Coluna Total Clima, escrita pela metereologista, consultora de clima para empresas agrícolas, palestrante e com experiência em comunicação multimídia, participante do programa A Hora do Grão, Cátia Valente.
A fase fria do Oceano Pacífico Equatorial é passado e, atualmente, é consenso que estamos sob a condição de normalidade climática. A previsão probabilística dos institutos norte-americanos IRI (Instituto de Pesquisas Internacionais da Universidade da Columbia) e CPC-NOAA (Centro de Previsões e Clima da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) indica que a neutralidade climática vai predominar durante o outono e o início do inverno no Hemisfério Sul. A probabilidade é de uma configuração do fenômeno na primavera. No entanto, o forte aquecimento perto da América do Sul pode induzir a uma evolução mais rápida em direção ao El Niño.
No Brasil, um El Niño tem influência direta no clima, especialmente nas regiões Sul e Nordeste e, dependendo da intensidade e da época do ano em que o fenômeno atua, podemos observar chuvas abundantes nos estados do Sul e secas severas na região Nordeste. Exatamente o observado em 2015/16, quando tivemos a última atuação do El Niño.

Ainda é cedo para afirmar que intensidade este novo fenômeno deve atingir, mas, conforme as águas estão aquecendo ao longo da linha do Equador, podemos esperar um fenômeno pelo menos de moderada intensidade se as condições seguirem nesse ritmo acelerado.

Enquanto estamos sob a condição de normalidade climática, o que vem predominando são as condições normais esperadas para esta época do ano. Porém, ainda com uma atmosfera tentando se encaixar neste novo padrão de aquecimento. Ou seja, estamos em pleno outono, e o esperado é o aumento da frequência de chuvas nos estados do Sul, por conta da passagem de frentes frias, a diminuição das precipitações nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, marcando o início da estação seca (inverno) e a atuação da zona de convergência intertropical (ZCIT), trazendo chuvas mais concentradas no norte da região Nordeste.
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Para maio, a tendência ainda não é muito diferente do que vem sendo observado em abril. A chuva ainda é irregular nos estados do Sul, com déficit em boa parte do Rio Grande do Sul. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, as precipitações seguem concentradas nas áreas mais ao sul devido à passagem de frentes frias mais oceânicas, enquanto a parte centro-norte já começa a apresentar um padrão mais seco.
Nas regiões Norte e Nordeste, a tendência é de que as precipitações reduzam em relação aos últimos meses. Quanto às temperaturas, o esperado é que os termômetros marquem valores acima da normalidade em todo o Brasil. Lembrando que as massas de ar polar começam a entrar de forma mais frequente e ativa, como é normal para esta época do ano, mas o frio deve perder força rapidamente.

Para os próximos meses, a probabilidade é que as precipitações fiquem em torno da normalidade em grande parte do Brasil, com volumes abaixo no setor norte da região Nordeste. Ou seja, ainda que as águas superficiais do Pacífico Equatorial estejam mais aquecidas, a atmosfera responde à condição de neutralidade climática neste próximo trimestre. Por enquanto, tudo indica que a influência do El Niño deve se dar ao longo do segundo semestre de 2023.