um impacto maior no funcionamento da planta. A relação entre nitrogênio e potássio, independentemente de quantidades, já que cada cultura tem a sua necessidade, é uma fundamental. “Toda vez que eu tiver uma quantidade excessiva de nitrogênio e faltante de potássio em uma planta, a tendência é que ela tenha um crescimento maior. Ela vai gastar mais energia proteica e, consequentemente, toda a parte de polímeros de carbono que dão sustentação, que dão proteção, será reduzida”, afirma Chavarria. Assim, ocorre a vulnerabilidade para acamamento ou para sofrer com algum patógeno, algum fungo específico.
Já com relação a um aspecto abiótico, como a restrição hídrica, o elemento potássio é o mais importante, segundo o professor. “Não é o único, pois sempre caímos na questão de equilíbrio. Mas uma planta bem nutrida com potássio ela tem uma capacidade de fazer o que chamamos de uma osmorregulação. De puxar água pra si com efetividade maior”. Ele explica que historicamente na natureza, o potássio é o elemento que atua como ferramenta para contribuir na capacidade da planta puxar a água. “Se em uma lavoura de soja deficiente em potássio entrar um veranico, a chance de ter um problema dentro deste contexto passa a ser maior.”
Outros nutrientes têm papel importante na manutenção da saúde da planta, mesmo em ambientes hostis. Os estresses de maneira geral geram as espécies reativas de oxigênio. “São sujeiras, e as plantas têm o desafio de transformar essas sujeiras em água. Desta forma, elas gastam enzimas e compostos não-enzimáticos para isso”, descreve Chavarria. Para ajudar nesta composição enzimática existem elementos minerais como manganês, cobre e zinco que são cruciais. “Por isso, mais um ponto relevante que uma planta desequilibrada de elementos como esses – ou por uma limitação natural do solo ou porque eu fiz uma aplicação de calcário em superfície e indisponibilizei elementos como esses – que eu posso fazer com que falte e com que a planta tenha uma limitação maior”.
O professor pontua ainda que existem algumas formas de aumentar certos elementos e induzir a planta a se proteger mais. Menciona um trabalho com cobre aplicado na cultura da soja, onde foi aumentada a deposição de um polímero de carbono importante na planta que é a lignina. “E toda a vez que nós tivermos mais lignina nas folhas, nós tivemos menos problemas de doença fúngica”.
Sustentabilidade em todas as pontas
Uma boa nutrição de plantas começa com um diagnóstico eficiente, para que seja feita a recomendação da dose certa, com equilíbrio e no tempo adequado. A afirmação é do diretor de desenvolvimento de mercado da Yara Brasil, Guilherme Schmitz, essa medida já contribui para a boa eficiência de uso do nutriente e, consequentemente, para uma maior sustentabilidade ambiental e econômica da produção.
A própria Yara Fertilizantes também tem apostado em sustentabilidade em várias pontas do negócio. “Na Europa, a Yara já vem produzindo fertilizantes com menor pegada de carbono, ou baixa pegada de carbono, com catalizadores que ela coloca no processo produtivo que diminui a emissão de óxido nitroso na produção de nitrogenados”, explica Schmitz. Ele afirma que no Brasil no ano que vem já terá produção neste sentido de green fetilizer, fertilizantes verdes com pegada ainda mais reduzida ou neutra de carbono. “Tem algumas vias para gerar essa eficiência ambiental, seja produzindo mais ou usando fertilizantes com pegada mais reduzida de carbono”. A vantagem sobre essa consciência ambiental, que segundo Schmitz já está bem presente para o agricultor brasileiro, é que vem evoluindo a possiblidade de rentabilizar isso ao produtor. “Ele começou investindo. Tudo tem um custo, e ele também quer ser beneficiado, quer colher os frutos”.
