O comércio ilegal de soja e milho e a venda de agrotóxicos contrabandeados estão na mira da Polícia Federal. Depois de operação deflagrada nesta segunda-feira (05) em Santo Ângelo (RS) com ações em outros estados brasileiros, a PF detalhou o procedimento da organização criminosa. Conforme o delegado da PF Igor Bagatin Alexandre, a quadrilha já vinha sendo investigada desde o ano passado e movimentou, nos últimos cinco anos, mais de R$ 3,5 bilhões.
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“O expediente astucioso que eles empregavam para conectar a origem espúria da mercadoria era, basicamente, a compra de blocos de produtor rural”, afirmou o delegado Igor. Segundo ele, as notas eram inseridas nos respectivos caminhões limitando-se a preencher somente a quantidade, o tipo de mercadoria e a placa. “E todas as vezes que eles eram abordados, eles preenchiam naquele momento, a data do dia. Portanto, a mesma nota era utilizada diversas vezes”, explica.
O responsável pela operação afirmou que os produtores que vendiam os blocos de notas somente poderão ser responsabilizados se demonstrado vinculo com a organização criminosa, o que não aconteceu ate o momento.
Já a mercadoria (soja e milho) era vendida a empresas cerealistas da região com notas fiscais em nome das empresas utilizadas no esquema, como se o produto tivesse origem legal. “Não temos indícios de que as cerealistas soubessem da procedência dos grãos, mas, se for comprovado, os responsáveis poderão vir a ser responsabilizados”, informou Igor Alexandre.
Aeronave avaliada em R$ 3,5 milhões está entre os bens apreendidos pela operação (foto: Polícia Federal)
Farsul e Fetag alertam produtores
Uma grande empresa com diferentes departamentos. Assim o diretor da Comissão de Segurança Rural da Federação da Agricultura do RS, Fábio Avancini Rodrigues define a organização criminosa combatida pela Polícia Federal. “Não é um ramo só. Eles atacam em todas as pontas. Quando aperta o cerco de um lado eles vão para outro. Armas, drogas, carros, implemento agrícolas e o próprio abigeato”, afirma Rodrigues.
Sobre o volume de grãos que ingressou ao longo dos últimos anos de forma ilegal no RS, Rodrigues diz que “atrapalha mas não desestabiliza o mercado”. A Federação da Agricultura do RS não afirma orientar os associados sobre boas práticas comerciais. “Não podemos interferir nas negociações de cada produtor, mas sempre pontuamos para que atentem para quem vendem e de quem compram seus insumos.”
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS reitera sua posição totalmente contrária à importação ilegal. A entidade também orienta os Sindicatos de que a prática de “venda” de bloco de produtor é ilegal. “Não recebemos relatos de agricultores familiares associados que utilizam essa prática”, afirma a Fetag em nota.