Coluna A Hora H escrita pelo Engenheiro-agrônomo, produtor, presidente-executivo da Abramilho e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli.
No discurso que fiz na homenagem que recebi, na Fiesp, de todas as instituições agrícolas, procurei alertar sobre os riscos que o Brasil corre com as mudanças de filosofia política e em propostas duvidosas que sempre aparecem nestas ocasiões. E o risco que elas representam em provocar fracassos em nossas atuais condições de liderança com uma ciência tropical aqui desenvolvida e considerada imbatível na atual conjuntura mundial. Esse discurso foi publicado em duas partes, nas edições de novembro e dezembro nesta coluna.
Um dos maiores perigos que identifico nessa hora é a ânsia da desmoralização dos opositores que, muitas vezes, acabam trazendo à discussão assuntos que conhecem pouco ou nada e que acabam dando munição aos nossos competidores. Quem ouviu as apresentações feitas na reunião sobre meio ambiente, realizadas no Egito, vê um total desconhecimento de grupos de ONGs radicais, acusando o Brasil de detrator da sua natureza sem conhecer nem mesmo as tecnologias já desenvolvidas aqui pela Embrapa, pelas universidades e por várias instituições de pesquisa, demonstrando que o produto brasileiro foi capaz não só de recuperar biomas degradados, como o caso do Cerrado.
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As tecnologias desenvolvidas sobre essas áreas recuperadas estão sendo reconhecidas pelas instituições internacionais como as mais capazes de produzir alimentos e produtos agrícolas sem destruir as nossas excelentes condições de competir com produtos de alta qualidade aqui produzidos. E que a cada ano enriquecem ainda mais os nossos solos, captam carbono, aumentam a sua produção e produtividade com o manejo adequado, como é o caso da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF); tecnologia hoje reconhecida pelos organismos internacionais como a mais avançada que o mundo tem.
É estranho que governantes e autoridades agora constituídos ainda não conheçam essas tecnologias e fiquem anunciando ao mundo que os seus adversários políticos não souberam fazer o que o Brasil precisava. E transferem a eles a responsabilidade que não lhes cabe, até porque essas tecnologias estão sendo desenvolvidas, no Brasil, há mais de 25 anos: tempo, parece-me, que se enquadra às suas próprias administrações. É triste que isso esteja acontecendo. O setor agrícola brasileiro, nós reconhecemos isso, há quase 50 anos vem recebendo atenção de todos os governos do período. É pena que a memória de políticos, na maioria das vezes, só se lembra das suas próprias iniciativas, esquecendo que toda essa revolução que o Brasil fez na sua agricultura. Foi iniciada na década de 1970 e, de lá pra cá, a trancos e barrancos, especialmente pela coragem, persistência, fé e confiança nos nossos produtores inovadores, está evoluindo muito mais do que se esperava.
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Veja agora: quando o mundo passa por crises não só na alimentação, como também na escassez dos insumos para a agricultura moderna, os produtores brasileiros não estão esperando só o resultado das nossas instituições oficiais, que andam muito mal tratadas pelos governantes em todas as fases. Saíram na frente e estão – por conta própria – desenvolvendo evoluções belíssimas e de grande importância naquilo que o mundo mais espera hoje: a evolução de nossa produção através da biotecnologia e da substituição de produtos químicos, cujos preços passaram a ser exagerados nos dois últimos anos, por produtos naturais e orgânicos.
São esses produtores os que mais se preocupam com o despreparo e com a insensatez de governantes, alardeando assuntos que não conhecem, mas que precisavam conhecer. Esse estrago está sendo maior diante do mercado internacional que passa a apoiar as suas teses contra o Brasil nas próprias declarações irresponsáveis de governantes despreparados.
Esperamos todos nós que o novo ministro da Agricultura atue rapidamente para evitar esse verdadeiro descalabro que mais prejudica o Brasil como um todo e não só os produtores rurais, que passam a ser as grandes vítimas desse incrível erro que tem sido cometido há muitos anos. Hoje temos de reconhecer aqui que esta agricultura tropical desenvolvida pelo Brasil com tecnologias próprias será, sem dúvida, a salvação para a segurança alimentar já prevista como deficitária até o ano 2050. Ou os produtores brasileiros se revoltam contra essas burrices ou, então, tratem de produzir produtos de melhor qualidade para continuar a dominar o mercado, como vêm fazendo até agora.
Esperamos, conforme anunciado, que as nossas instituições de pesquisas como Embrapa, universidades, centros regionais de pesquisa recebam, de fato, a atenção que foi anunciada na campanha política, que elas possam cumprir o seu papel adequadamente e que não sejam relegadas ao desprezo. Com tudo isso, continuamos acreditando na agricultura e nos produtores brasileiros. Eles já atingiram um nível de evolução que só mesmo governos detratores venham destruí-la. Espero que o Brasil não perca, por incompetência, a sua capacidade de continuar sendo o celeiro do mundo. Que Deus nos livre e nos guarde.
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