A chegada de produtos mais modernos em vários aspectos e que custam mais caro, às vezes é recebida com ceticismo por grande parte dos produtores. Para contribuir com a tomada de decisão para a adesão a estes produtos com maior valor agregado, a Yara tem um programa chamado Investimento Confiável. Schmitz explica que o custo extra que o produtor tem ao optar pelo investimento na tecnologia da empresa é assegurado caso não reverta em produtividade. “Se custa um saco ou saco e meio – ele vai ter três, quatro ou até cinco sacas no final. A gente assegura esse extra investimento do cliente. Se lá no final ele não colheu a mais para pagar o investimento, a diferença a gente retorna ao produtor”, descreve. É claro que tudo e feito a partir de um diagnóstico rigoroso, acompanhamento técnico e auditoria independente. Atualmente são 76 clientes experimentando o programa, em 40 mil hectares em diversos estados. A média líquida de retorno, fora o custo, foi de 1,4 saca de soja a mais.
Diagnóstico é o primeiro passo
Independentemente do tamanho do produtor e da capacidade de investimento, a dica do diretor é para que busque um profissional para fazer o diagnóstico, uma boa análise química, física e biológica, e conseguir entender a sua realidade. “É preciso saber o manejo histórico, o que ele plantou, quais foram as últimas safras, quanto ele produziu, a expectativa para aquela cultura, e o material genético que ele vai usar. E aí sim, definir qual a necessidade nutricional”, orienta.
Equilíbrio é a palavra-chave, conforme Schmitz, para decidir qual a adubação ideal que ele vai precisar e a partir daí partir para a parte financeira, buscar a melhor condição para aquele produto que ele escolheu. “Entender sua própria realidade para fazer um bom planejamento e isso para qualquer tipo de produtor: grãos, café, frutas ou hortaliças”.
Para produtores que não se enquadram no programa do Investimento Confiável a Yara disponibiliza em um portal, em seu e-commerce e o agricultor pode solicitar uma recomendação para sua área e para a cultura que ele tem. “A gente tem parametrizações nos nossos sistemas de recomendação para 33 culturas”, afirma Schmitz, que reafirma a importância do diagnóstico, já que para obter a recomendação, o produtor precisa entrar com várias informações em um formulário. “O conhecimento é acessível e a parte digital ajuda isso”.
Taxa variável para N é possível
Metade do fertilizante agrícola mais utilizado no mundo é desperdiçada. O nitrogênio, diferentemente de outros nutrientes que já utilizam agricultura de precisão, não tinha, até pouco tempo, uma forma de realizar a distribuição à taxa variável. Embora a agricultura de precisão tenha contribuído para melhorar a eficiência da adubação ao longo dos anos, quanto ao nitrogênio o país está na mesma eficiência desde a década de 1970, já que sem saber onde precisa mais ou onde pode reduzir a aplicação, o agricultor acaba aplicando mais do que o necessário.
Os dados são da empresa Auster, que desenvolveu uma ferramenta para usar o sensoriamento remoto e câmeras multiespectrais embarcadas em drones para medir exatamente qual a necessidade de nitrogênio em cada parte do talhão. O Smart N utiliza algoritmos inteligentes para calcular a necessidade do fertilizante, sem a necessidade de coletar amostras de solo. “Nas análises de solo temos potássio, fósforo e pH. Mas o nitrogênio, que é o nutriente mais absorvido pelas plantas não aparece, pois tem instabilidade no ambiente. Uma amostra de nitrogênio não é confiável ao longo do tempo”, explica Saulo Penna Neto, diretor-executivo da Auster.
A empresa, uma startup gaúcha que nasceu em 2019, já fornece recomendação para 30 mil hectares em vários estados brasileiros, em especial nos arredores de Unaí/MG, onde tem um escritório. “Num raio de 150 quilômetros ao redor de Unaí está 70% da área irrigada do país, é um local estratégico”, afirma Neto. E ser irrigante é um dos critérios para poder adotar o Smart N para as culturas de milho, feijão, trigo e algodão. “O produtor que utiliza a irrigação não está para brincadeira. Ele fez um investimento e precisa pagar, então tem que produzir o máximo. Ele é mais propenso a usar tecnologia como a nossa”, avalia.
