Coluna Palavra de Produtor, escrita pelo engenheiro-agrônomo em Tangará da Serra/MT, especialista em administração de empresas, autor do livro Reflexões de um Alemão Cuiabano, Rui Alberto Wolfart.
Há sete décadas a agricultura brasileira passou a ser escrita e definida por pesquisadores do porte de Johanna Döbereiner, Ana Maria Primavesi e agricultores como Herbert Bartz e Clodoveu Franciosi. Se a jornada começou no Sul com sua agricultura de clima temperado, foi no Centro-Oeste que tem acontecido a potencialização dos resultados da investigação científica para a estruturação de um modelo de produção sustentável em ambiente tropical. É uma longa, mas exitosa marcha, que diminui crescentemente a importância do modelo desenvolvido por Borlaug, e a produção continua se expandindo de forma notável.
Corria a safra 1997/98; a agricultura de Mato Grosso vivia impasses tecnológicos e perda brutal de renda. Apresentava-se como alternativa a produção orgânica de soja, demandada pelo mercado europeu com preços remuneradores. Foi o início de uma jornada de conversão no modelo de produção agrícola, exemplificado por Franciosi que, passados 25 anos, conduz com a família um empreendimento agrícola de grandes dimensões cultivadas com soja, milho, algodão, entre outras, valendo-se de um receituário de insumos biológicos, que é de domínio público, natural e não patenteável, haja vista a legislação brasileira.
A produção e a utilização de conhecidos organismos vivos, como “insumos agrícolas”, mudaram pensamento, planejamento de safra e obtenção de resultados produtivos e ambientais, desembocando naquilo que os mercados crescentemente vêm exigindo. Exemplificando: a condução das lavouras apropria insumos “biológicos” compostos por bactérias, fungos e vírus, que levam nomes científicos desconhecidos pela maioria da população para as mais diversas finalidades.
Assim, as culturas utilizam-se de microrganismos: fixadores de nitrogênio; solubilizadores de fósforo e potássio; indutores de resistência à seca; condicionadores de solo; promotores de crescimento; nematicidas; inseticidas para combater percevejos, mosca branca, pulgões, ácaros, lagartas; combate às doenças de solo.
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Associando-se ao uso desses organismos biológicos específicos, há uma frente conduzida por Rogério Zart, de Mato Grosso do Sul, que vem disseminando as técnicas denominadas de “agricultura regenerativa”, que os Franciosi também empregam com sucesso, transformando o fraco, limitado e improdutivo Cerrado brasileiro de outrora em um novo ambiente para a produção sustentável de alimentos, com 5% a 6% de matéria orgânica nos solos de suas propriedades. Significa um ambiente adequado dessas terras para que microrganismos se desenvolvam sob a ótica da agricultura biológica/regenerativa para os cultivos com potencialização de seus efeitos benéficos.
Apesar dos anos de produção desses insumos biológicos “on farm”, isto é, “nas fazendas” – com técnicas, técnicos e equipamentos – pairam nuvens sobre essas conquistas pelas discussões no Congresso Nacional por uma legislação restritiva à sua produção no campo, principalmente pelos pequenos. O que começou como um caso de sucesso de produção transparente, segura e democrática corre o risco de ser restringida pela cupidez de segmentos industriais.
Para isso, os legisladores precisam estar atentos a mais essa tentativa de captura da renda dos agricultores brasileiros, ouvindo suas representações e a Embrapa.
Em time que está ganhando não se mexe. O Governo Federal, através dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, precisa unir forças para defender essa boa causa e tecnologias. Também é desses ministérios a oportunidade para vender a imagem dessa produção sustentável, com escala, ao mercado global. Afinal, quais outros países podem apresentar esse conjunto de tecnologias e insumos em suas produções agrícolas?






