Mulheres empreendedoras de 12 municípios gaúchos contam suas histórias de sonhos, desafios, resistência e conquistas.
Elas são empreendedoras rurais e estão à frente de agroindústrias familiares que fazem sucesso e são referência e exemplo para outras mulheres que buscam realizar sonhos e fortalecer a autoestima, a renda e suas vocações.
Suas histórias fazem parte da segunda edição do livro “As mulheres na agroindústria familiar no Rio Grande do Sul: participação e sustentabilidade”, a ser lançado nesta quinta-feira, dia 29, às 10h, no espaço da Emater/RS-Ascar, na 47ª Expointer.
Primeira edição, 2014
Esta segunda edição do Livro celebra os dez anos da primeira publicação, em 2014, quando a Emater/RS-Ascar desafiou 12 mulheres empreendedoras a darem visibilidade a suas histórias. Assim como em 2014, em 2024 outras 12 mulheres foram convidadas a participar do livro, uma de cada região administrativa da Emater/RS-Ascar, sendo quatro delas expositoras desta edição do Pavilhão da Agricultura Familiar na Expointer.
São as seguintes: Agroindústria Zago (lácteos), de Hulha Negra, Chácara Lírio do Brejo (plantas desidratadas), de Maquiné, Agroindústria Vinhos Foresti (vinhos), de Pinto Bandeira, e Agroindústria Delícias da Fabi (farináceos), de Sarandi.
Do campo à feira
Participar da Expointer é sempre gratificante, pois a feira é uma vitrine, amplia a visibilidade, gerando renda e novos negócios. Para as agroindústrias familiares não é diferente.
A Agroindústria Zago, de Hulha Negra, na região de Bagé, participa do Pavilhão da Agricultura Familiar pela segunda vez. Especializada em lácteos, produz queijos mussarela, colonial, com iogurte e com vinho, temperado, doce de leite e requeijão.
“A agroindústria surgiu em 2021, tempo difícil para todo mundo, para agregar mais valor ao leite, já produzido na propriedade, buscando fortalecer as raízes da família na terra, e garantir o futuro dos filhos na propriedade”, recorda a empreendedora Sueli Dreher Zago.
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“Recebi muita força para começar da minha filha mais velha, Milena, hoje com 26 anos, que estava se formando engenheira agrônoma”, destaca Sueli, ao citar ainda a ajuda da Emater/RS-Ascar, inclusive para a venda dos produtos nas feiras da cidade, mercados, quarteis e colégios da região, além da conquista do selo Susaf (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte), que garante a qualidade dos produtos.
“Hoje os queijos levam o sabor da família para o mundo”, celebra Sueli, ao afirmar que “minha família é meu apoio”.
A filha Milena cuida do administrativo da agroindústria e ajuda na produção. A caçula Dayza, 18 anos, é responsável pela matéria prima, que é o leite, “que é a base de tudo que fazemos”, e auxilia também na produção.
Jornada árdua
“A jornada foi árdua, com momentos de incertezas e vontade de desistir, mas com o potencial da agroindústria e a força da família, seguimos em frente. A cada queijo produzido, a cada sorriso de satisfação dos clientes, a cada conquista, a certeza de que valeu a pena”, ressalta Sueli, ao aconselhar:
“Se você tem um sonho, não deixa de correr atrás dele. Eu e minhas filhas somos a prova de que, com trabalho árduo e união, a mulher pode alcançar o topo, transformando sonhos em realidade”.
Plantas Alimentícias Não Convencionais
Oferecer novas maneiras de saborear as frutas no dia a dia e dar visibilidade ao que não é convencional através das Plantas Alimentícias Não-Convencionais (Pancs).
Essa é a essência do trabalho da Chácara Lírio do Brejo, de Maquiné, na região de Porto Alegre. Gerida pela família, já que todos se envolvem no processo, do cultivo à colheita e o processamento, a Lírio do Brejo participa da Expointer pela terceira vez, sob a gestão das jovens irmãs Danielle e Scheila Perotti Paz, 38 e 35 anos, e a mais nova, Pietra, 21 anos, que cursa Nutrição.