A ideia surgiu a partir da demanda de um cliente que já usava os serviços da empresa para outras atividades. E para a jovem startup, a questão ambiental e o protagonismo do nitrogênio também foram motivações para trabalhar com esse nutriente. “Basicamente é o fertilizante que foi a virada de chave na agricultura mundial. A gente pode definir, nos anos 1950, como o antes e o depois da agricultura nitrogenada”, afirma Neto. Já em relação à questão ambiental, o empresário cita o resíduo do uso do nitrogênio – o óxido nitroso – um importante gás de efeito estufa. “Colocar o nitrogênio na medida certa para nutrir a planta, e não gerar excesso, isso é sustentabilidade ambiental e ganhos econômicos para o produtor”.
E em ganhos econômicos, Neto cita incrementos de cinco sacas/hectare no feijão, de dez a 25 arrobas a mais por hectare de algodão e, no milho, de oito até 23 sacas por hectare, comparando com o cultivo convencional, sem o uso da ferramenta. “Em Minas Gerais, tivemos um cliente que aumentou em dez sacas por hectare a produtividade, reduzindo a aplicação de nitrogênio à metade, imagina o impacto econômico disso”, conta.
A experiência do campeão brasileiro em milho
A irrigação fez a diferença para o resultado excepcional no cultivo irrigado. Nas áreas de milho sequeiro, a colheita média foi de 100 sacas por hectare. Mesmo assim, bem superior à produtividade média do estado para o milho de sequeiro, que foi de 73 sacas por hectare. Para Librelotto, a boa adubação fez a diferença para a planta resistir mesmo com a intempérie. “É como uma pessoa. Bem alimentada e saudável, vai lidar melhor com dia frio ou quente, com pés molhados, etc. A produtividade de sequeiro foi ruim, mas isso foi atenuado por uma planta que foi mais bem nutrida. Sem dúvida ajudou, embora não tenha resolvido”, explica.
Ele foi um dos produtores que apostou na adubação à taxa variável para nitrogênio, com o Smart N. A primeira experiência aconteceu na safra 2020/21 e, com resultados tão bons, adotaram para toda a área já na safra 2022/23. “De cara eu vi que seria a solução para nossa empresa. Há tempos que procurávamos uma alternativa para distribuir nitrogênio à taxa variável como fazíamos com outros nutrientes”, conta Librelotto.
Para Tiago Librelotto Rubert, a adubação a taxa variável não é novidade. O sócio-fundador e administrador da Terra Boa Agrícola, de Cruz Alta/RS, usa a tecnologia há 15 anos nos 14 mil hectares da empresa, onde produz milho, soja, trigo e aveia branca. A empresa recebeu, em maio deste ano, o título de maior produtividade em milho do país, na categoria irrigado, no concurso do Getap – Grupo Tático de Alta Produtividade. A Terra Boa obteve 330,4 sacas por hectare na safra de verão. O produtor conta que não imaginavam um resultado tão bom, histórico, em um ano tão difícil para a agricultura no Rio Grande do Sul. “Entretanto, foram dias secos, com alta luminosidade e noites frias, ideais para a cultura do milho. Tinha amplitude térmica, e o milho precisa disso”, conta.
Ele revela que em algumas áreas tinha nitrogênio em excesso e em outras faltava. “Com esse mesmo dinheiro, distribuímos a ureia e começamos a utilizar onde realmente precisa”. Mesmo usando muita tecnologia e os melhores insumos, só com o nitrogênio na dose certa, foi possível um incremento médio de 7% em geral na propriedade.
