Coluna A Hora H escrita pelo Engenheiro-agrônomo, produtor, presidente-executivo da Abramilho e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli.
Título original: 50 anos da Embrapa – Parte II
Em meio a tantas festas e benesses, surge um fato horrível para nós todos. O ministro Cirne Lima desentende-se no governo e pede demissão em caráter irrevogável de sua missão. Para substituí-lo, foi nomeado José Moura Cavalcanti, então presidente do Incra, e que completaria o tempo restante do ministro Cirne Lima.
Moura Cavalcanti era advogado e percebeu a grandeza da Embrapa para a ação de Governo. E, sentindo-se pouco conhecedor da área da pesquisa, chamou-me a Brasília para que eu assumisse a Embrapa. Chamei a atenção de Moura Cavalcanti sobre a Embrapa ser do Ministério da Agricultura, devendo, portanto, prepará-la para ser a pérola da coroa desse ministério e que ele a conduzisse com a diretoria que Cirne Lima havia deixado na instituição – unanimemente aprovada por todos.
Com meu nome participando ou não de qualquer solenidade naquela casa, serei sempre um defensor de que o Brasil mais necessita é de ciência, tecnologia e inovação
Leia a primeira parte desta coluna, publicada na edição de junho da revista A Granja, clicando em: Por que omitir o nome do criador da Embrapa nos 50 anos da instituição?
Ainda alertei sobre a fase difícil que iriam atravessar para regularizar patrimônio, bens semoventes, laboratórios e todos os outros detalhes que deveriam ser transformados em empresa pública com registro no Tribunal de Contas da União e toda a burocracia complementar. Ele deveria gastar para isso uns cinco ou seis meses no mínimo.
Moura Cavalcanti concordou plenamente comigo, o que muito me alegrou. Nós só não imaginávamos que, cinco meses depois, eu estaria sendo indicado para ser o próximo ministro da Agricultura. O primeiro telefonema que recebi foi de Moura Cavalcanti, alertando-me que poderia correr e ir assumir toda a tese que havíamos discutido.
Na realidade, o que eu gostaria de realçar foi a presença do presidente Ernesto Geisel na montagem do primeiro plano diretor da Embrapa em seu nascedouro. Vi – realmente de forma clara e insofismável – a presença do próprio presidente em comandar um plano executivo sem precedentes para uma empresa pública da pesquisa. Deu exemplo a muitos.
Quando propusemos um concurso público para até 1 mil profissionais na formação da empresa Embrapa, ele sofreu, como eu, a angústia de só ter visto comparecer 52 pós-graduados. Imediatamente, o presidente Geisel me autorizou a fazer uma dívida no valor de US$ 2 bilhões que possibilitasse a correção definitiva do treinamento de pessoal, razão pela qual conseguimos, nos anos seguintes, recrutar e treinar nas melhores universidade e centros de pesquisas do mundo, cerca de 1.530 técnicos que, sem dúvida, marcaram com este ato a vida da nova empresa.
Creio ter dado o meu testemunho de como, de fato, as coisas ocorreram no nascedouro da Embrapa no Brasil. Sugiro que essa empresa não se perca em discussões incorretas na formação da nossa instituição que é a Embrapa, maior empresa pública tropical do globo e que tantos serviços positivos deverão acrescer às necessidades brasileiras.
Com meu nome participando ou não de qualquer solenidade naquela casa, serei sempre um defensor de que o Brasil mais necessita é de ciência, tecnologia e inovação.