“Tenho tido a possibilidade de conhecer diferentes realidades e modelos de agricultura pelas regiões por onde vivo e as quais tenho visitado, na Europa e na América Latina, e o interesse sobre o tema carbono no solo é considerado na maioria delas“. – Marie Bartz
Crescente tem sido o interesse sobre valorização, compensações e, até mesmo, sobre o mercado de carbono no solo como potencial fonte de retorno ao agricultor pelos investimentos ou manejo que ele faz em sua lavoura. Eu, particularmente, tenho percebido esse movimento como uma oportunidade oportunista (exatamente isso) e não como uma forma de incentivar a aderir as boas práticas que favorecerão esse processo de acúmulo de carbono com o intuito de melhorar o ambiente e, consequentemente, de valorização nesse mercado expoente.
Tenho tido a possibilidade de conhecer diferentes realidades e modelos de agricultura pelas regiões por onde vivo e as quais tenho visitado, na Europa e na América Latina, e o interesse sobre o tema carbono no solo é considerado na maioria delas. Entendo que é uma oportunidade para valorizar os agricultores, mas, em determinadas regiões, o não preparo do solo nem é considerado, ou seja, o manejo continua sendo o preparo convencional e, por consequência, o patrimônio primordial solo – fonte de toda a vida terrestre – é comprometido, não sendo conservado e cuidado; ainda assim, querem fazer parte desse mercado com este modelo de agricultura.
A disponibilidade de subsídios é enorme, mas toda engessada e regulamentada num formato que ainda prevê muito pouco para subsidiar tudo aquilo que defendemos e sabemos que há como benefícios oriundos do sistema plantio direto, agricultura regenerativa ou agricultura conservacionista. Por outro lado, onde pensamos o conceito de um cuidado maior por esse nosso patrimônio estar consolidado, me desaponta profundamente quando conheço novos grupos e pessoas de regiões que considero com um histórico antigo e pioneiro. Há quem nem sequer conhece a história desse processo e mesmo os que conhecem continuam no modelo de sucessão de monoculturas com rentabilidade imediata e também querem fazer parte deste mercado de carbono em expansão.
Estamos completando 50 anos de pioneirismo do sistema plantio direto, desse modelo que pensamos ter mudado todo a nossa agricultura brasileira e mundial, mas que, na realidade, o buraco é mais embaixo. O engraçado é que parece que vivemos em um mundo fechado naquilo que acreditamos e isso não está a impactar ou ampliar o seu efeito ao redor. Onde temos errado? Por outro lado, não é concebível para mim exemplos que citei acima quererem fazer parte de um mercado onde, na minha opinião, o carbono é apenas um dos indicadores que mostra a sustentabilidade e a resiliência do modelo de agricultura que está sendo empregado. É necessário mais, muito mais!
De qualquer forma, para que este indicador possa existir, todo um trabalho de manejo, culturas de cobertura, cuidado e redução no uso dos insumos químicos são imprescindíveis para trazer a vida de volta ao solo e ao ambiente, dando condições para essa vida fazer o seu trabalho de ciclagem do carbono. As plantas, os microrganismos e muitos organismos invertebrados atuam como um filtro natural do carbono.
Uma diversidade enorme de biomoléculas como carboidratos, proteínas e lipídios é produzida devido ao processo biológico de fixação de carbono por meio da fotossíntese e da atividade biológica no solo. Mas reitero que tudo isso é apenas possível se o impacto sobre o solo for reduzido e ele for protegido e alimentado. Não há outro caminho, independente do modelo de agricultura a ser empregado (orgânico, convencional, natural, agroecológico, regenerativo, intensivos, pastoreios, sistema integrados, etc.) ou dos tipos de culturas (perenes ou anuais, cereais ou horticulturas, etc). Quem será que está a viver um conto de fadas nesses diferentes modos de agricultura? Porque, afinal, podem até encher o bolso agora, mas a natureza não aceita propinas.
Seis diferentes vias fotossintéticas e algumas vias não fotossintéticas para fixar o CO2 atmosférico foram relatadas em diversas espécies de plantas e micróbios, como bactérias, fungos, leveduras, algas, etc. As algas são o micróbio mais potente na utilização de CO2 e a fixação biológica de carbono em comparação a outros micróbios; são amplamente utilizadas em larga escala industrial para a produção de biocombustíveis. A produção de biocombustível de algas usando CO2 capturado é o melhor método produtivo para reciclar e reduzir o CO2 atmosférico.
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