A conexão 5G aproximou tecnologia do campo, mas desafia o criador a mudar hábitos e exige nova atitude de gestão coletiva, com base na estrutura e na convivência familiar. Este é o mote do artigo do consultor internacional Francisco Vila, que abre a mais nova edição do Guia do Criador.
Segundo ele, o avanço tecnológico sempre tem dois lados. Por um lado, beneficia aqueles que o incorporam primeiro e “bebem a água limpa”. Por outro, castiga, até o extremo da exclusão, aqueles que não o adotam.
Desistência
Conforme estudos da Embrapa, 40% dos atuais 1,3 milhão de produtores bovinos deixarão a atividade ao longo da próxima década. Mas isso é apenas o aspecto mais dramático.
Há aqueles produtores menos dinâmicos, situados na faixa inferior do segmento. Embora integrem os 60% e continuem a produzir, certamente, não geram lucro suficiente para atender às demandas por sustento da família, que costuma aumentar com o número de filhos e futuros herdeiros.
Vila afirma que a tecnologia 5G não é nada mais que um acelerador da conectividade, capaz de turbinar o acesso de produtores às soluções tecnológicas. E diz que, a partir de 2022, podemos contar com os benefícios da chamada Internet das Coisas, com as vantagens do reconhecimento facial para fazer compras ou transferências bancárias – e com o chamado universo do Big Data, que é capaz de combinar tudo com tudo e todos.
“Os impactos na vida geral, e também na pecuária, são múltiplos. Carros, caminhões, plantadeiras e sistemas de ordenha autônomos combinados com uma gestão financeira do agronegócio mais sofisticada, bem como novas perspectivas para a saúde, seja dos homens, seja dos animais, são apenas alguns exemplos dessa revolução. Quem visita uma revenda de implementos agrícolas já pode ver como um produtor com residência em Passo Fundo (RS) e propriedade em Mato Grosso pode medir a pressão dos pneus da plantadeira na fazenda, além de observar se o tratorista está prestando atenção no trabalho ou brincando com seu WhatsApp, pois a máquina, em princípio, pode andar sozinha e 24 horas sem reclamar.”
Francisco Vila
Quais as adaptações necessárias na pecuária?
Diz o consultor: “Não é novidade que a agricultura incorpora novas tecnologias mais rapidamente que o setor da bovinocultura. Porém esse desfasamento tende a reduzir, não apenas pelo avanço da integração lavoura-pecuária (ILP), mas pela necessidade de enxergar a criação e a engorda de animais como um sistema industrial complexo.”
Claro que o prazo para se chegar ao produto final é bem mais longo do que os 90 dias da lavoura, ou os quatro meses da engorda na suinocultura – ou os 40 dias da avicultura. Porém a bovinocultura, uma indústria ao ar livre e que passa por diversas estações com oferta de pastos distintos, representa mais desafios do que vantagens. Com produção de forrageira, nutrição complementar, confinamento e, mais recentemente, com irrigação, não perde nada em complexidade à agricultura ou à indústria.
Aqui reside o principal desafio: a mudança de hábitos dessa milenar atividade que começou na época dos nômades. A tradição mais forte e a percepção (agora desatualizada) de um processo de engorda de dois a três anos do longo ciclo bovino, que já encolheu de oito para cinco anos e, mesmo assim, continua sendo comprido, exposto a diversas situações climáticas e à oscilação de custos e preços ao longo desse período.
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