Efeitos comprovados da calagem e rotação
Há 15 anos, a Fundação MT realiza pesquisa e experimentos sobre o impacto da calagem na soja. A calagem é uma das principais práticas que possibilitam a produção da oleaginosa e de outras culturas no Cerrado mato-grossense. Um dos responsáveis pelo projeto, mestre em Ciência do Solo e pesquisador Felipe Bertol, afirma que um dos objetivos com a pesquisa sempre foi o de orientar o agricultor sobre o impacto de suas decisões para a lavoura. “Nosso anseio também é o de ter dados para defender uma agricultura mais sustentável. Ao longo do tempo, esses objetivos nunca mudaram, mas foram sendo atualizados e renovados”, comenta.
A pesquisa está dividida em duas partes, sendo uma a calagem da soja e outra a rotação de culturas na oleaginosa, e é conduzida em Itiquira/MT. Com uma pesquisa de longo prazo, os resultados vêm se modificando conforme novos fatores vão ocorrendo no campo, como o aumento da população do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), as cultivares de ciclo menor e os episódios de déficits hídricos. “Nos últimos três anos temos variabilidade climática e aumento do nematoide de cisto que vem diferenciando os sistemas produtivos, contudo, ainda não é possível ter uma previsão clara da diferença da rotação e sucessão de culturas no impacto da produtividade da soja”, acrescenta o especialista.
Por fim, relativo ao solo, o pesquisador coloca que o pilar física-química-biologia tem grande impacto no potencial produtivo. “Quimicamente os sistemas são muito parecidos, mas os tetos produtivos são muito inferiores nos monocultivos em relação à sucessão e rotação de culturas e os motivos são as condições biológicas e físicas destes ambientes”, esclarece Bertol, que pontua os bons resultados na rotação com o milho.
Já em relação aos nematoides, a nematologista da Fundação MT, Rosângela Silva, afirma que a mensagem que fica após o longo período de experimento, “é que mesmo em um ambiente diversificado para o nematoide de cisto, se a cultivar resistente não for priorizada haverá perdas na produtividade”. Ela explica que o ambiente ajuda, mas as demais ferramentas de manejo não podem ser esquecidas, por isso a primeira coisa a saber é o tamanho do problema, as espécies existentes e como está a distribuição na área.
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Relevância do adubo para o Brasil dobrar a produção em pouco tempo
O manejo de nutrientes utilizado no Brasil é positivo e demonstra o quanto os produtores brasileiros são preocupados em realizar uma agricultura sustentável. A frase é do coordenador geral e científico da Nutrientes para a Vida (NPV), Valter Casarin. A entidade, que é o braço brasileiro da entidade norte-americana Nutritions for Life, procura desmistificar temas ligados ao uso de fertilizantes em uma das maiores agriculturas do planeta. Voltada para o público urbano, a NPV tem em sua composição nomes ligados à pesquisa, ciência e indústria.
Além de entidades que trabalham para essa mudança de percepção, o produtor também tem usado argumentos em defesa de sua atividade. “Eu percebo que esse movimento de trazer as verdades ou quebrar esses mitos que existem sobre agricultura, ele se tornou muito vivo hoje. Eu acredito também que as pessoas que não são do agro também estão percebendo isso”, avalia. Casarin menciona a crise dos fertilizantes, logo no início do conflito no Leste Europeu. “Começou uma preocupação se teríamos uma boa safra ou boa produção de alimentos. O assunto se tornou bastante evidenciado. Essa evidência se voltou a favor dos fertilizantes. Se deram conta de que o fertilizante traz o nutriente para o solo. Ou seja, ele é o alimento das plantas”, relembra.
O dirigente é um dos defensores e divulgadores do conceito 4Cs na adubação: Fonte Certa, Dose Certa, Lugar Certo e Época Certa. “O aproveitamento dos nutrientes quando usamos o manejo quatro C pelas culturas é muito bom e esse índice é bastante elevado no Brasil”, afirma. Uma prova disso, conforme Casarin, é que são baixos os índices de contaminação de lençol freático, lagos e rios com nutrientes.
