Nesta terça-feira (15), parlamentares de esquerda compareceram à sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o grupo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com bonés vermelhos que estampavam o logotipo do MST. Na ocasião, o depoente foi o líder do MST, João Pedro Stédile.
Questionado pelo deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil/SP) sobre as denúncias de tortura, extorsão, ameaça, invasão e depredação de propriedade privada, sequestro, trabalho análogo à escravidão e coação para que acampados votassem em políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) – inclusive, segundo o deputado, com a indicação de mesários para fiscalizarem os votos dentro de um assentamento -, ocorridas em quatro unidades distintas da federação, Stédile disse que é o poder judiciário quem deve lidar com “essas pequenas questiúnculas” e que o MST não deve concordar com a violência. Apesar disso, na sequência ele falou que esses problemas (torturas, coações, sequestro, etc) são “da vida” e que configuram práticas “normais” da “luta de massas, das situações que envolvem muito povo”.
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Na mesma resposta, Stédile disse ainda se orgulhar de ter barrado “a violência do latifúndio, a violência da polícia, porque, até a existência do movimento (MST), haviam sido assassinadas 1.600 lideranças do campo”. E afirmou também que desde o princípio ele entendeu que o movimento deveria se valer de ações “pacíficas”.
Rebatendo Stédile, Kim falou que, enquanto líder do MST, era seu dever tomar as devidas providências para resolver tais questões (extorsão, ameaça, trabalho análogo à escravidão). E disse isso trazendo para si a responsabilidade de que, caso um fato semelhante aos que foram denunciados ocorresse dentro do Movimento Brasil Livre (MBL, do qual Kim é o coordenador, e que foi citado por Stédile), “imediatamente eu tomaria as medidas necessárias pra afastar aquele sujeito, pra ele responder por aquelas denúncias, e, justamente, ser responsabilizado por elas. Eu não me eximiria da responsabilidade e diria: ‘isso aí é só com o judiciário, é só com o Ministério Público, e é uma questão menor'”.
Kim também afirmou, uma vez que Stédile citou o MBL para falar sobre a “normalidade” dos atos horrendos denunciados na CPI em movimentos de massa, que uma grande diferença que há entre o seu movimento e o liderado por Stédile é que, “nas manifestações que o meu movimento convocou, não houve em nenhum momento a prática de nenhum crime; não houve uma vidraça sequer quebrada”.
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Finalizando a questão, Kim afirmou que, “diferentemente do MST, o MBL tem CNPJ, presta contas à Receita (Federal), já abriu suas contas e dos seus dirigentes pra polícia, pro Ministério Público e pro judiciário”. Nessa toada, ele perguntou se Stédile colocaria “à disposição o seu sigilo fiscal, bancário, e também de dirigentes do MST pra que nós (CPI) tenhamos essa transparência, como foi feita a denúncia de envio de dinheiro público, supostamente de maneira irregular, no estado do Alagoas para lideranças do MST (em sessão passada)”.
A esse questionamento, Stédile disse que um movimento social não tem a necessidade de possuir CNPJ. E, em complemento a essa resposta, o advogado de Stédile, que estava ao lado de seu cliente, tomou a palavra e disse que ele, na condição de testemunha, não abriria o seu sigilo bancário.