Coluna Marie Bartz, escrita pela bióloga, Centro de Agricultura Regenerativa e Biológica e centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, em Portugal, e Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp), Marie Bartz.
Para esta edição de julho, temos o nosso sétimo homenageado a quem foi concedida a Medalha de Honra Herbert Bartz pela significativa contribuição à difusão e à ampliação da adoção do plantio direto no Brasil. Neste mês, não será exatamente uma pessoa, mas uma instituição: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – a Embrapa – que foi homenageada na pessoa do pesquisador Benami Bacaltchuk o qual atuou na Embrapa Trigo. O Sr. Bacaltchuk também será meu par de mãos que auxiliará para contarmos um pouco sobre como se deu o envolvimento da Embrapa e sua importância no contexto do plantio direto/sistema plantio direto (PD/SPD). Eu vou resgatar o que Papi, Herbert Bartz, contou sobre sua relação com a entidade… Isso lá em meados dos anos 1970.
Em 1975, em 8 de outubro, a Folha de Londrina dedicou o seu suplemento Folha Rural ao PD, com a manchete da capa: “Plantio Direto no controle da erosão”. Ao todo, eram 26 páginas dedicadas ao que a capa estampava. Era destaque o fato de organismos oficiais passarem a recomendar e a referendar o novo método; a Embrapa estava entre esses organismos, junto com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – atual IDR-PR – e com a Secretaria Estadual de Agricultura.
A filosofia da instituição apoiava-se na percepção de que a tecnologia deveria nascer no produtor e somente encerrar o processo de geração quando devidamente adotada por produtores com relevante potencial inovador e com visão sustentável
Ainda naquele mesmo ano, no mês de agosto, Bartz recebeu o convite feito pelo então presidente da Embrapa, José Irineu Cabral, para fazer parte do conselho consultivo do Centro Nacional de Pesquisa do Trigo (Embrapa Trigo), no Rio Grande do Sul, chefiado, na época, por Ottoni de Sousa Rosa.
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Bacalthuck nos conta: “Para Bartz, aquele não era apenas um mero convite, era também a oportunidade de trocar ideias com pesquisadores e de ter contato com gente profundamente interessada em melhorar a agricultura do país. De alguma forma, o convite a Bartz para participar do conselho consultivo do Centro Nacional de Pesquisa do Trigo era uma forma que a equipe, na época, chefiada por Ottoni, se valia para identificar demandas representativas para desenvolvimentos de novos projetos de pesquisa que atenderiam às reais necessidades de um sistema produtivo praticado nas distintas regiões representativas da triticultura brasileira da década de 70. A filosofia da instituição apoiava-se na percepção de que a tecnologia deveria nascer no produtor e somente encerrar o processo de geração quando devidamente adotada por produtores com relevante potencial inovador e com visão sustentável.
A participação de Bartz no conselho direcionou a pesquisa para sistemas produtivos, o que causou revolução na agricultura praticada no país. O grupo que passou a atuar na pesquisa de sistema de manejo de solos e práticas agrícolas tinha como líderes os pesquisadores Werner Wünch e José Eloir Denardin, que conduziram os primeiros experimentos com sistema de cultivo sem revolvimento de solo. Para consolidar essa proposta, foram envolvidos pesquisadores da área de mecanização e de sistemas de cultivo com mínimo revolvimento de solo, o que culminou com sistema agro-silvo-pastoril, generalizadamente, utilizado hoje.
A experiência da Embrapa no processo de identificar demanda e gerar tecnologia exigiu a organização de um sistema de difusão e transferência de tecnologia que, no caso específico do projeto PD, foi efetivado pelo Projeto Metas. O projeto que representava a sigla dos nomes das empresas que faziam parte do programa: Monsanto, Embrapa Trigo, Emater/RS, Adubos Trevo e Semeato. As empresas, a partir de 1993, começaram um programa de difusão que fez com que o PD no RS, estado que neste ano cultivava 900 mil hectares de lavouras de soja e milho, dos quais somente 45 mil hectares eram, de fato, PD na palha, levaram, em 1998, o PD a ocupar 810 mil hectares.
Dentre os nomes que atuaram no projeto Metas, o destaque deve ser dado a José Eloir Denardin, Rainoldo Kochhan, Antonio Faganello, Delmar Pöttker e Celso Antônio Nardi (Embrapa), Tabajara Nunes Ferreira, Antoninho Berton e Itacir Barreto de Melo (Emater/RS), Maria Arminda O. C. Grazziotin (Monsanto) e Eduardo Copetti (Semeato).
A experiência da Embrapa Trigo levou-a a participar de programas de produção conservacionista em distintos países que se destacam na agricultura conservacionista, como Canadá, EUA, a Comunidade Europeia, Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Colômbia e, em especial, países africanos. Temos convicção de que a Expodireto Cotrijal nasceu por influência do SPD que era conduzido por distintas organizações e lideranças ligadas a empresas de pesquisa, de extensão de produção e, indiscutivelmente, à visão de um entusiasmado difusor do PD: Gilberto Borges, fundador da revista do Plantio Direto, da Aldeia Norte Editora.
Indiscutivelmente, o fator mais importante no direcionamento da Embrapa Trigo quanto ao desenvolvimento de tecnologias para o PD na palha foi a convicção que Herbert Bartz tinha de que não existia fator tecnológico restritivo que impedisse a pesquisa de encontrar uma solução que superasse todas as limitações de qualquer experiência produtiva, mesmo que ela fosse compactação do cérebro humano.”