Além disso, conforme Casarin, o olhar do produtor brasileiro em direção à sustentabilidade é notório. “Nenhum produtor gosta de usar muito fertilizante, porque é caro. Ele usa por necessidade. Nós não temos o consumo tão exagerado. A partir daí a gente já tem uma agricultura mais sustentável”, ressalta. Segundo ele, cada vez mais o agricultor tem valorizado a saúde do solo. “Com o plantio direto, nós estamos mexendo menos no solo. E quando isso ocorre, nós estamos deixando esse solo menos suscetível à erosão. Isso já cria um ambiente muito favorável”, pontua.
A atenção à microbiologia do solo é outro fator destacado pelo coordenador do NPV, que é beneficiada com a larga adoção do plantio direto. “A matéria orgânica é fonte para esses microorganismos do solo sobreviverem, mantém o solo com umidade e temperatura mais adequadas e faz com que esses microorganismos reciclem e solubilizem nutrientes que estão no solo de uma maneira muito mais ativa.”
Para matéria orgânica e os microorganismos fazerem seu papel correto na produção agrícola, outro fator é importante: a calagem. É a adoção desta prática que vai manter os nutrientes disponíveis e aumentar a disponibilidade para a planta. “Todo esse pacote de manejo são formas de valorizar a saúde do solo e permitir uma produtividade maior e permitem retirar do solo duas ou até três safras em uma mesma área. Quando estamos fazendo isso, estamos deixando de desmatar. Poucas agriculturas do mundo fazem essa agricultura desta forma”, interpreta.
Produção duplicada em em cinco anos
A Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) projeta para a safra 2023/24 expectativas positivas, apesar das taxas de juros elevadas. A entidade aponta como fator decisivo para o investimento neste item da planilha do produtor o anúncio do Plano Safra, que chegará com incentivos à agricultura de baixo carbono. “O setor seguirá trabalhando para ser assertivo e garantir ao produtor rural o fertilizante no tempo correto e com a qualidade necessária”, menciona a entidade.
Para a Anda, a tão falada eficiência do sistema de produção agrícola significa economizar água e energia, além de inibir a necessidade de ampliar áreas de cultivo. E para isso, os benefícios da correta nutrição do solo fazem a diferença na conta final, tanto em produtividade quanto em novos conceitos que chegam com força, como a agricultura regenerativa ou a integração lavoura-pecuária-floresta. Para a associação, “talvez o Brasil seja o único país capaz de dobrar a produção agrícola em menos de cinco anos, sendo ainda um dos três líderes em termos de matriz energética renovável no globo. O Brasil é a solução para os gargalos de segurança alimentar, energia e meio-ambiente”.
Dirceu Gassen e a paixão pela agricultura feita com capricho
O legado que Dirceu Gassen deixou para a agricultura brasileira é reconhecido pelas maiores autoridades no assunto. Um dos grandes incentivadores do sistema plantio direto bem feito, Gassen era voz entusiasmada na defesa da biodiversidade, da relevância da presença de organismos para melhorar a infiltração de água no perfil do solo, para retenção de umidade e redução de temperatura do ambiente. Ao longo da vida atuou na pesquisa, na docência e na assistência, levando conhecimento de forma leve e didática, tornando um tema técnico compreensível desde o grande empresário rural ao mais simples agricultor ou estudante.
Gassen costumava dizer que cinco fatores eram comuns aos produtores que alcançavam as maiores produtividades em qualquer região: capricho, fazer bem feito, fazer no tempo certo, ouvir a assistência técnica e ter paixão pelo que faz. Ele faleceu em setembro de 2018 e poucos dias antes ainda participava de eventos, escrevia artigos e fazia planos. Nesta edição em que aborda adubação e fertilidade do solo, um resgate de algumas belas imagens produzidas pelo engenheiro-agrônomo, que também era apaixonado por fotografia do setor e captou – com beleza e qualidade – detalhes importantes da agricultura brasileira.