Desde o início de setembro, a China mantém o embargo à carne brasileira. Isso fez com que criadores e frigoríficos fizessem drásticas mudanças em suas estratégias de produção e comercialização. De qualquer forma, o mercado de carne bovina brasileiro começou a se rearranjar.
A informação é do analista da Consultoria Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias. Ele palestrou na II SAFRAS Agri Week, evento realizado na semana passada em formato virtual.
Preocupação
Entretanto, ainda há grande preocupação, uma vez que as câmaras frigoríficas encontram-se lotadas, aguardando posicionamento chinês. “Nossa dependência em relação à China é uma faca de dois gumes. Sua ausência, mesmo que temporária, gerou uma crise enorme na pecuária de corte.”
Segundo ele, o apetite voraz da China pela carne bovina brasileira elevou o preço da arroba do boi gordo até R$ 320,00 em agosto. Esta foi a cotação máxima do ano. Mas, com a súbita retirada do gigante asiático do lado importador, os valores das boiadas começaram a cair drástica e rapidamente em todas as praças.
Situação
O analista ressalta que a situação segue bem delicada, apesar da reação vista nas últimas semanas. O mercado está se readequando e se foca mais na demanda doméstica. “A carne que teria como destino os portos chineses foi estocada. E os frigoríficos aguardam uma sinalização das autoridades de lá.”
Assim, no interior de São Paulo, por exemplo, a arroba do boi saiu rapidamente de R$ 270,00 para R$ 300,00. “Mas não sabemos se essa reação continuará por muito tempo. Tudo vai depender de como os frigoríficos trabalharão com esses estoques parados.”
De acordo com Iglesias, o volume a ser escoado para a China ou para o mercado doméstico é muito grande. Se for destinado ao consumo interno, os preços da carne derreteriam. “Tamanha é a oferta que está armazenada. Estamos à mercê da China. É muito difícil encontrar outro comprador tão importante, com o mesmo apetite”, apontou Iglesias.
Entenda o que houve
A pecuária de corte brasileira vive um final de ano bastante agitado. A China, outrora nossa maior importadora de carne bovina, está ausente desde o início de setembro. Naquele mês, houve registros de dois casos do Mal da Vaca Louca – um em Minas Gerais e outro em Mato Grosso.
Embora rapidamente classificados como atípicos, não considerados graves, a suspensão temporária das exportações para a China por conta do estrito protocolo sanitário em vigor entre os dois países se prolongou. E foi muito além do imaginado. E mais grave: ainda não há uma solução à vista.
Imagem: CanvaPró