A pecuária vive um dilema na reprodução animal há bastante tempo e a busca de esclarecimentos neste tema poderá facilitar o entendimento de decisões futuras.
Uma pergunta que é feita frequentemente aos especialistas que trabalham com genética bovina é: qual sistema de reprodução é o melhor? Touro ou sêmen? Talvez, hoje, se tenha uma resposta.
É compreensível a recorrência desse questionamento, pois muitas são as dúvidas que permeiam as duas técnicas, principalmente no que tange à inseminação artificial.
A primeira resposta que vem à cabeça é política: depende… Pois são muitos os fatores que envolvem essa tomada de decisão.
A apresentação de algumas planilhas referentes ao custo de produção nos dois sistemas produtivos – e que estão publicadas no decorrer deste artigo – foi levantada no momento vivenciado pela atividade no contexto atual de mercado.
Elas, evidentemente, terão variações conforme a região onde uma fazenda está localizada, já que estamos falando de um país continental, pois, além da dimensão territorial, há outras características muito peculiares em regiões específicas. Ao analisar o material apresentado, algumas observações devem ser consideradas, conforme será visto a seguir.
- Este material foi desenvolvido frente a um raciocínio de estabelecer um número específico de matrizes (400 vacas) e um tempo de trabalho pré-determinado (quatro anos). Somente com esses parâmetros em mãos será possível considerar algumas variações nos cálculos;
- Também em virtude da utilização dos touros por um período mínimo de quatro anos, precisou-se estabelecer um raciocínio de depreciação e diluição de custos, bem como estabelecer créditos quando isso fosse possível;
- Atenção também para o fato de que foi assumido que não ocorreu nenhuma perda (óbito) de animais e que os equipamentos permanentes foram utilizados apenas durante os quatro anos propostos.
Pois bem, após a comparação de valores entre os dois sistemas de reprodução, parece óbvio, à primeira vista, qual deles poderia ser escolhido por uma fazenda.
Vale ainda ressaltar que, além dessa diferença financeira, existem outros fatores que favorecem a tomada de decisão a favor da inseminação artificial, como o controle das doenças venéreas e a velocidade do melhoramento genético, entre outros pontos relevantes.
Avaliando-se os números das planilhas de forma simplista e imediata, a escolha pelo sistema de Inseminação Artificial seria óbvia, ainda mais depois da análise dos valores apresentados, porém não é tão simples chegar a uma decisão fácil assim.
Por que isso? Com base na experiência em vários programas de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), foram identificados vários insucessos com o uso da inseminação artificial por inúmeros fatores, entre os quais podemos destacar os protocolos mal executados, o descontrole no programa sanitário, as falhas no manejo, a contratação de mão de obra desqualificada e a utilização de sêmen bovino de baixa qualidade.
A IATF é uma técnica multidisciplinar e deve ser tratada como tal, para que se consiga atingir os objetivos estabelecidos.
Muitas vezes, a adoção de touros como sistema único de reprodução em uma propriedade dá-se em virtude de situações específicas daquela fazenda em particular. Pode-se citar algumas delas:
- Localização da propriedade;
- Estrutura física para contenção e manejo dos animais;
- Capacitação e / ou disponibilidade de colaboradores diretos ou terceirizados;
- Questões gerenciais que impossibilitam o uso de biotecnologias reprodutivas.
A pecuária tem a possibilidade de começar a mexer nesse cenário, utilizando mais a inseminação artificial no sistema de produção. Entretanto, para que isso seja possível, é imprescindível o pecuarista fazer algumas mudanças nos processos.
Poderia dizer que a principal delas passa pela equipe (pessoas), desde a parte técnica à operacional e gerencial, sempre respeitando as condições específicas das propriedades.
Hoje, o produtor tem em mãos três sistemas possíveis de serem implementados na fazenda, obviamente a depender das condições produtivas em cada realidade:
1 – Sistema exclusivo de monta natural (touro)
2 – Sistema misto (inseminação artificial associada ao uso de touros)
3 – Sistema exclusivo de inseminação (IATF)
Para cada sistema, há postura gerencial e operacional diferente, podendo uma delas ser a ideal naquele momento em que a propriedade se encontra, porém nada impediria, com o passar do tempo e com o domínio da técnica, optar por uma ou outra que gerasse o melhor resultado.
Cada uma das opções apresenta vantagens e limitações; cabe a cada criador, por meio dos recursos disponibilizados e já comentados, decidir qual deles seria viável de implantar na estação reprodutiva que se aproxima.
Ainda respondendo ao questionamento de qual sistema seria o melhor, este artigo deixa claro que depende das condições apresentadas em cada situação para se desenvolver o trabalho. Porém, uma coisa é unânime a todos que perseguem a produtividade: é imprescindível produzir mais, melhor em menos tempo e com o menor custo “possível”.
O sistema “Exclusivo de Monta Natural” predomina na pecuária de corte brasileira. Os números apontam para seu uso na casa de 85% das matrizes. Não se consegue ter uma ideia muito precisa em virtude do “Sistema Misto” que, muitas vezes, é praticado nas fazendas de gado de corte.
O “Sistema Exclusivo de Inseminação” também não possui uma representação fidedigna, pois, na maioria dos programas de reprodução, as fêmeas submetidas à IATF fazem repasses com touros.
Este panorama nos mostra o quanto falta precisão. Enquanto essa situação permanecer, ficará difícil identificar os principais gargalos da pecuária e atacá-los de forma cirúrgica.
Provocar mudanças deve ser o objetivo principal; apenas assim temos a possibilidade de tornar o Brasil, além do maior produtor de proteína vermelha do planeta, também no maior produtor de carne de qualidade superior.
Não seria surpresa alguma afirmar que essas planilhas irão provocar muitos questionamentos sobre os valores e as descrições apresentadas.
Por esse motivo, deixo um e-mail à disposição de quem quiser contribuir para o aperfeiçoamento dessa discussão e possíveis correções. Com isso, melhoraremos a interpretação deste setor tão importante para a economia nacional.
¹Antônio Cabistani, também conhecido por Tonho Cabistani entre os criadores, é colunista da Revista AG PEC e proprietário da Cort Genética – E-mail: atendimento@cortgeneticabrasil.com
3 Comentários
Vale ressaltar que na modalidade”monta natural” temos os touros como vetores de doenças reprodutivas, as quais pucham para baixo os índices positivos de prenhez e deixando o rebanho mais vulnerável com os passar do tempo
Seus cálculos consideram apenas 1 touro para 25 vacas. Hoje, é tranquilo usar 1:50. O melhor método é o duplo: inseminação artificial com tempo fixo + repasse com touros. Não consegui enviar meu cadastro pois não o aceitaram (31)99276 3454.
A INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL, DEVD SER INTRODUZISZ NAS FAZENDAS DE CORTE E LEITE.
É A BIOTECNOLOGIA MAIS VIAVEL PRA MUDAR A REALIDADE DE QUALQUER PECUARISTA.