A história da agroindústria começou quando os pais decidiram trocar os empregos na cidade por viver no campo, “se reinventando no meio rural”, conta Danielle, ao recordar “crescemos gostando do campo, mas de maneira romântica”.
Por motivos de saúde, a família investiu na alimentação saudável, mais precisamente nas Pancs,
A agroindústria começou com frutas desidratadas, como banana, mas agregou chás e pós de frutas, “para trazer visibilidade a toda biodiversidade presente na agrofloresta e muitas vezes invisível para a cidade”, diz a jovem.
Além de desidratados, como o pó da banana verde e da cúrcuma ou açafrão da terra, um poderoso anti-inflamatório, a Lírio do Brejo produz compostos de frutas e ervas para chás e chimarrão.
“A planta Lírio do Brejo é considerada invasora, mas tem potencial como alimento e protetora dos solos, além de fornecedora de massa verde. Ela representa a resistência da união e nos provoca uma nova maneira de ver os alimentos, a medicina, os chás, as frutas, e isso está presente no nosso trabalho”, avalia Danielle.
A agroindústria Lírio do Brejo a cada ano investe em produtos que tem como base as Pancs.
Neste ano, para a Expointer, está lançando Caponata do coração da bananeira e o Sal Panc, e tem “na manga”, uma linha de patês, com base na biomassa da banana verde.
“A ideia é cada vez mais inserir uma pitada das Pancs que agrade o paladar das pessoas”, anuncia Danielle. “Me descobri quando descobri as Pancs e o gosto por cozinhar”, finaliza.
Sabores caseiro e gourmet
De Faxinal do Soturno, na região de Santa Maria, a empreendedora Lisana Ferigolo Bastiani está à frente da Agroindústria Azienda Bastiani Alimentos, de molhos e geleias.
Natural do município de Ivorá e filha de pequeno agricultor, Lisana teve sempre o apoio da família, em especial do marido, com quem casou em 2000 e tiveram três filhos.
“De acordo com a necessidade de uma família tradicional italiana do interior do município, aprendi a produzir todos os alimentos consumidos pela família, como queijos, pães, bolachas, bolos, geleias, conservas e compotas”, conta.
“Assim, já em Faxinal, com a ideia de agregar valor à renda da família, decidimos investir numa agroindústria familiar. Começamos a produzir as primeiras geleias e compotas, vendendo para amigos e parentes que apreciam receitas caseiras antigas”, prossegue.
“Fomos amadurecendo a ideia e buscamos recursos para iniciar a construção através do Feaper” (Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais), recorda a empreendedora, ao destacar o apoio da Prefeitura e Emater/RS-Ascar Municipal de Faxinal do Soturmo e Regional de Santa Maria.
Agroindústria
A construção da Agroindústria Azienda aconteceu de acordo com as possibilidades da família, na época, com crianças pequenas. Conforme os filhos cresciam, Lisana se dedicou à agroindústria e a em 2020 conseguiram o primeiro alvará, o que possibilitou expandir mercados.
“Durante todo o processo buscamos mostrar para os filhos que valia a pena e que era bom se envolverem no negócio da família”, recorda.
E destaca que a filha estudou e voltou para casa no ano passado, “e está se dedicando muito à agroindústria” diz, satisfeita.
A Azienda Bastiani Alimentos, além de manter as receitas tradicionais antigas, incrementa o catálogo de produtos com geleias apimentadas, algumas gourmet, “muito bem aceitas, assim como buscamos receitas de molhos italianos, como caponata, pesto e o tomate confit, e incrementamos nossa linha de produtos, tendo bastante sucesso e boa aceitação do mercado”, avalia.
“Neste ano, fomos brindados pela maravilhosa surpresa da participação do livro, o que é muito gratificante. Só temos a agradecer, e tendo bom resultado de negócios e aceitação de produtos e vendas, também está sendo bastante gratificante para nós. Muito obrigada”, relata Lisana.
Fonte: Emater-RS/Ascar