Coluna Glauber em Campo, escrita pelo produtor rural, presidente da Câmara Setorial da Soja e da Associação de Reflorestadores do MT e diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira.
Estamos diante da maior safra da história do Brasil. Ano após ano, a agricultura vem mostrando resultados e crescendo, principalmente, em produtividade. Mato Grosso ocupa apenas 13% da sua área com agricultura e vem consolidado como o maior estado produtor do Brasil. Na soja, passamos de 160 milhões de toneladas, enquanto os EUA, que eram o maior produtor, colheram 122 milhões de toneladas. Mas a grande surpresa é referente ao milho, com o qual podemos chegar a 125 milhões de toneladas (Conab) ou a 136 milhões de toneladas (Safra & Mercados). Creio que o dado da Conab deve crescer, afinal sempre está atrasada na sua atualização. Ou seja, é uma bela produção.
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Nesta safra, para o milho, tudo parece ter dado certo. O clima, de um modo geral, foi positivo no Brasil, com exceção de algumas regiões do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Havia um receio com o atraso na colheita da soja, que poderia impactar a produtividade do milho segunda safra. No entanto, o clima foi favorável e boa parte das lavouras está chegando ao ponto de colheita. No Paraná, havia uma grande preocupação com as geadas. Mas ela não se confirmou, portanto grande parte das áreas está em boas condições. Mesmo quem plantou mais tarde ou fora do período ideal foi abençoado por chuvas fora de época; e o milho vem se desenvolvendo muito bem. Pode-se dizer que a segunda safra de milho está salva e, com isso, o Brasil terá uma produção recorde.
“Resta ficar atento ao mercado e fazer bons negócios para a próxima safra na aquisição de insumos“
Com uma produção que deve superar 130 milhões de toneladas com um consumo interno em torno de 82 milhões, devem ser exportadas de 47 milhões a 50 milhões de toneladas; com isso, o Brasil deve se tornar o maior exportador. E ainda vamos crescer na produção do etanol, que deverá consumir 14 milhões de toneladas. Tudo parece certo para se comemorar, mas, infelizmente, não é bem assim. Temos o desafio do preço que despencou, perdendo 50% do seu valor em poucos meses Há déficit da armazenagem: caótico. Conseguimos armazenar apenas 40% da nossa produção e apenas 15% nas propriedades. Isso traz um grave problema para o produtor.
Para agravar a situação, como o preço não só do milho despencou, mas também da soja e do boi, tudo leva a um caos total. O produtor não vendeu a soja e ela agora compete por armazéns que já são escassos com o milho. O produtor que não tem armazém recebe de R$ 8 a R$ 10 a menos pela soja ou pelo milho. O mercado pressiona o produtor a vender; o produtor que não tem armazém se vê obrigado a vender para as tradings que só recebem se ele vender o milho. Caso contrário, não recebem. Daí o produtor fica entre a cruz e a espada. Por esse motivo, a Abramilho tem falado tanto na importância da armazenagem e de se ter um investimento pesado. Seriam necessários R$ 15 bilhões apenas para não aumentar o déficit. Se o governo não priorizar a armazenagem, teremos um caos em breve na produção brasileira.
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Os produtores estão muito preocupados. O custo de produção ainda está muito alto, a relação de troca por fertilizantes caiu expressivamente. Porém, a relação de troca por defensivos agrícolas ainda está alta, e a semente, que em 2020 era de 11,7 sacas de milho por saca de semente, hoje está em 22,3 sacas. Essa relação tem preocupado os produtores. Para agravar a situação, custos em reais como mão de obra, combustível e frete subiram bastante. Com isso, o produtor fica buscando melhores negócios com o seu milho. E esperança é que o preço reaja positivamente para o produtor.
Neste momento, o que irá balizar os preços do milho no Brasil e no Mundo será o clima nos Estados Unidos. Há previsão de chuva dentro do normal nos próximos meses, podendo haver falta de chuva em algumas regiões, em especial em Illinois, o segundo maior produtor de milho dos Estados Unidos. Essa preocupação de uma possível falta de chuva no meio oeste pode elevar um pouco o preço do milho e abrir uma janela para venda do milho brasileiro, motivando as vendas no Brasil. No entanto, ainda é cedo para estimar se a possível falta de chuva nos Estados Unidos trará efeito ou não na safra americana. Nesse caso, o produtor terá que escolher se arrisca a vender após a confirmação da redução de produção ou não nos Estados Unidos.
Segundo Paulo Molinari, da Safra & Mercados, o ideal é vender este milho antes de setembro e outubro, quando começa a colheita nos Estados Unidos e quando o preço deve cair ainda mais. Importante entender que Chicago a US$ 6 o bushel não é o novo normal, o preço deve recuar para US$ 4,13 o bushel, a depender da safra americana. Por isso, é importante o produtor não segurar demais para vender para não correr o risco de acabar comercializando seu milho junto com a safra americana.
Com uma das maiores quebras de produção da história da Argentina, uma redução de 20 milhões de toneladas, e, na Ucrânia, com redução de 7 milhões de toneladas, além de incertezas sobre o corredor de exportação, o Brasil e os Estados Unidos devem competir para ocupar e atender a essa demanda. Mas, infelizmente, as notícias sobre alta no preço das commodities no curto prazo não são positivas. A menos que algo muito impactante ocorra na produção dos EUA, o que não é muito fácil, mas não é impossível. Resta ficar atento ao mercado e fazer bons negócios para a próxima safra na aquisição de insumos. O momento é de fazer contas e não de jogar com a sorte.