Nesta terça-feira (27), o Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo usou o seu site oficial para propagandear a ação ajuizada pelo próprio órgão que visa cancelar as outorgas de radiodifusão da Jovem Pan. Segundo o MPF, a razão pela qual ele quer calar a rádio mais ouvida do país é o fato de ela teria propagado “desinformação” ao permitir que seus comentaristas dessem as suas opiniões sobre a lisura – ou não – das urnas eletrônicas, bem como a respeito das manifestações que lotaram a frente dos quartéis Brasil afora em novembro de 2022 em repúdio ao resultado das eleições divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão que não gozava da confiança de um imenso número de eleitores por todo o país, que o acusavam de ter sido parcial na condução do processo eleitoral.
A Jovem Pan emitiu um editorial na quarta-feira (28), um dia após ir ao ar a nota no site do MPF de São Paulo. Proferido pelo jurista, escritor, jornalista e apresentador Tiago Pavinatto, o editorial afirma que o MPF comete “crime de abuso de autoridade” ao fazer “propaganda em um veículo digital pago pelo povo somente para alardear uma ação que protocolou uma ação contra quem quer que seja, faz uso indevido de recursos públicos contra o próprio público que é dono dos recursos”.
Leia mais: “Vamos tratar o novo Governo com o respeito com que formos tratados”
O editorial segue afirmando que “esse alarde de uma acusação serve para intimidar e manchar a reputação daquele que é acusado. É, em resumo, um ato antidemocrático, de má fé, abusivo, leviano e que pretende levar a população ao engano. E, porque é abusivo, é um ato ilícito, um exercício de injustiça praticado com o dinheiro do pobre brasileiro pagador de impostos”.
Na sequência, o editorial também afirma que “os serviços prestados à sociedade brasileira pela Jovem Pan preenchem muitas páginas da história do Brasil desde o século passado, mas somente agora está sob ataque, justamente por ousar ser aquilo que se espera de um veículo de imprensa: ser livre, independente e ser sempre crítico”.
Seguindo para a sua conclusão, é afirmado ainda pelo editorial que ele “não se resume a uma defesa da Jovem Pan”, mas que “é uma defesa para que você (espectador) não seja calado. Não importa se você é de esquerda, direita, centro ou apolítico: defender o fechamento de um veículo de imprensa é um atentado contra a democracia que somente se viu em regimes fascistas, nazistas, soviéticos, enfim, toda a sorte de regimes autoritários”.
E o editorial conclui fazendo um apelo ao espectador: “Diga não à censura hoje para não se envergonhar de ser brasileiro amanhã”.
Veja também: Moraes manda PF investigar presidente da CPI do MST
A Jovem Pan teve a sua inauguração oficial no ano de 1944 sob o nome de Rádio Panamericana. É, portanto, um dos veículos de comunicação mais longevos da história do país, com quase 80 anos de tradição.
A ação do MPF ainda pede, além do fechamento da rádio, que a Jovem Pan pague uma multa de R$ 13,4 milhões por supostos “danos morais coletivos”, além de veicular “ao menos 15 vezes por dia entre as 6h e as 21h durante quatro meses, mensagens com informações oficiais sobre a confiabilidade do processo eleitoral”. Ou seja, o MPF quer coagir a um veículo de comunicação a anunciar como verdade aquilo que o Estado afirma ser a verdade, desrespeitando a liberdade de imprensa da empresa.
Confira o editorial da Jovem Pan abaixo na íntegra: