Coluna Agricultura 4.0, escrita pelo professor da Fatec e Pesquisador do Laboratório de Monitoramento e Proteção de Plantas – LMPP, Carlos Otoboni.
O solo é um dos principais fatores do processo de produção agrícola, um dos componentes elementares do sistema solo-planta-atmosfera. Neste sentindo, muitos estudos e tecnologias de manejo foram desenvolvidos nas últimas décadas de modo a corrigir, controlar e alterar as suas propriedades, visando à base de sustentação para o desenvolvimento das plantas. Vale destacar neste contexto o uso do calcário, que permitiu o avanço da agricultura para os cerrados brasileiros, e o sistema de plantio direto, mitigando os processos erosivos nas áreas de agricultura tropical.
Contudo, podemos entender que no solo existem propriedades químicas, físicas e biológicas. Dentre elas, a química e a física foram as principais ciências das pesquisas agronômicas até então, que possibilitaram a criação de diferentes técnicas, insumos e equipamentos visando o entendimento e correções necessárias para o melhor rendimento das culturas. Com efeito, é rotina dos agricultores a realização das análises química e física dos solos em laboratórios especializados e, com base nos resultados destas análises, prescrições e ações de manejo são realizadas.
O fator biológico do solo ainda é um grande mistério para os produtores e técnicos do setor. Salvo análises de alguns problemas fitossanitários, como as análises nematológicas e de outros fitopatógenos, pouco se sabe sobre os demais fatores biológicos que acontecem nas áreas de produção, mas que são, muitas vezes, determinantes para o sucesso do processo. Assim, pergunta-se: e os macro e microrganismos benéficos que vivem no solo? E as inúmeras relações ecológicas bióticas (amensalismo, protocooperação, simbiose, mutualismo, comensalismo, predação e parasitismo) e abióticas, uma interagindo com a outra, que acontecem no solo? A homeostase do solo e desta biota?… São questões que ainda desconhecemos.
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Assim, dúvidas primordiais sobre esse assunto e que já estão bem resolvidas na química e física do solo, passam despercebidas ou são negligenciadas nos manejos agrícolas. O máximo que sabemos ou intervimos na questão biológica são os efeitos indiretos que algumas técnicas de cultivo podem fazer, tais como o uso do plantio direto, adubação orgânica e algumas pragas e doenças do solo que afetam a produção.
De fato, carecemos de uma análise biológica do solo robusta, uma bioanálise interpretativa, haja vista o crescente aumento dos insumos biológicos que, muitas vezes, são aplicados no solo para o combate de pragas, doenças e nematoides, solubilização de fósforo, fixação biológica do nitrogênio, entre outros benefícios desejados. Hoje, utilizamos esses insumos sem a certeza ou comprovação real da sua ação/eficácia sobre a proposta tecnológica a que se propõe. Basicamente, medimos os efeitos indiretos dessa constatação, como o desenvolvimento das plantas, sanidade e produção.
Felizmente, a ciência já vem buscando soluções para esse melhor entendimento. Recentemente, a Embrapa lançou um sistema de bioanálise enzimática do solo (BioAS), com indicativos de interpretação dos resultados. Por outro lado, inúmeros estudos e aplicações têm sido desenvolvidos sobre a análise metagenômica do solo, onde através de marcadores moleculares se identifica a microbiota benéfica e maléfica existente no solo, um conhecimento primordial para o entendimento da sua biologia de da homeostase do solo.
Todavia, ainda são estudos com algumas aplicações práticas, são onerosos e demandarão muitos testes com grande coleta de dados para a otimização das análises e futuras recomendações agronômicas. Essa é, sem dúvida, a fronteira do conhecimento no manejo do solo. Aquele que surgir com uma solução prática, de diagnóstico/prognóstico da biologia do solo encontrará a sua frente um oceano azul de oportunidades.