Coluna Prosa com Teia Fava, escrita pela pecuarista, empresária e diretora da Acrimat na Região Médio Araguaia, Teia Fava.
Peço licença para usar minha coluna deste mês para fazer uma despedida a um grande amigo que partiu, mas que deixa um legado gigantesco em mim e por onde passou. O nosso amigo Marcos Junqueira Cardoso, o Marcão, da Carpa Serrana.
Me senti confortável ao fazer isso, visto acreditar que cada um de nós, durante a caminhada no agro, temos “Marcões” em nossas histórias de vida. Já contei a vocês sobre o início da minha vida na pecuária, no Leilão Mulheres de Raça, e o Marcão foi meu grande mentor, como perceberão abaixo.
Portanto, tenha uma boa leitura. Vou fazer o “fecha” que sempre faço em minhas colunas aqui no comecinho mesmo: você reconhece o seu Marcão? O Marcão da sua história de vida?
Ao meu amigo Marcão…
“Tive uma ideia, Marcão, mas preciso conversar com você, pessoalmente”.
Ele respondeu: “assim que der, vou aí…”
Dias se passaram e nada deste momento chegar. Me cansei de esperar, liguei e falei:
“Estou prestes a tomar a decisão da minha vida e você não tá me dando moral!!!” E aí, em menos de 45 minutos, 118 km de estrada, Marcão entrou na minha sala, esbaforido e, sentando-se em minha frente, me perguntou: “o que houve?”.
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Levei um grande susto com a vinda tão rápida dele. Mas esse era meu amigo. Conseguia – do nada – estar presente. Contei para ele a ideia e ali, naquele momento, nascia o 1° Leilão Mulheres de Raça. Rapidamente, desenhamos um escopo e ele foi me orientando, direcionando, falando, dando nomes de mulheres para participar, fazendo lista e eu, incrédula, dizia:
“Você tá maluco? Acha mesmo que a Nelcy Palhares viria? Acha mesmo que a dona Nilza toparia? Você tem certeza de que a Dona Solange, mulher do Duda Biagi, sairia de Ribeirão Preto para vir até aqui? Crê que a Dora Castro toparia, a Dora, do Panagpur, entre tantos outros nomes de mulheres “importantes” na lista viriam…. Carlão??? O Carlão da Publique? Acha mesmo que ele vai me dar moral??? Você ‘tá’ maluco? Acredita que o João Gabriel, o leiloeiro, o topíssimo, vai me dar moral?”
E ele sempre falando: “é uma grande ideia, Teia. Se eles não derem moral para a tua ideia, não os conheço!”.
Então, ali, naquele momento, nascia a Teia que organizou um leilão de dimensão nacional, voltado ao público feminino. Nascia a Teia produtora rural, criadora de gado PO. Naquele momento, acontecia uma guinada de vida. Uma nova história. Cheia de altos e baixos. Uma nova mulher brotaria naquele momento.
E relendo meu relato, te confesso, Marcão, nem eu mesma sabia da intensidade da nossa amizade. Obrigada por me dar a chance de ser quem eu sou!
Obrigada, Marcão, por me dar o norte da minha vida. Obrigada por ter confiado em mim. Obrigada pela oportunidade de fazer parte do rol dos amigos que tiveram suas vidas mudadas por seus conselhos e por sua conduta. Amigo forte, abraço carinhoso. Amigão mesmo! Você se foi, mas seu legado jamais irá. Seu legado, ou melhor, seu abraço… a força que ele transmitia a todos nós fica conosco. Que Deus saiba delegar poderes para você mudar outras vidas por aí onde está. Tenho certeza de que ganhamos mais ainda tendo você, aí em cima, a vigiar-nos. Tá rindo, né? Consegue ver agora o quanto de pessoas está aqui sofrendo pela tua partida? “Tá” conseguindo ver daí o quanto estamos todos chorando, mas felizes por termos convivido com você? Me veio à cabeça, agora, a vontade louca de te dar um “xingo”. Devia ter sido menos presente na nossa vida. Seria muito mais fácil estar passando esse momento agora. Mas não. Você tinha que se comportar como um irmão. Um irmão lotado de outros irmãos. Enfim, seja como for… você não se foi. Você está aqui com a gente. Sempre! “Pra” sempre!
E relendo meu relato, te confesso, Marcão, nem eu mesma sabia da intensidade da nossa amizade. Obrigada por me dar a chance de ser quem eu sou!