Coluna Zadra responde, escrita pelo zootecnista Alexandre Zadra.3
Tenho vacas Girolando meio-sangue. Gostaria de saber qual raça você indica para produzir bezerros de corte para venda. Estou usando Brahman e Senepol. Você acha que o Angus iria bem nessas vacas? Eduardo Dias – Sul de Minas Gerais.
A decisão de uso de raças no cruzamento industrial deve ser fundamentada pelo mercado o qual se deseja atingir, clima, manejo nutricional e raça das matrizes de cada rebanho. Caso o mercado local busque animais mais adaptados, as raças zebuínas, como o Brahman, e os taurinos tropicais, como é caso do Senepol, são ótimas opções para se produzir animais rústicos, pois serão 3/4tropicais.
Se você pensa fazer um animal de maior porte, o Brahman é o ideal, pois ele produz carcaças mais musculosas e de grande porte, sendo bezerros azebuados impressionantes. Já no caso do Senepol, você produzirá uma progênie de menor porte, ¾ taurinos, também com pelo zero, ou seja, muito adaptada ao calor, própria para invernistas que procuram carcaças mais precoces e pretendem produzir carne com maior maciez.
Caso o mercado sinalize maior valorização para animais taurinizados, no entanto, com maior metabolismo, a primeira opção é o Bonsmara, pois nascerão bezerros tricross (75% de sangue taurino) com 100% de heterose, além de carne muito macia. Também seriam ótimas opções o Canchim, Braford, Brangus e Santa Gertrudis.
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Zadra, faço cruzamento há muitos anos inseminando minhas vacas Nelore com touro Limousin. Sempre vendi bem meus bezerros. De um tempo para cá, os compradores têm pedido para eu inseminar com Angus. Em sua opinião, por que isso ocorre? Devo mudar? Qual vantagem e desvantagem eu teria ao trocar Limousin por Angus? Gerson Negrini de Paula – Bolívia.
O mercado de cruzamento industrial, no Brasil na década de 1990 e no início dos anos 2000, valorizava demais as raças de dupla musculatura, que produzem animais bem musculosos. Dessa forma, raças como Limousin, Blonde D’Aquitaine e Charolês de linhagem francesa eram muito procurados para se fazer animais com alto rendimento carcaça, atendendo aos frigoríficos que não exigiam ótimo acabamento de carcaça. A partir de 2000, as vendas de sêmen Angus começaram a dominar. Isso se explica pelo fato desse britânico produzir, no cruzamento com a vaca Nelore, animais mais precoces no acabamento de carcaça.
Portanto, creio que o mercado, na Bolívia, tenderá a diminuir para animais muito musculosos, sem acabamento, da mesma forma que ocorreu por aqui. A tendência é o aumento no uso de sêmen Angus nas vacas zebuínas, o que traz duas vantagens para quem faz o ciclo completo; temos um macho mais bem terminado, sendo um casamento perfeito entre uma raça britânica de menor porte e a Nelore, que possui fisiologia mais tardia. Ou seja, você tem ótima complementariedade (ou acasalamento) entre raças de portes distintos, produzindo carcaças que se encaixam no mercado frigorífico.
A outra grande vantagem é na fêmea, sendo essa F1 Angus/Nelore apelidada de “Rainha da pecuária”, devendo sempre ser utilizada como matriz, pois é muito precoce, emprenhando cedo, aos 14 meses de idade, e desmamando o primeiro bezerro aos 24 meses. Essa primípara F1 pode ser abatida após a primeira cria, pesando em torno de 480 a 500 Kg de peso vivo. Muitos frigoríficos pagam prêmios pela qualidade de carne da F1 Angus/Nelore com até 30 meses de vida.
Assim, recomendo que você use, pelo menos, uma parte de sêmen Angus nas suas matrizes Nelore para atender aos dois mercados e que continue usando o Limousin em outra parte das vacas, assim, atendendo ao mercado de bezerros que procura por ótima musculatura e altos rendimentos de carcaça.