Para oferecer assistência técnica, incentivos e financiamento de projetos que aliem maior produtividade para a agropecuária associada à conservação da biodiversidade do bioma Pampa, o projeto Alianza Mais celebrou, na Expointer, as duas primeiras contratações de linha de crédito com incentivos a fundo perdido.
Os dois contratos somam R$ 2,25 milhões de crédito e contemplam investimentos para melhoria do campo nativo, aquisição de equipamentos e melhorias em propriedades rurais localizadas nos municípios de Alegrete e Dom Feliciano.
O projeto é uma parceria entre a Alianza del Pastizal e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).
A iniciativa prevê investimentos de 7 milhões de euros (aproximadamente R$ 40 milhões) ao longo de cinco anos em favor de produtores, incluindo mulheres e jovens rurais, comprometidos na conservação dos campos nativos do Pampa.
Desta forma, busca contribuir com os desafios das mudanças climáticas.
Recuperação de pastagens naturais
Do total de investimentos previsto para o projeto Alianza Mais, 2 milhões de euros (cerca de R$ 10 milhões) têm origem em aporte do Fundo Francês para o Meio Ambiente Mundial (FFEM), viabilizando os incentivos aos financiamentos e outras iniciativas que o projeto passou a executar desde outubro do ano passado.
Um dos contratos é destinado para correção de solo, adubação e sobressemeadura de forrageiras de inverno. A finalidade é aumentar a produtividade e conservar a vegetação nativa na propriedade da Família Louzada, em Alegrete.
O financiamento é de R$ 1,5 milhão e contempla, ainda, a aquisição de equipamentos, melhorias na propriedade e demais custeios associados ao projeto.
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“Essa parceria tem sido um divisor de águas. Estou na quinta geração de pecuaristas do Alegrete e temos um compromisso muito grande em produzir com preservação do bioma Pampa”, destacou a pecuarista Martha Santos Louzada.
O contrato de R$ 750 mil, firmado com o engenheiro agrônomo Gélio Medeiros de Andrade, também é direcionado para renovação do campo nativo e reformas das instalações.
O foco principal está no aumento da produtividade dos campos nativos para a criação bovina. Igualmente associado à Alianza del Pastizal, o pecuarista de Dom Feliciano destacou a capacidade de resiliência das pastagens do Pampa diante dos eventos climáticos.
“Tivemos mais de 700 milímetros de chuva em três dias e bastou a luminosidade voltar para o campo ressurgir com força”, relatou Andrade.
O diretor de Planejamento do BRDE, Leonardo Busatto, afirmou que as primeiras operações do projeto Alianza Mais são uma síntese da atuação do banco em toda a região Sul.
“São iniciativas que aliam o crédito à assistência técnica aos produtores, o que amplia nossa atuação em favor do desenvolvimento sustentável”, frisou Busatto.
A celebração contou, ainda, com as presenças dos diretores do BRDE de Santa Catarina, João Paulo Kleinübing (Financeiro) e Mauro Mariani (Recuperação de Créditos), e do Paraná, Heraldo Alves das Neves (Administrativo).
Ações no bioma
O diretor técnico da Alianza del Pastizal, Michael Carrol, destacou que os primeiros funcionamentos do projeto são resultado de um esforço iniciado há quase duas décadas em defesa do bioma.
“Trata-se de uma parceria que traz um modelo inovador, aliando preservação com ganhos de produtividade. Torço para que na próxima Expointer possamos celebrar mais operações”, disse Carrol.
Boas práticas em pecuária
Além das linhas de crédito, o projeto promove a adoção de boas práticas de produção pecuária a todos os membros Alianza del Pastizal e, atualmente, fornece assistência técnica a 100 produtores em 28 municípios, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RS).
O Alianza Mais também realiza monitoramento de avifauna, buscando avaliar as condições de conservação das propriedades e validar as técnicas de produção sustentável difundidas. Na primeira campanha de monitoramento do projeto, foram 16 propriedades monitoradas. Foram registradas 203 espécies de aves, das quais 69 são exclusivas dos campos nativos, além de oito espécies de interesse especial para a conservação (ameaçadas ou quase ameaçadas de extinção).
Bioma Pampa
As pastagens nativas do Cone Sul da América do Sul chamadas de “Pampa” ocupam uma área de cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados, distribuídos entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Eles abrigam fauna e flora excepcionais, uma fonte única de variabilidade genética.
No entanto, a perda de mais de 2 milhões de hectares nos últimos 15 anos, devido principalmente à expansão de monoculturas como a soja, traz ameaças ao bioma Pampa. A sua preservação requer soluções que envolvam atividades capazes de gerar receitas para os produtores, minimizando os impactos ambientais e preservando a biodiversidade.
Fonte: BRDE